Manaus, 25 de abril de 2024
×
Manaus, 25 de abril de 2024

Cidades

‘Isso foi uma manobra ilegal, desvirtuado por meio da contratação’

Grupo de Atuação Especial de Combate às Organizações Criminosas revela detalhes da operação Bilhete Premiado, deflagrado nesta terça-feira, 18, em Manaus

‘Isso foi uma manobra ilegal, desvirtuado por meio da contratação’

“Não temos, ainda, elementos para indicar que o Governo do Estado à época, sabia da contratação (de R$ 5 bilhões) ou teve qualquer gerencia em relação à contratação”. A declaração foi feita pelo promotor de Justiça do Ministério Público, Cláudio Tanajura Sampaio, durante coletiva de imprensa na manhã desta terça-feira, 18, na sede do órgão, ao anunciar o resultado da operação Bilhete Premiado, deflagrado pelo Grupo de Atuação Especial de Combate às Organizações Criminosas (Gaeco), nas primeiras horas do dia em residência de três investigados.

Os investigados são o coronel PM Nilson Cardoso, o advogado José Júlio César Corrêa e Leandro Carlos Spener, na época diretores da Superintendência Estadual de Habitação (Suhab) e acusados de “desvirtuar” uma despensa de licitação no valor de R$ 5 bilhões em benefício da empresa mineira Ezo Soluções Interativas Ltda. Os alvos são suspeitos de fraudes, falsificação e crimes contra a Lei de Licitação ocorrida em 2017, quando o então deputado estadual David Almeida, estava como interino no Executivo Estadual.

Conforme o coordenador do Gaeco, promotor de Justiça Reinaldo Nery, as investigações iniciaram com base em informações da Procuradoria Geral do Estado (PGE) e da Promotoria do Patrimônio Público, que começaram um Procedimento Investigatório Criminal contra os ex-diretores da Suhab.

“Foi constatado uma contratação patente de ilegalidade de desrespeito às fases procedimentais de despensa de licitação, e principalmente o valor considerado absurdo, de R$ 5 bilhões para uma empresa que não tem essa finalidade, pois é uma empresa de consultoria apenas”, ressaltou o coordenador.

Coordenador do Gaeco, promotor Reinaldo Nery (Foto: Carlos Bolívar)

De acordo com as investigações, o fato que causou estranheza foi o valor que seria pago ao advogado da empresa Ezo Soluções, o ex-servidor da Suhab, José Júlio César, que receberia R$ 200 milhões caso a empresa conseguisse fechar o contrato. Mesmo defendendo os interesses da empresa mineira, José Júlio tinha livre acesso ao gabinete do superintendente e dava até ordens aos funcionários.

“Ele (José Júlio) tinha acabado de sair da Suhab, mas continuava a frequentar o local. Representando os interesse de uma empresa, ele conseguia todas as decisões e dava ordem para os funcionários, para poder direcionar para a contratação. Inclusive desvirtuando todas as fases, toda a burocracia, foi desvirtuado há muito tempo, com o objetivo de conseguir o prêmio de R$ 200 milhões para a contratação a qualquer custo”, explicou Cláudio Sampaio.

O promotor ressaltou a contratação não traria resultado positivo para o Estado e a Caixa Econômica, inclusive, chegou a afirmar por escrito, que o valor era uma fraude e que mesmo assim o Estado estaria obrigado a pagar a empresa, fato este que não aconteceu.

“Lembrando que por conta desse desrespeito aos princípios do direito administrativo, os ex-diretores e ex-superintendente queriam deixar uma dívida de R$ 5 bilhões para o Estado, que não foi paga devido uma ação da Procuradoria do Estado e da Promotoria do Patrimônio Público, que conseguiram suspender esse pagamento”, acrescentou Sampaio.

Promotor Cláudio Sampaio Tanajura (Foto: Carlos Bolívar)

O promotor Cláudio Sampaio frisou que o que ele chama de “desvirtuamento do contrato” era a imposição ao Estado a obrigação de pagar, ainda que não houvesse a recuperação de R$ 27 bilhões de valores do Fundo de Compensação de Variações Salariais (FCVS).  No contrato, o Estado deveria pagar R$ 5 bilhões à empresa Ezo Soluções Interativa Ltda e esta, R$ 200 milhões de honorários ao advogado José Júlio César Corrêa, nomeado por David Almeida como número 2 da Suhab, à época.

“Em vez de colocarem uma recuperação, eles coloram uma identificação de crédito, ou seja, só o fato da empresa identificar o crédito, o Estado estaria obrigado a pagar pelo serviço. Essa obrigação não pode existir. Isso foi uma manobra ilegal, desvirtuado por meio da contratação, que mostra o nítido dolo, a visível má-fé em favorecer a empresa perante os cofres públicos”, esclareceu.

Procuração

Os promotores tiveram acesso a uma procuração que se encontra num cartório de Minas Gerais onde a empresa Ezo Soluções se compromete a pagar um dos investigados o valor de R$ 200 milhões, no caso, para ao advogado, ex-servidor da Suhab José Júlio César.

Quarto elemento

Cláudio Sampaio pontuou que uma quarta pessoa está sendo investigada, mas não foi alvo da operação Bilhete Premiado. O quarto alvo é um administrador da Suhab, mas o juiz entendeu que nesse momento não cabeira expedição de busca e apreensão na casa dele.

Dos três alvos desta investigação, dois foram ouvidos e o terceiro ainda será.  Na manhã desta terça, a operação, com o suporte da Polícia Civil, apreenderam aparelhos celulares, computadores e documentos, que vão passar por análises da perícia. “No decorrer da investigação é natural que possa surgir outros nomes, isso pode prosseguir”, disse Cláudio Sampaio ao acrescentar que a empresa Ezo não fez parte da investigação porque inicialmente a investigação apontava a irregularidade entre os próprios dirigentes da Suhab, mas nada impede que os diretores da empresa sejam responsabilizados.

Documento sumiu!

Os promotores da operação Bilhete Premiado são enfáticos ao afirmar que o procedimento de dispensa sumiu e nem a própria Suhab consegue encontrá-lo. “Ele (documento) corria de mão em mão, não tinha tramitação, algo comum dentro do protocolo, com registro próprio. A busca foi nesse sentido, de encontrar esse documento”, finalizou Cláudio Sampaio.