Manaus, 25 de abril de 2024
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Manaus, 25 de abril de 2024

Cidades

Ex-morador de rua tem vida restaurada e procura por família

O ex-morador de rua, Jonilson, está sendo assistido pela Prelazia de Itacoatiara, mas não lembra do nome completo e nem de seu passado

Ex-morador de rua tem vida restaurada e procura por família

“Ele não fala nada sobre si. Aliás, quase nem fala, mas nos entende quando falamos com ele”, relata a secretária da prelazia de Itacoatiara, Joelma Rolim, sobre Jonilson, o homem mora há quase 30 anos pelas ruas do município de Itacoatiara, a 270 quilômetros de Manaus, e que vem recebendo apoio do Projeto “Estava com fome” da Associação Dom Jorge Marskell, que conta com o apoio da Igreja Católica e de outras Igrejas, de Órgãos Públicos e entidades da sociedade civil.

O homem é mais conhecido pelos moradores da cidade por um apelido, o ‘Cagado’, se você já o viu, irá se surpreender com esta história e ficará comovido.

Há aproximadamente quatro meses, a Prelazia de Itacoatiara acolheu Jonilson na Cúria, como hóspede, a pedido da Associação Dom Jorge, para ajudá-lo na recuperação de uma cirurgia a qual foi submetido.

À princípio, segundo a secretária, os planos eram para que o homem ficasse na casa por três meses, tempo previsto para sua recuperação. No entanto, o projeto teve que ser mudado por um motivo: Jonilson não consegue lembrar o nome completo, algo que vem prejudicando a procura por sua família.

À princípio, segundo a secretária, os planos eram para que o homem ficasse na casa por três meses, pois esse é o máximo que o instituto consegue manter uma pessoa com recursos próprios. No entanto, o projeto teve que ser mudado por um motivo: Jonilson não consegue lembrar o nome completo, algo que vem prejudicando a procura por sua família.

(Bruno Pacheco/Amazonas1)

Os indícios é que Jonilson sofra de autismo (transtorno de desenvolvimento grave, que prejudica a capacidade de um indivíduo se comunicar e interagir com outras pessoas) ou esquizofrenia (doença psiquiátrica que se caracteriza pela perda do contato com a realidade). 

Mas, quem é Jonilson? E por que ele não lembra mais de seu nome completo e de sua família? Aliás, por que ninguém da sua família, em tantos anos, procurou por ele?

O Amazonas1 foi atrás de pessoas que poderiam ter convivido com ele antes dele virar um morador de rua e entrar para o mundo das drogas.

A vida antes da rua

A professora aposentada, Dona Suzeth Maciel, 78, disse ter conhecido Jonilson antes dele ser morador de rua e se viciar em bebidas alcoólicas e drogas. Segundo ela, o homem vivia mais ao interior do Amazonas, próximo as comunidades do Rio Arari, em Itacoatiara, há aproximadamente 40 anos. Lá, ele morava em uma casa simples, humilde e ainda de madeira, mas não há informações se a família vivia com ele.

Durante a semana, ele era professor de matemática e amava tanto a profissão de ensinar, que se disponibilizava aos finais de semana para ministrar aulas de catequese, da Igreja Católica da comunidade.

Os anos foram passando e a vida de Jonilson mudou por completo. De acordo com relatos de diversos moradores de Itacoatiara, ele apareceu no município perambulando pelas ruas pedindo ‘esmola’. Não se sabe como ele surgiu na cidade e nem em que ano, somente que ele mora na região há aproximadamente três décadas.

O dinheiro que ele pedia, era usado na maioria das vezes para comprar bebidas alcoólicas, mas há quem o via comprando drogas e poucas são as vezes que o dinheiro era usado para comida.

No princípio, ele costumava conversar com a população. Dona Suzeth explica que a prosa com Jonilson era sempre proveitosa, pois ele tinha a fala bonita e era perceptível a inteligência oriunda de seus anos como educador. Fato confirmado por outros itacoatiarenses que também conversaram com o ex-morador de rua antes dele esquecer de seu nome completo.

Ajuda humanitária

A Associação Dom Jorge Marskell, entidade sem fins lucrativos, fundada em 2001 em homenagem às ações do Bispo Dom Jorge Marskell (falecido há 21 anos), em Itacoatiara, desenvolve há alguns anos projetos para as comunidades mais carentes, incentivando a educação e a cultura, vem trabalhando, também, com ações em prol de pessoas que vivem em situação de rua.

Dom Ionilton, Bispo de Itacoatiara (Bruno Pacheco/Amazonas1)

Unindo-se a causa dos mais necessitados, em 2017 – ano em que Dom Ionilton tornou-se Bispo do município –, a Prelazia de Itacoatiara juntou-se à associação neste serviço humanitário às pessoas em situação de rua.

