De partido nanico, que fez apenas um deputado federal na eleição de 2014, o PSL iniciou a atual legislatura como um gigante, dividindo com o PT o posto de maior bancada da Câmara, com 54 deputados, além de ter eleito três senadores. No início do ano, os planos eram ambiciosos: agregar mais 10 parlamentares para tomar de vez a hegemonia petista e liderar a base de apoio ao presidente Jair Bolsonaro.
Menos de um ano depois, a legenda se desfaz em uma disputa que transformou em “água e óleo” duas alas que nem sequer conseguem sentar para conversar e já atrapalham a agenda do governo no Congresso.
A crise que vinha crescendo de maneira lenta e constante explodiu há 10 dias, por iniciativa do próprio Bolsonaro, e desde então se desenrola em velocidade difícil de acompanhar. Para ajudar, retomamos os acontecimentos dos nove dias que implodiram o PSL.
Capítulo 1 – “Esquece o PSL, tá ok? Esquece!”
Bolsonaro deu a senha para o estouro da atual crise em um dos momentos de descontração e tietagem na portaria de sua residência oficial, o Palácio da Alvorada. Ao ser filmado por um pré-candidato a prefeito de Recife (PE) que buscava o seu apoio, o presidente ficou impaciente e disse: “Esquece o PSL, tá ok? Esquece”.
Diante da insistência do apoiador, que seguiu filmando e citou o presidente da sigla, o deputado federal Luciano Bivar (PSL-PE), Bolsonaro foi mais incisivo:
“Não divulga isso não. O cara (Bivar) está queimado para caramba lá. Vai queimar o meu filme. Esquece esse cara, esquece o partido!”, disse, sem se preocupar por estar sendo filmado por outras pessoas.
Apesar de a fala ter parecido um descuido do presidente num primeiro momento, o movimento de rompimento já estava em curso nos bastidores, com Bolsonaro se reunindo com os advogados Karina Kufa e Admar Gonzaga, que é ex-ministro do TSE, para buscar opções jurídicas para um desembarque que não deixasse nas mãos de Bivar todo o fundo partidário e o tempo de TV conquistado na eleição.
Capítulo 2 – “Briga de marido e mulher”
A reação inflamada de parlamentares da sigla e da militância bolsonarista nas redes sociais levou o presidente a tentar colocar panos quentes na crise no dia seguinte, a quarta, 9 de outubro. Surpreendendo jornalistas, o presidente fez algo incomum desde a posse: foi procurá-los no térreo do Palácio do Planalto para dizer “não tem crise!”. Usando sua metáfora favorita, Bolsonaro comparou a situação a uma “briga de marido e mulher, que de vez em quando acontece. Não tem crise, não tem o que alimentar, não tem confusão nenhuma”, garantiu.
No Congresso, a oposição começou a surfar na crise governista. A deputada Sâmia Bomfim (PSol-SP), por exemplo, disse no dia 9 de outubro que “o PSL é, e sempre foi, uma legenda de aluguel usada por aventureiros para surfar na onda bolsonarista em 2018. Cabe saber como se comportarão os deputados que embarcaram nessa. Mais um capítulo da crise política que parece longe de acabar. O governo fica ainda mais frágil”, provocou.
Quem também reagiu foi o ex-aliado jogado à posição de antagonista, o presidente e fundador do partido, Luciano Bivar: “Quando ele (Bolsonaro) diz a um estranho para esquecer o PSL, mostra que ele mesmo já esqueceu. Mostra que ele não tem mais nenhuma relação com o PSL”.
Capítulo 3 – “Dê os nomes ou então fica quieto”
A crise do PSL parecia esfriar ao longo da quinta, dia 10 de outubro, mas logo ficou claro que o assunto estava apenas dividindo atenção com a polêmica do momento: o recuo dos Estados Unidos no apoio para o Brasil ingressar na Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
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