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Lama renuncia após noite de protestos no Peru

Presidente recém-empossado Peru não aguentou a onda de protestos que terminou com a morte de dois jovens manifestantes

Lama renuncia após noite de protestos no Peru

The head of the Peruvian Congress, Manuel Merino, is pictured after being sworn in as interim President in Lima on November 10, 2020 day after the Congress voted to impeach and oust President Martin Vizcarra over corruption allegations. - Merino, 59, was sworn in at a special session of Congress on Tuesday, becoming Peru's third president since 2016, reflecting the institutional fragility which has characterized the South American country. Under the constitution, he will take over the presidenti

Manuel Merino de Lama, que havia assumido o posto de presidente do Peru na terça-feira (10), renunciou na manhã deste domingo (15), depois de uma noite de protestos que terminou com a morte de dois jovens manifestantes.

A violência da última madrugada provocou a renúncia de 13 dos 18 ministros do novo governo, junto a seus vice-ministros.

Por conta dos acontecimentos, o líder do Congresso, Luiz Valdez, pediu que Merino de Lama deixasse o cargo, enquanto se reunia com as lideranças dos partidos para organizar uma sessão excepcional da casa para escolher quem assumiria o posto.

Em apenas cinco dias de mandato, marcado pela repressão violenta a protestos pacíficos, Merino de Lama perdeu o apoio dos principais partidos que haviam votado pela vacância do ex-presidente Martín Vizcarra, na última segunda-feira (9).

Entre eles, seu próprio partido, o Ação Popular, Somos Perú, Podemos Perú e Frente Ampla, que recriminaram a violência usada na repressão.

Até o fechamento deste texto, ainda não havia terminado a reunião em que o Congresso escolheria o novo líder e, portanto, o novo presidente interino.

Além do próprio Valdez, estão entre as possibilidades outros líderes das principais bancadas, como Carolina Lizárraga e Gino Costa (partido Morado).

Há eleições presidenciais em abril e, em sua posse, na terça, Merino de Lama prometeu manter o calendário eleitoral. Ainda assim, não tinha conseguido acalmar os manifestantes. O mandatário era o terceiro neste período, que começou em 2016 com a eleição de Pedro Pablo Kuczynski.

Os ministros que renunciaram depois das mortes dos manifestantes foram os de Interior, Saúde, Mulher, Justiça, Economia, Desenvolvimento Social, Cultura, Defesa, Comércio Exterior, Energia e Minas, Habitação, Agricultura e Educação.

Nas primeiras horas deste domingo, Valdes começou a procurar Merino de Lama para pedir sua renúncia, mas seu paradeiro era desconhecido. A uma rádio local, o primeiro-ministro, Antero Flores-Araóz, chegou a afirmar não saber se Merino de Lama estava fugindo nem se tinha renunciado.

Além dos mortos, a violenta noite de sábado terminou também com mais de 90 manifestantes feridos e 20 pessoas cujo paradeiro é desconhecido, segundo a secretaria de Direitos Humanos.

Os manifestantes que foram às ruas levaram cartazes em que afirmam que a vacância de Vizcarra foi “um golpe” e nos quais afirmam que “Merino não é meu presidente”.

Vizcarra teve seu impeachment determinado pelo Congresso por conta de dois supostos casos de corrupção que estão sendo investigados pela Procuradoria. Um deles se refere a um favorecimento a um amigo pessoal, o compositor Richard Swing. O outro, ao recebimento de suborno por licitações de obras públicas de quando era governador do estado de Moquegua (2011-2014).

Além de gás lacrimogêneo, as forças de segurança também usaram tanques do Exército para vigiar as ruas do centro, que estão bloqueadas para o trânsito. A capital do país, Lima, está com toque de recolher por conta da pandemia do coronavírus, mas os manifestantes não estão respeitando a medida e continuam nas ruas.

Os dois manifestantes mortos tinham 24 e 22 anos. O primeiro chegou ao hospital sem vida, com um tiro na cabeça. O segundo morreu depois de ser internado, tendo levado pancadas no tórax.

Além do Congresso, os manifestantes também cercaram a casa de Merino de Lama, fazendo ruídos com panelas e tambores, pedindo sua renúncia.

A ONG Anistia Internacional chamou a atenção para os abusos na repressão dos protestos, dizendo em um comunicado que o “uso excessivo da força não é necessário” nesse caso, uma vez que as manifestações têm sido pacíficas.

A OEA (Organização dos Estados Americanos) afirmou que enviará uma missão na semana que vem a Lima, a pedido do novo governo peruano, para avaliar a situação de tensão social e política que vive o país.

Na quarta-feira (11), a OEA pediu que o Tribunal Constitucional do Peru se pronuncie sobre a legalidade do processo contra Vizcarra. Em comunicado, afirmou que “reitera que compete ao Tribunal Constitucional do Peru pronunciar-se sobre a legalidade e a legitimidade das decisões institucionais adotadas”.

Solicitou também que sejam garantidas as condições para as eleições presidenciais convocadas para abril de 2021.

*Com informações da assessoria