Manaus, 19 de abril de 2024
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Política

Pai de Arthur Lira promete verba federal para balneário no Nordeste

Pai de Arthur Lira (PP-AL) deixou a aposentadoria da vida pública no ano passado, aos 78 anos

Pai de Arthur Lira promete verba federal para balneário no Nordeste

Foto: Câmara dos Deputados

“Tenho um filho que hoje ocupa um espaço muito bom no cenário político nacional. Vou aproveitar para fazer o maior balneário do Nordeste. É o meu compromisso”, disse na campanha eleitoral de 2020 o ex-senador alagoano Benedito de Lira, do PP.

Pai de Arthur Lira (PP-AL), que disputa a presidência da Câmara dos Deputados, e também alvejado pela Lava Jato, o ex-parlamentar deixou a aposentadoria da vida pública no ano passado, aos 78 anos, para se candidatar à prefeitura de uma pequena localidade na região metropolitana de Maceió.

Ex-presidente da Assembleia alagoana e ex-cacique do PP no Congresso, ao longo de 20 anos na Câmara e no Senado, Benedito assumiu no dia 1º como prefeito de Barra de São Miguel, cidade de 8.400 habitantes conhecida pelas praias e casas de veraneio.

É o terceiro município em que exerce mandato, depois de Junqueiro, onde nasceu, e da capital do estado.

Venceu a eleição em novembro passado com 54% dos votos válidos e tomou posse prometendo “cuidar das pessoas”. Dos 9 vereadores eleitos, só 2 não eram de sua coligação.

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A eleição no ano passado foi seu ressurgimento para a política depois de da derrota na tentativa de reeleição ao Senado, em 2018, e de figurar com frequência no noticiário da Operação Lava Jato.

Foi delatado em depoimentos pelo doleiro Alberto Youssef e denunciado no chamado “quadrilhão do PP” ao lado do filho Arthur, que se converteu em líder do bloco conhecido como centrão, aliado do governo Jair Bolsonaro.

Na disputa em Barra de São Miguel, se impôs pela aliança obtida e com a máquina partidária. Como candidato a vice, o pai de Lira destacou um ex-assessor parlamentar da família que nunca havia concorrido, Floriano Melo, 61, também do PP.

Abandonou nas urnas seu nome e se lançou com o apelido “Biu”. Nas redes sociais, entrou em campanha muito antes do prazo regulamentar. Nas ruas, voltou a fazer a campanha pedindo voto de casa em casa, como é comum em localidades interioranas.

Uma candidata adversária, Taciane Ferro, do PSD, entrou com ação na Justiça Eleitoral acusando-o de compra de votos e abuso de poder econômico por supostamente distribuir combustível a moradores para uma carreata.

O processo ainda tramita, e a defesa do PP diz que o pedido de investigação feito pela rival é fantasioso e de má-fé.

O principal mote de sua candidatura foram obras e projetos no município feitos com emendas parlamentares obtidas no período em que foi congressista.

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Mostrou, por exemplo, moradias populares construídas e prometeu entregar mais centenas de casas. Também prometeu quadras de futebol em todos os bairros, internet livre e a urbanização da orla. Como ele próprio disse na eleição, o município tem “orçamento insignificante”, de R$ 60 milhões anuais, a maior parte consumida pela folha de pagamento.

A alternativa, afirmou, é providenciar investimentos federais para melhorias urbanas, articulação em que se diz experiente. “Os caminhos de Brasília não se fecharam para mim”, disse a um site local durante a eleição.

Sua candidatura custou, segundo informou à Justiça Eleitoral, R$ 319 mil, seis vezes mais do que o segundo colocado na disputa, Silas Santos, do PTB, ex-vice-prefeito. O pai de Arthur Lira formou uma aliança que contou com o então prefeito e com o MDB, partido da família Calheiros, hegemônica no estado e curiosamente principal adversária dos Lira.

Capitaneado por Arthur Lira e o pai, o PP mostrou força em todo o estado nas eleições municipais. Encostou no MDB, dos Calheiros, na liderança do ranking de prefeitos eleitos –fez 28 municípios, ante 37 dos emedebistas.

