Manaus, 25 de abril de 2024
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Bento 16 atribui abusos na Igreja a revolução sexual dos anos 1960

Bento 16, afirma que a Revolução de 1968 defendeu uma "liberdade sexual" sem "normas", que fazia da pedofilia algo "permitido e apropriado".

Bento 16 atribui abusos na Igreja a revolução sexual dos anos 1960

Os escândalos de pedofilia do clero são resultado da revolução sexual dos anos 1960, de grupos abertamente homossexuais em alguns seminários e do colapso da fé no Ocidente, afirma o papa emérito Bento 16 em uma análise publicada nesta quinta-feira (11).

Em um longo texto na Klerusblatt, publicação mensal bávara destinado ao clero, o papa saiu de seu silêncio, no momento em que a Igreja se encontra na berlinda pela revelação de escândalos nos Estados Unidos, no Chile, na Austrália e na Europa.

Papa Francisco e Papa Bento. (Divulgação)

Bento 16, que vive recluso em um pequeno monastério da Cidade do Vaticano desde que renunciou ao cargo, há seis anos, afirma que a Revolução de 1968 defendeu uma “liberdade sexual” sem “normas”, que fazia da pedofilia algo “permitido e apropriado”.

“Sempre me perguntei como os jovens podiam, nesta situação, ir para o sacerdócio”, declarou, ao se referir ao “amplo colapso” da vocação sacerdotal ocorrida nos anos seguintes.

Baseando-se em exemplos de sua Alemanha natal, ele conta a maneira como “o radicalismo sem precedentes dos anos 1960″ afetou a formação dos futuros padres nos seminários”.

O texto afirma que ainda que uma cultura abertamente gay em alguns seminários católicos fez com que eles falhassem em preparar os padres adequadamente para a função. 

Alguns teólogos reagiram nas redes, considerando “incômoda” a análise do papa emérito de 91 anos, e críticos o acusam de tentar isentar a Igreja de culpa nos escândalos.

A Igreja se deu conta de que os crimes de seus membros “prejudicavam a fé” que se deve proteger, após ter garantido de maneira excessiva a única proteção dos acusados, dificilmente condenáveis, ressalta o papa alemão.

Mas ele escreveu também que o sistema legal da Igreja superprotegeu alguns acusados, citando o que ele chamou de garantias judiciais que “foram estendidas a tal ponto que impossibilitaram as condenações”.

No texto, o papa emérito constata com amargura uma “sociedade ocidental, onde Deus desapareceu do espaço público” e onde a Igreja é percebida como “uma espécie de aparelho político”.

“Por que a pedofilia tomou essas proporções? No fim, isso se explica pela ausência de Deus”, convertido em uma “preocupação de ordem privada de uma minoria” de fiéis, continuou.

Na segunda metade dos anos 1980, o assunto da pedofilia voltou à tona para a Igreja, especialmente nos Estados Unidos, e levou progressivamente ao reexame da lei penal do direito canônico e à aplicação de condenações ao clero após processos.

Suas reflexões se inscrevem no âmbito dos efeitos da cúpula eclesiástica organizada em fevereiro pelo papa Francisco sobre os abusos sexuais de menores por parte do clero.

 

(*) Com informações da Folhapress