Manaus, 16 de abril de 2024
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Por que isolamento?

"O presidente deveria ser o líder do combate à covid-19 e líderes não ressaltam divergência, líderes, em especial nos momentos de crise, buscam construir convergência e unir o povo"

Por que isolamento?

Ontem (sábado, 09) o Brasil alcançou a trágica marca de 10 mil mortos por covid-19. O Presidente da República optou por passear de jetski e ao encontrar com apoiadores em uma lancha disse: “70% vai pegar. Não tem como. Isso é neurose”.
A frase dita pelo presidente é muito significativa da distorção do pensamento de alguns sobre a forma de combate ao coronavírus. São muitos os que acham que, independente de isolamento ou não, milhões de brasileiros serão contaminados e milhares morrerão. Há uma verdade parcial nessa constatação.
É verdade que o isolamento não impedirá que muitas pessoas sejam contaminadas, mas não é esse o objetivo principal. O objetivo principal do isolamento é que muitas pessoas não sejam contaminadas ao mesmo tempo, colapsando a capacidade de atendimento da rede de saúde.
É o que costumamos ouvir como “achatamento da curva”, ou seja, ainda que a contaminação perdure um pouco mais, ela não tem um pico muito grande e a quantidade de contaminados precisando de leitos de enfermaria ou UTI fica dentro da capacidade de atendimento.
Manaus é um bom exemplo pra entender isso. Muitos perguntam porque Manaus vive uma situação tão grave por conta do coronavírus.
Tente imaginar um gráfico em que a haste vertical indica a capacidade de atendimento da estrutura de saúde e a base horizontal o número de contaminados.
No Amazonas a marca da capacidade de atendimento era baixa e já vivia sérios problemas, mesmo antes da pandemia. Portanto, aqui, era fundamental o isolamento para que não tivéssemos muitos pacientes precisando de leito ao mesmo tempo. Não foi o que aconteceu. A maioria das pessoas ignorou a ordem de isolamento social e com isso o contágio foi muito rápido. Acrescente a isso, o fato de que a ausência de EPIs para os profissionais de saúde no início da pandemia, contaminou muitos deles e os tirou do atendimento, rebaixando ainda mais a capacidade de atendimento da rede.
Com esse cenário estava construída a tempestade perfeita para o colapso que vivemos. Poucos leitos de enfermaria e UTI, profissionais da saúde afastados por contaminação e muita gente sendo contagiada e precisando de atendimento ao mesmo tempo.
O debate sobre isolamento não pode ser ideologizado ou politizado. Parece que quem defende isolamento é contra o presidente e quem apoia o presidente precisa ser contra o isolamento. Isso é uma grande tolice.
Por fim, é preciso dizer que o presidente tem todo direito de, mesmo não sendo médico, discordar das orientações da OMS, da Associação Brasileira de Infectologia e até do próprio Ministério da Saúde, mas não pode enxergar um inimigo em cada um que discorde dele.
O presidente deveria ser o líder do combate à covid-19 e líderes não ressaltam divergência, líderes, em especial nos momentos de crise, buscam construir convergência e unir o povo.
É hora de união, seriedade e serenidade para proteger a saúde e a vida dos brasileiros combatendo o único adversário que importa: o coronavírus.