Manaus, 19 de abril de 2024
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Esportes

Times tradicionais no futebol feminino reclamam de chegada dos ‘ricos’

Apenas 15% dos times têm todas as atletas do elenco com carteira assinada.

Times tradicionais no futebol feminino reclamam de chegada dos ‘ricos’

Foto: Reprodução

Vice-campeão em 2018, quando tinha uma parceria com uma associação de futebol feminino da cidade, o Rio Preto Esporte Clube desistiu de disputar o Campeonato Brasileiro este ano. Alegou que não tinha condições de arcar com os custos financeiros para formar um elenco competitivo.

Foto: Reprodução

Um dos motivos citados pela diretoria do time são os salários solicitados pelas atletas, que aumentaram consideravelmente após a inclusão das equipes da elite do futebol masculino. Porém, apenas 15% dos times têm todas as atletas do elenco com carteira assinada.

“Os custos para a disputa estão altamente pesados. O mercado, com a entrada de grandes clubes na disputa, está inflacionado. Os salários solicitados por atletas medianas é superior aos pagos ao masculino [disputa a Série A3 do Paulista, equivalente à Terceira Divisão]. Teríamos grandes despesas com alojamentos, alimentação, transporte, hospedagem, entre outros, fatos que analisados na ponta do lápis nos fizeram rever nossas posições”, disse o Rio Preto através de nota.

Contudo, apesar da entrada de clubes da elite masculina no Brasileiro da modalidade, a disparidade de valores entre as diferentes equipes de uma mesma instituição ainda é muito grande.

No Corinthians que foi campeão brasileiro feminino no ano passado, um dos clubes com maior investimento no feminino, a folha salarial da equipe gira em torno de R$ 170 mil por mês, com as atletas ganhando, em média, R$ 7 mil. No time treinado por Fábio Carille, a folha mensal do elenco é de cerca de R$ 10 milhões.

A reclamação do clube de São José do Rio Preto, interior de São Paulo, é compartilhada por outras agremiações.

“A nossa realidade é bem diferente do Sul e Sudeste. Não temos apoio financeiro e está difícil fazer bons times com a chegada das equipes de camisa, que aliciam nossas atletas com salários maiores. Não sei se essa situação para o futuro será boa para o futebol brasileiro porque os clubes que revelam as atletas vão ficar desestimulados”, disse Paulo Roberto Arruda, presidente do Vitória de Santo Antão, cidade localizada a cerca de 50 quilômetros de Pernambuco.

O clube está na Série A do Brasileiro feminino e tem parceria com o Santa Cruz.

Outro motivo citado como preocupante é o pequeno número de jogadoras para atender todas as equipes.

“Se os dirigentes entenderem que o futebol feminino é interessante, a tendência é esses times diminuírem. Eu vejo isso porque não temos material humano para 52 equipes. Com 36 equipes na Série B, vamos ver resultados de décadas passadas, como 10 a 0, 15 a 0”, disse Emily Lima, técnica do Santos e que já comandou a seleção brasileira.

Na Série B do torneio, que começa no próximo dia 27, o Aliança, atual campeão goiano, também demonstra preocupação.

“Na minha opinião, os times sem camisa [equipes que não tem futebol masculino] vão acabar. Somos um time 100% amador, trabalhamos com meninas desde os dez anos e é tudo de graça para a comunidade. Os times de camisa têm dinheiro e vão se reforçar demais. Eles vão poder contratar e dar uma boa estrutura de alojamento, enquanto a nossa tendência é sumir”, disse Luiz Cézar, treinador e presidente do time.

Já Foz Cataratas e Kindermann, campeões da extinta Copa do Brasil em 2011 e 2015, respectivamente, dizem que o segredo para se manter na ativa é trabalhar com os pés no chão e continuar revelando atletas para a modalidade.

“Vamos continuar mantendo os pés no chão e buscando revelar atletas. Hoje, existem muitos clubes que possuem maiores condições de tirar nossas jogadoras. Porém, sai uma , buscamos outra no mercado.

Somos um clube revelador e vamos continuar fazendo esse trabalho. É a solução”, disse Gesi Damasceno, presidente do Foz Cataratas, parceiro do Athletico-PR, que é responsável pelo licenciamento.

