Manaus, 18 de abril de 2024
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Brasil

Covid-19: novo estudo reforça que Amazonas atingiu imunidade coletiva

Cientistas dizem que Rio, Manaus e São Paulo têm indícios de que alcançaram limiar de casos, mas risco permanece alto

Covid-19: novo estudo reforça que Amazonas atingiu imunidade coletiva

Foto: Marcio Silva - Portal AM1

Alguns lugares do mundo, entre eles cidades e estados do Brasil, dão sinais de que podem ter alcançado a chamada imunidade coletiva ou de rebanho contra o coronavírus, dizem cientistas. Ela é alcançada quando o vírus não consegue mais continuar a se propagar com força porque não há pessoas vulneráveis em número suficiente para sustentar uma epidemia.

O número de casos diários caiu e não voltou a crescer significativamente por mais de um mês, caso de Rio de Janeiro (apesar da alta na média móvel de óbitos nos dados divulgados ontem), São Paulo e de Manaus, por exemplo. No mundo, Nova York, Londres e Mumbai são exemplos.

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O padrão observado nesses lugares em nada surpreende a biomatemática portuguesa Gabriela Gomes, da Universidade de Strathclyde, na Escócia. Ela é a líder do grupo de epidemiologistas que desde março defende que o limiar da imunidade coletiva para o Sars-CoV-2 é de cerca de 20% — e não de 70%, como indicavam os modelos tradicionais.

Gabriela explica que o limiar não é o mesmo em todos os países e varia até mesmo dentro deles. Principalmente, em países grandes como o Brasil e os Estados Unidos.

A imunidade coletiva é modulada pelo distanciamento social. Não se pode olhar um país como um todo e cada região dentro dele terá um limiar, diz ela.

“Só teremos imunidade coletiva ampla com vacina. Mas a força da pandemia já está reduzida em algumas partes do mundo, como na Europa e em parte da China. Também em regiões dos EUA e do Brasil, onde cada estado deve ser pensado como um país. Estamos mais próximos de voltar à normalidade. É importante que isso seja comunicado às pessoas”, frisa ela.

 

Segundo Gabriela, Manaus, Rio de Janeiro e São Paulo parecem caminhar para a imunidade coletiva. Nesses lugares, o distanciamento social foi limitado ou baixo, não houve rastreamento de contatos. Ainda assim, o número de novos casos caiu e, segundo Gabriela, isso é sugestivo de imunidade coletiva.

Imunidade de rebanho não deve orientar políticas de governo

Cientistas fazem a ressalva de que a imunidade coletiva é um indicador de tendência da pandemia, mas não deve orientar políticas de governo. Até porque países severamente afetados pelo coronavírus, como Espanha e Brasil, não têm mais do que 10% da população infectada, o que faz com que o número de vulneráveis seja imenso.

Infecção persiste, mas se espalha num ritmo mais devagar

Integrante do grupo de Gabriela Gomes, Rodrigo Corder, doutorando do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB/USP), explica que a imunidade coletiva não é o momento em que a infecção acaba, mas, sim, quando ela passa a se espalhar mais devagar.

“E mesmo quando é atingida, o distanciamento social e a máscara são necessários para que continue a reduzir efetivamente e não tenhamos uma subida de casos. Enquanto não temos vacina, o melhor cenário é interromper a transmissão dessa forma”, enfatiza Corder.

Ele acrescenta que se há muitos casos, ocorre uma queda, e, mesmo com o fim das restrições de distanciamento, o número de novas infecções não voltar a subir, pode-se dizer que a imunidade coletiva foi atingida.

“Temos que retomar a nossa vida com cuidado. Voltar às escolas, às empresas, às compras, mas com controle do distanciamento e vigilância sobre surtos”, diz Gabriela.

O modelo de projeção do grupo dela é baseado num cálculo complexo que leva em conta a heterogeneidade da população, isto é, que as pessoas têm graus de exposição (mobilidade, atividade profissional) e suscetibilidade (idade ou doenças pré-existentes, por exemplo) diferentes.

O estudo inicial deles foi com Espanha, Reino Unido, Portugal e Bélgica. Agora, os cientistas se debruçam em outros países, entre eles o Brasil.

Pessoas mais vulneráveis podem acabar mais expostas

A imunidade coletiva pode ser alcançada de duas maneiras: de forma natural, à medida que as pessoas vão se infectando e, supostamente, se tornando imunes, ou com a vacinação. A proporção da população susceptível imunizada que é necessária para atingir a imunidade coletiva é, entretanto, menor quando esta é atingida de maneira natural, uma vez que os mais susceptíveis ou expostos são infectados primeiro.

Para atingir a imunidade coletiva por meio de vacinação, é necessário imunizar uma maior proporção dos suscetíveis, uma vez que não é possível identificar quem são os indivíduos mais vulneráveis. Atingir a imunidade coletiva em um cenário onde o vírus ainda está em circulação não é garantia do fim imediato da epidemia. Mas deixa de haver pessoas vulneráveis em número suficiente para sua propagação por um longo período.

(*) Com informações de O Globo