“Tomei conhecimento do projeto em setembro de 2017, pouco tempo após minha chegada na Prelazia de Itacoatiara. Convoquei uma reunião com algumas entidades e decidimos somar força para ampliar a ajuda à essas pessoas e incentivar o número de voluntários. Desde então, surgiu a vontade de se ter um lugar para, em caso de emergência, pudéssemos acolher as pessoas em situação de rua em Itacoatiara. Por exemplo, em uma noite de muita chuva, elas poderiam vir para o abrigo e se protegerem. Mas, até agora ainda não conseguimos concretizar esse sonho”, explicou o bispo ao Amazonas1. Ele solicita apoio de órgãos competentes.

“Então nós temos esses casos e sabemos que essas pessoas precisam de cuidados médicos e assistência social. O Projeto da Associação Dom Jorge e seus apoiadores leva, todas as noites, de segunda à sexta-feira, alimento para os moradores de rua. Aproveita-se disto para se conversar com eles e saber um pouco de sua história, a fim de conseguir ajudá-los a reencontrarem suas famílias. Nos últimos dois anos, alguns voltaram ao seio de suas famílias”, disse.

Reviravolta e preocupação

Além de fornecer alimento, o Projeto também dá atenção e cuidados médicos sempre que haja necessidade. Desde maio, Jonilson passou a morar na Cúria da Prelazia de Itacoatiara recuperando-se de uma cirurgia, mas ainda é motivo de preocupação.

“Ele foi encontrado com o fêmur quebrado e foi preciso que realizasse uma cirurgia em Manaus. Feito isso, voltou à Itacoatiara e nos preocupamos com seu futuro, pois, onde ele iria morar? Era preciso que tomássemos uma atitude, pois sabíamos que ele voltaria para a rua e não conseguiria cuidar da saúde. Com isso, passou a morar aqui na cúria e passou a receber apoio nosso, da Associação Dom Jorge e de voluntários”, disse Dom Ionilton.

 

Dom Ionilton e Jonilson (Bruno Pacheco/Amazonas1)

Apesar da recuperação ser boa, segundo a avaliação médica, Jonilson ainda não consegue falar. Quando é tentado iniciar uma conversa com Jonilson, ele não responde, mas não age de forma agressiva. O Amazonas1 também tentou falar com ele, sem sucesso.

Raras são as vezes em que Jonilson pronuncia alguma palavra. Ele é mantido na Cúria por meio de doações e recursos próprios da Igreja Católica.

Prelazia de Itacoatiara (Bruno Pacheco/Amazonas1)

“Além da recuperação da cirurgia, se sente que ele também passa por outro processo de recuperação. Ele não consegue falar, não se expressa, mas com a convivência que vem tendo conosco e com as demais pessoas, já consegue balbuciar algumas palavras. E a gente tem um sonho de que ele recupere a memória, para que possamos encontrar sua família”, completou o bispo.

Dúvidas quanto ao nome

Dom Ionilton explicou à reportagem que não é certo que o nome Jonilson seja de fato do ex-morador de rua, pois, não há nenhum registro e nenhum documento.

Então de onde veio o nome?

Há anos atrás quando o homem foi operado mais uma vez, foi solicitado por pessoas que o acompanhavam e por uma equipe médica, que ele escrevesse seu nome em um papel, ele rabiscou ‘Jonilson’. 

Nessa busca por uma referência para encontrar seu nome verdadeiro e a família, o bispo conta que não há informações precisas, mas ainda há esperança, pois a igreja tem recebido notícias de pessoas que o conheceram. 

Esperança

“Compartilhamos em grupos no whatsapp para saber se encontramos alguém da família, mas sem sucesso. Porém, uma pessoa disse que conheceu um Jonilson em uma escola há anos atrás e que se parecia com ele. Nós fomos atrás dessa escola e de fato lá estudaram três Jonilsons”, conta Dom Ionilton.

A Associação Dom Jorge Marskell conseguiu o endereço dessas famílias e agora é aguardar para saber se realmente se trata da mesma pessoa”, disse.

Enquanto a família de Jonilson ainda não é encontrada, o bispo conta que vem se cuidando dele e atiçando sua fala. Por exemplo, hoje já é possível que ele indique que quer comer, tomar café, algo comemorado por todos.

“Nós estamos pedindo a Secretaria de Saúde e a outros órgãos para que forneçam ajuda psiquiátrica e psicológica para que a recuperação dele seja melhor”, pediu Dom Ionilton.

Para quem tiver informações sobre sua família ou quiser ajudar com alguma doação entre em contato pelo telefone (92) 3521-4913/3299 ou (92) 99351-3309 ou compareça ao endereço Rua Barão do Rio Branco, 251, Centro – Itacoatiara.