Com a desistência do Rio Preto, campeão brasileiro em 2015 e segundo colocado no ranking feminino, o Internacional ganhou o direito de disputar a primeira divisão do Brasileiro feminino. No ano passado, o clube gaúcho ficou em terceiro lugar na Série B.

O outro beneficiado foi o Vasco, que herdou a vaga do time colorado e disputará a segunda divisão. A princípio, os cariocas ficariam fora do torneio porque ocupavam o 14º lugar no ranking masculino.

A CBF (Confederação Brasileira de Futebol) utilizou o ranking para incluir os times mais ricos do país, que estavam fora da primeira divisão, na Série B. Os outros times da elite do masculino que disputarão a segunda divisão são Atlético-MG, Botafogo, Ceará, Chapecoense, Cruzeiro, Fluminense, Palmeiras e São Paulo. O Bahia também está no torneio após fazer parceria com o Lusaca, que já havia disputado o campeonato em 2018 assim como o Grêmio.

A criação das equipes femininas para esta temporada foi uma das exigências da CBF e da Conmebol (Confederação Sul-Americana de Futebol). A entidade sul-americana exige que todos os clubes que disputem seus torneios tenham um time adulto e de base femininos, enquanto o Manual de Licenciamento de Clubes da CBF é mais brando. Este solicita apenas que as agremiações da Série A do Nacional tenham um time feminino, adulto ou de base, e que disputem um torneio nacional ou estadual neste ano.

O Profut (Programa de Modernização da Gestão e de Responsabilidade Fiscal do Futebol Brasileiro), também prevê “apoio mínimo” à modalidade.

VEJA O REGULAMENTO DA SÉRIE A DO BRASILEIRO FEMININO

Com a participação de 16 clubes, o Campeonato Brasileiro Feminino da Série A terá início neste sábado (16). A competição será disputada em quatro fases. Na primeira, os 16 times se enfrentam em turno único. Os 8 melhores colocados avançam para as quartas de final, que serão realizadas em jogos de ida e volta. A semifinal e a final também serão disputadas em partidas de ida e volta.

CONFIRA A 1ª RODADA DO BRASILEIRO FEMININO DA SÉRIE A

Sábado (16)
Minas Icesp 1 x 3 São José
Ponte Preta 1 x 4 Corinthians
Vitória 0 x 1 Audax

Domingo (17)
Santos 3 x 0 Foz Cataratas/Athletico-PR
Kindermann/Avaí 1 x 0 Ferroviária
Iranduba 0 x 3 Flamengo
Vitória de Santo Antão 0 x 5 Internacional

Quarta-feira (20)
São Francisco 3×0 Sport

CONFIRA OS TIMES DA SÉRIE B DO BRASILEIRO FEMININO

GRUPO A
Ceará (CE)
Tiradentes (PI)
Oratório (AP)
Santa Quitéria (MA)
Esmac (PA)
São Valério (TO)

GRUPO B
Operário (MT)
Atlético (AC)
São Raimundo (RR)
Pinheirense (PA)
3b Sport (AM)
Porto Velho EC (RO)

GRUPO C
Náutico (PE)
Botafogo (PB)
Lusaca/Bahia (BA)
Canindé (SE)
Uda (AL)
Cruzeiro FC (RN)

GRUPO D
Palmeiras (SP)
Atlético-MG
Portuguesa (SP)
Grêmio (RS)
Toledo (PR)
Moreninhas (MS)

GRUPO E
Vasco (RJ)
Fluminense (RJ)
Cruzeiro (MG)
Taubaté (SP)
Aliança (GO)
Cresspon (DF)

GRUPO F
Botafogo (RJ)
São Paulo (SP)
América (MG)
Chapecoense (SC)
Duque de Caxias (RJ)
Vila Nova (ES)

VEJA O REGULAMENTO DA SÉRIE B DO CAMPEONATO BRASILEIRO

Com a participação de 36 equipes, o Campeonato Brasileiro Feminino da Série B começa no dia 27 de março. A competição será disputada em cinco fases. Na primeira, os clubes serão divididos em seis grupos com seis times cada e jogam em turno único dentro da chave. Os dois primeiros de cada grupo avançam para a segunda fase, que passa a ser disputada em sistema eliminatório, com jogos de ida e volta até a final.

 

 

*Informações retiradas da Folhapress