Longe de ser uma dinastia política local, os Lira ascenderam ao longo da última década e são reconhecidos até por adversários pela habilidade em articular investimentos federais e obras nos municípios. No plano federal, o PP, nos anos 2010, esteve à frente de ministérios como a Saúde e das Cidades.

Benedito ocupa cargos eletivos desde a década de 1960, ainda pela antiga Arena (antecessor do PP e sustentáculo do regime militar). Nos anos 1990, decidiu lançar na política o filho, aos 23 anos, como candidato à Câmara Municipal de Maceió.

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Hoje, o grupo de Lira, também forte na Assembleia, desponta como forte adversário do bloco do governador emedebista Renan Filho na disputa estadual em 2022. A estratégia de concorrer no ano passado, porém, não teve participação do filho, segundo disse à época o agora prefeito de Barra de São Miguel.

Durante a eleição, Benedito deu a seguinte explicação para a volta às urnas, em entrevista: “Em 2018, perdi a eleição e fui para casa. Fiquei lá até 2020. E me sentindo vazio, faltando alguma coisa. Conversei com a minha mulher e disse: Eu vou comunicar ao prefeito da Barra e as pessoas que eu vou disputar a eleição”.

Na posse, no último dia 1º, disse que não foi por vaidade que voltou à vida pública. Também destacou como prioridade medidas de combate à pandemia do coronavírus –ele próprio foi infectado após a campanha eleitoral.
A reportagem pediu entrevista com o prefeito, mas não obteve resposta.

Após a vitória no pleito, Benedito circulou por Brasília e se mostrou íntimo dos gabinetes federais, divulgando encontros com o presidente da Funasa (Fundação Nacional de Saúde) e os secretários federais do saneamento e da habitação.

Para ter um mandato mais tranquilo à frente da pequena cidade, porém, vai precisar superar seus problemas judiciais. Até hoje ele ainda está com bens bloqueados em ação de improbidade relacionada à Lava Jato em tramitação no Paraná.

A União processa parlamentares e ex-parlamentares, incluindo Arthur Lira e o pai, por prejuízos aos cofres públicos provocados pelos desvios em contratos da Petrobras, investigados na operação. A Justiça Federal determinou em 2016 o bloqueio de R$ 10,4 milhões dos Lira. Os dois negam as acusações e recorreram ao Superior Tribunal de Justiça; a ação de improbidade está parada.

Os relatos feitos por Alberto Youssef, de que pai e filho se beneficiavam de recursos desviados da Petrobras, resultaram em denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República contra os dois alagoanos em 2015. O Supremo, porém, rejeitou dois anos depois dar continuidade a essas acusações.

A principal pendência judicial contra pai e filho é o caso do “quadrilhão do PP”, em que integrantes do partido são acusados de organização criminosa por causa do envolvimento. A denúncia, porém, foi desmembrada: a parte contra parlamentares exercendo mandato, incluindo Arthur, está no STF, e o restante foi enviado para a primeira instância no DF, o que inclui Benedito.

O Supremo aceitou a denúncia, mas o caso até agora pouco andou, e o mesmo ocorre na primeira instância.

Na peça, o Ministério Público Federal diz que os Lira integravam o núcleo do PP que promoveu desvios de recursos públicos, principalmente da Petrobras, por meio de Youssef e do ex-diretor da estatal Paulo Roberto Costa. Arthur foi líder da bancada do partido na Câmara na época dos fatos e há registros de sua presença no escritório do doleiro em 2011. Contra Benedito, há menções em documentos de contabilidade de Youssef.

À Justiça a defesa do deputado disse que essa denúncia não detalha de que maneira ele teria parte na suposta organização criminosa e faz menção genérica a ilícitos baseada apenas na palavra de delatores. Benedito adotou argumentos parecidos e afirmou que não há explicação nas acusações sobre quais atitudes suas permitem inferir que ele seja líder ou integrante da organização criminosa.

O principal adversário de Arthur Lira na disputa pela Câmara também entrou nas disputas eleitorais pelas mãos do pai político.

Baleia Rossi (MDB-SP) é filho do ex-ministro da Agricultura e ex-deputado federal Wagner Rossi, que chegou a ser preso em operação da PF contra aliados do então presidente Michel Temer, em 2018.

 

*Com informações da Folhapress