Manaus, 25 de abril de 2024
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Manaus, 25 de abril de 2024

Política

Assembleia Legislativa do Amazonas tem mais de mil projetos arquivados

Os projetos não foram votados durante as respectivas legislaturas, segundos dados do Sistema de Apoio ao Poder Legislativo (SAPL) no período de 2008 a 2019.

Assembleia Legislativa do Amazonas tem mais de mil projetos arquivados

Foto: Divulgação

A Assembleia Legislativa do Amazonas (ALE-AM) conta com 1.110 projetos arquivados, que foram apresentados, mas não foram votados durante as respectivas legislaturas, segundos dados do Sistema de Apoio ao Poder Legislativo (SAPL) no período de 2008 a 2019. A maioria dos arquivamentos ocorre devido à vícios de iniciativa.

Das 1.110 matérias arquivadas, há 3 ofícios, 6 Projetos de Decreto Legislativo, 10 Projetos de Lei Complementar, 999 Projetos de Lei Ordinária, 55 Projetos de Resolução Legislativa, 22 Propostas de Emenda à Constituição (PEC) e 15 requerimentos. A Assembleia está na sua 19ª legislatura.

Segundo o presidente da Comissão de Constituição, Justiça e Redação (CCJR), Delegado Péricles (PSL), a Comissão é composta por técnicos da área jurídica que  analisam e auxiliam os membros no processo, por meio da avaliação das questões constitucionais, regimentais e legais de cada matéria apresentada.

“Os projetos são distribuídos para seus devidos relatores – sempre deputados membros da comissão – cujo parecer é apreciado pelos demais membros e aprovado para seguir tramitação”, explicou o deputado.

Só esse ano, 64 projetos receberam parecer contrário da CCJR e foram arquivados.

“Atualmente, a maioria dos projetos arquivados é por vício de iniciativa, ou seja, não cabe àquele poder a propositura daquele projeto. A CCJR trabalha diretamente com as assessorias jurídicas dos parlamentares no intuito de orientá-los quanto às questões que têm levado a esses arquivamentos”, concluiu Péricles.

Produção de projetos

Para o cientista político da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Gilson Gil, será preciso mudar a cultura política na relação Executivo X Legislativo.

“Os deputados correm para criar projetos, mas, muitas vezes, não se preocupam com a constitucionalidade ou a esfera de competência. Outras vezes, fazem apenas para agradar uma base eleitoral, sem se preocupar com o andamento daquela ideia. Além disso, há uma crença, entre alguns parlamentares, de que a eleição ou reeleição – depende de outros fatores, tais como propaganda e estrutura, partido, tempo de TV e dinheiro – mas que apresentar projetos não é algo vital. Poucos parlamentares creem que serão avaliados por isso [qualidade da produção de projetos]”, avaliou Gil.

Ainda segundo o professor da Ufam, outro fator é que o Executivo acaba tendo prioridade em vários temas e os parlamentares ficam “dependentes” das demandas dos governadores e secretários.

“O parlamentar apresenta um projeto, mas sabe que terá de ceder a vez a um outro, caso ele venha do governador ou do prefeito. O avanço da judicialização da política, com esse primado do Judiciário, também reduziu certo alcance do poder do parlamentar. Some-se isso ao fato do parlamentar estar muito preso às demandas do Executivo, preferindo aceitar tudo ou rejeitar tudo que vem do governo, acomodando-se na sua função de legislador e virando coadjuvante dos governantes”, analisou.

O sociólogo ainda disse que é necessário responsabilidade com a redação legislativa.

“Para vermos alterações nesse cenário, é preciso mudança na política de redação entre Executivo e Legislativo, incluindo a própria autodefinição que os legisladores fazem de seu ofício parlamentar”, concluiu o cientista.

Escola sem partido

Entre os arquivados está o PL 102/2016, de propositura do então deputado estadual Platiny Soares (PSB), em janeiro deste ano. O projeto propunha proibir opiniões sobre política e religião em sala de aula. Chamado pelos professores de “Lei da Mordaça”, chegou a ser tema de debates e manifestações por ser considerado pela categoria como censura ao debate.