Manaus, 24 de abril de 2024
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Brasil

Origem do Dia da Consciência Negra remonta a Porto Alegre em 1971

O Dia da Consciência Negra teve sua origem há 49 anos na mesma Porto Alegre onde João Alberto Silveira Freitas, 40, foi assassinado por seguranças do Carrefour

Origem do Dia da Consciência Negra remonta a Porto Alegre em 1971

Celebrado em 20 de novembro, data da morte de Zumbi dos Palmares, para chamar a atenção para os direitos da população negra, o Dia da Consciência Negra teve sua origem há 49 anos na mesma Porto Alegre onde João Alberto Silveira Freitas, 40, foi assassinado por seguranças do Carrefour.

A data, foi oficializada em 11 de novembro de 2011 pela então presidente Dilma Rousseff como Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra e não é feriado nacional, mas sim municipal. Segundo a lei n?10.639 de 2003, a data entrou para o calendário escolar como dia para celebrar o ensino da história e cultura afro-brasileira nas escolas.

Segundo o historiador Dudu Ribeiro, em pelo menos mil municípios do Brasil (cerca de 1/5) há algum tipo de feriado na data, embora isso não ocorra em algumas capitais como Brasília e Salvador -nem Porto Alegre.

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“É interessante pensar como Salvador, a cidade mais negra fora do continente africano, onde cerca de 83% da população autodeclarada é negra, não é feriado, o que demonstra as contradições e complexidades do debate racial no país”, diz.

A escolha do 20 de novembro como dia da Consciência Negra se contrapõe ao 13 de maio, data que marca a abolição da escravatura no país, em 1888, e era, até o início dos anos 1970, o principal dia de comemoração para os negros no Brasil.

Em 1971, um grupo formado por ativistas e militantes negros na capital gaúcha, o Grupo Palmares, vinha questionando a data por ter sido escolhida por brancos.

A proposta de romper com a ideia de liberdade concedida por uma liberdade conquistada, tendo como referência Zumbi dos Palmares, foi vista como subversiva, conta o jornalista e historiador Deivison Moacir Cezar de Campos em sua dissertação de mestrado apresentada ao programa de pós-graduação em história da PUC-RS.

O Palmares contava com figuras importantes do movimento negro como o poeta e professor de letras Oliveira Silveira, Antônio Carlos Cortes e Ilmo da Silva. Em reuniões informais na rua dos Andradas, defendia rever as referências negras na poesia, literatura e artes no país.

Em reportagem publicada em 23 de agosto de 1971 no jornal Folha da Tarde sobre sua primeira atividade pública, o grupo enfatiza que o Palmares “pretende comemorar devidamente todas as datas negras”.

Nos anos seguintes, o grupo ganhou força e conquistou, ainda segundo Campos , uma legitimação social, “o que possibilitou a realização de atividades com maior abrangência e duração”, conforme escreveu em seu texto.

Extinto em 1978, o Palmares só viria seu objetivo se concretizar 33 anos depois, com apoio de outros grupos de ativismo negro.

Para Ribeiro, a demanda pela mudança da data na década de 1970, juntamente com a retomada de um movimento negro unificado, deu novas páginas à história da população negra brasileira, até então contada quase exclusivamente pelos instrumentos de educação formal, em sua maioria brancos.

“O dia é fundamental para incentivar o processo de mudança radical da condição do negro no Brasil, pois a própria abolição formal da escravidão no país foi mais pensada como uma solução econômica modernizante do que um processo de construção de justiça racial e social para as pessoas anteriormente escravizadas.”

Ele acrescenta que a oficialização da data traz contribuições importantes de abolicionistas como Luiz Gama. “Foi também central para a elaboração de um pensamento antirracista, permitindo que se ampliasse para toda a sociedade o entendimento sobre a participação negra no Brasil.”

(*) Com informações da Folhapress