Manaus, 20 de abril de 2024
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Brasil

The Guardian repercute invasão de terra e morte de indígena no Amapá

O site britânico informa que um dos líderes da tribo relatou que as invasões foram encorajadas pelo presidente Jair Bolsonaro

The Guardian repercute invasão de terra e morte de indígena no Amapá

O site britânico The Guardian publicou neste domingo, 28, um artigo sobre o ocorrido na reserva indígena Waiãpi, localizada no Estado do Amapá, onde relatos dão conta de que garimpeiros teriam invadido, na semana passada, a aldeia e assassinado o líder indígena Emyra Waiãpi, de 68 anos.

Com a manchete “Amazon gold miners invade indigenous village in Brazil after its leader is killed” (Garimpeiros invadem aldeia indígena no Brasil depois que líder é morto), a matéria do site The Guardian assinada por Dom Phillips, correspondente no Rio de Janeiro, conta que dezenas de garimpeiros invadiram uma remota reserva indígena na Amazônia brasileira, onde um líder local foi esfaqueado até a morte.

Os garimpeiros teriam assumido o controle de uma vila depois que a comunidade fugiu com medo, disseram políticos locais e líderes indígenas. As autoridades disseram que a polícia estava a caminho para investigar.

The Guardian reporta ainda que a mineração ilegal está em proporções epidêmicas na Amazônia e as atividades altamente poluidoras dos garimpeiros devastam a floresta e envenenam os rios com mercúrio. Cerca de 50 garimpeiros invadiram a reserva indígena Waiãpi, de 600 mil hectares, no Amapá, no último sábado, 27, noticia o site inglês.

Ainda segundo a reportagem, homens foram vistos dias após o assassinato do líder comunitário, Emyra Waiãpi, cujo corpo foi encontrado perto da aldeia Mariry, na manhã da última quarta-feira, 24.

Os indígenas evacuaram a aldeia Mariry e fugiram para a aldeia maior de Aramirã – onde tiros foram disparados no último sábado, 27. Líderes indígenas e políticos locais pediram ajuda policial urgente, temendo um banho de sangue, diz a publicação.

“Os garimpeiros invadiram a aldeia indígena e estão lá até hoje. Eles estão fortemente armados, eles têm metralhadoras. Por isso pedimos a ajuda da Polícia Federal ”, disse Kureni Waiãpi, 26 anos, membro da tribo que mora na cidade mais próxima de Pedra Branca do Amapari, a duas horas de distância e a 189 km da capital do Estado do Amapá, Macapá. “Se nada for feito, eles vão começar a lutar.

“Temos uma situação muito tensa”, disse Beth Pelaes, prefeita de Pedra Branca do Amapari, afirmando que a tribo é muito tradicional e permite apenas visitantes autorizados, conta a reportagem.

Ainda de acordo com The Guardian, a crise foi revelada no sábado por Randolfe Rodrigues, senador pelo Estado do Amapá, que recebeu mensagens de áudio desesperadas de Jawaruwa Waiãpi, um vereador e líder local, pedindo ajuda da polícia e do exército. O cantor brasileiro Caetano Veloso estava entre os que compartilharam o apelo da tribo por ajuda no sábado.

“Peço ajuda às autoridades brasileiras, em nome da dignidade do Brasil no mundo, ouçam esse grito”, disse Veloso em um vídeo gravado na Cidade do México, onde ele está em turnê, conta o Guardian.

O site britânico diz ainda que Kureni Waiãpi disse que o presidente de extrema-direita do Brasil, Jair Bolsonaro, encorajou invasões como essa. “É porque ele, o presidente, está ameaçando os povos indígenas do Brasil”.

Segundo o artigo, o senador Randolfe Rodrigues culpou as repetidas promessas de Bolsonaro de permitir a mineração em reservas indígenas protegidas, onde é atualmente proibida, para a primeira invasão da terra Waiãpi em décadas. Na década de 1970, a tribo foi quase exterminada por doenças depois que suas terras foram invadidas por garimpeiros.

Em 2017, o então presidente Michel Temer se movimentou para abrir a vasta reserva de Renca, terra à qual a tribo pertence e que fica localizada dentro de área de mineração, mas recuou após um protesto internacional.

“O governo de Jair Bolsonaro está encorajando esse conflito, incentivando os garimpeiros a entrar. Suas mãos estão sujas”, disse o senador Rodrigues, publica o site.

O artigo noticia também que, recentemente, Bolsonaro comparou os povos indígenas que vivem vidas tradicionais em suas reservas à de “homens pré-históricos”. No sábado, ele novamente falou sobre as riquezas minerais nas reservas da Raposa Serra do Sol e Yanomami – atualmente inundadas com milhares de garimpeiros no Estado de Roraima, ao norte do Brasil.

“Estou procurando o ‘primeiro mundo’ para explorar essas áreas em parceria e agregar valor. Essa é a razão da minha aproximação com os Estados Unidos. É por isso que quero uma pessoa de confiança na embaixada dos EUA”, disse Bolsonaro, no sábado, segundo o jornal O Globo. Seus planos de nomear o filho Eduardo Bolsonaro, que é deputado federal, como embaixador dos EUA no Brasil, provocaram protestos no Brasil, reporta The Guardian.

Na sexta-feira, 26, o indígena Arawyra Waiãpa e sua esposa avistaram um grupo de homens que eles acreditavam serem garimpeiros em suas plantações perto da aldeia. Tiros foram disparados perto de Aramirã por volta das 18h, horário local, no sábado, mas ninguém ficou ferido. “Acho que os garimpeiros estão atirando para assustar os Waiãpi”, disse Kureni Waiãpi, conforme conta o site britânico.

Ainda segundo The Guardian, policiais federais do Amapá estavam a caminho da área, disse uma porta-voz da Fundação Nacional do Índio (Funai). “Por enquanto não há registros de conflito, embora uma morte tenha sido confirmada, mas não há detalhes das circunstâncias. O lugar é de difícil acesso”, disse ela.

O site The Guardian publicou que o governo do Amapá disse que estava “empenhando todos os esforços para apoiar a polícia federal na investigação” e enviou uma tropa de elite da polícia para acompanhar os oficiais enviados para a área, diz o artigo.