Manaus, 19 de abril de 2024
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Cidades

Joice Hasselmann pede privatização da Arena Amazônia usando informações controversas

Joice Hasselmann pede privatização da Arena Amazônia usando informações controversas

A deputada federal eleita por São Paulo, jornalista Joice Hasselmann (PSL), do mesmo partido do presidente Jair Bolsonaro, usou sua conta pessoal no Twitter, na tarde desta terça-feira, 19, para se manifestar a favor da privatização da Arena Amazônia. O estádio de futebol foi construído em Manaus para sediar os jogos da Copa do Mundo de 2014, e custou R$ 669,5 milhões. 

Aliada de Bolsonaro, Joice Hasselmann, quer privatizar a Arena Amazônia (Secom)

Hasselmann atribuiu ao Governo do Amazonas uma decisão inexistente sobre a privatização da arena e usou dados contábeis da manutenção do estádio, diferentes dos números oficiais registrados pelos técnicos do governo. 

Defensora ferrenha da privatização de estatais, no Congresso, a parlamentar disse que “Governo do Amazonas “decidiu não privatizar o estádio do Amazonas”, o qual chamou de “elefante branco.” 

Até o momento, o governador Wilson Lima (PSC) não tratou, oficialmente, do assunto nem seus gestores, como confirmou a Secretaria de Estado de Esporte e Lazer (Sejej), responsável por administrar a arena.

A parlamentar afirmou ainda, em sua rede social, que o custo de manutenção da arena chega a R$ 1 milhão ao mês. Segundo a Sejel, a média de despesa mensal com o estádio, no ano passado, foi de, aproximadamente, R$ 750 mi, o equivalente a R$ 9 milhões ao ano. 

Mesmo com uma verba de R$ 101,9 mil por mês para contratar até 25 funcionários em seu gabinete, a deputada do PSL não buscou pesquisar informações atuais sobre o balanço financeiro da arena e questionou, via Twiter, os números contábeis do estádio em relação a 2018, finalizando o post com a hashtag #PrivatizaJá.

Déficit se manteve

Apesar de o prejuízo acumulado ter aumentado de R$ 22 milhões para R$ 29 milhões, no período de 2015 para 2018, as despesas de manutenção da arena praticamente se mantiveram, como informou a Sejel.

Em 2016, a diferença entre a arrecadação e despesa com o estádio era de R$ 5,4 milhões e foi para R$ 8,2 milhões, no ano posterior, resultando em um aumento de 50%, igual ao número divulgado por Joice Hasselmann, no seu Twitter. 

Mas a variação do déficit da manutenção da arena de 2017 para 2018, foi de 2,4%, segundo a Sejel, e não chegou a 60%, como previsto pela deputada. Em 2018, o governo fechou uma diferença negativa com o estádio de R$ 8,4 milhões, cerca de R$ 200 mil a mais que no ano anterior.  

De acordo com a Sejej, a Arena da Amazônia, atualmente, precisa passar por obras de reparos como substituição de equipamentos quebrados (geradores, baterias, vidros de proteção, refletores, bancos de reserva, elevadores), além de sinalizações obrigatórias e grades danificadas. Isso tudo a um custo de, aproximadamente, R$ 4,7 milhões.

‘Elefante’ e a corrupção

Apesar de trabalhar em Brasília, Joice Hasselmann não citou a arena construída no Distrito Federal, considerada por especialistas como um dos principais “elefantes brancos” deixados de “legado’ da Copa de 2014, o Estádio Nacional Mané Garrincha. O prejuízo anual de manutenção do estádio é de quase R$ 9 milhões.

Ex-governadores do Distrito Federal presos por desvios na obra do Estádio Mané Garrincha (Reprodução)

Com capacidade para 72 mil pessoas, o estádio foi o mais caro da Copa, chegando a custar quase R$ 2 bilhões. Atualmente, o ex-governadores do Estado José Roberto Arruda (PR) e Agnelo Queiroz (PT) e o ex-vice-governador de Brasília Tadeu Filippelli (PMDB) estão presos suspeitos de participar de um esquema de superfaturamento de até R$ 900 milhões na arena – a investigação faz parte da Operação Panatenaico da Polícia Federal.

Um levantamento realizado pelo Portal da BBC Brasil apontou outros estádios de futebol que geram grande prejuízo aos cofres públicos por não terem público para assistir os jogos regionais: além da Arena Amazônia e o Estádio Mané Garrincha, a reportagem cita a Arena Pantanal (MT) com prejuízo anual de R$ 8,3 milhões; Arena das Dunas (RN), com um déficit de R$ 6,9 milhões ao ano; e Arena Pernambuco (PE), com diferença negativa, por ano, de R$ 7,9 milhões. 

 

Colaborou Sabrina Oliveira – Agência Am1