Manaus, 23 de abril de 2024
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Manaus, 23 de abril de 2024

Política

Trump é o 1º presidente dos EUA no cargo a pisar na Coreia do Norte

Trump foi recebido pelo ditador Kim Jong-un na chamada zona desmilitarizada (DMZ, na sigla em inglês), em frente à linha que separa o Norte da Coreia do Sul

Trump é o 1º presidente dos EUA no cargo a pisar na Coreia do Norte

Neste domingo,30, Donald Trump tornou-se o primeiro presidente em exercício dos EUA a pisar na Coreia do Norte, em um gesto marcado pelo simbolismo na relação conturbada com o regime do país asiático e seu programa nuclear.

Trump foi recebido pelo ditador Kim Jong-un na chamada zona desmilitarizada (DMZ, na sigla em inglês), em frente à linha que separa o Norte da Coreia do Sul desde o fim da Guerra da Coreia, em 1953 –o conflito terminou com um armistício, e não um tratado de paz, o que mantém Washington e Pyongyang tecnicamente em guerra até hoje.

“É bom vê-lo de novo”, disse Kim, por meio de um intérprete. “Nunca esperava que fosse encontrá-lo neste lugar.” Trump respondeu: “Grande momento, grande momento”.

Em seguida, o presidente americano atravessou para o lado norte-coreano e deu 20 passos adiante, ladeado por Kim. Depois de posarem para fotos de dezenas de jornalistas que acompanhavam a cena, em um intervalo de um minuto, eles retornaram à linha fronteiriça e ingressaram em território sul-coreano.

Ambos, então, se encontraram com o presidente da Coreia do Sul, Moon Jae-in, com quem fizeram uma reunião fechada que durou em torno de 45 minutos –nunca dirigentes dos três países haviam se encontrado para dialogar.

Terminada a conversa, Trump acompanhou Kim Jong-un de volta a seu país, desta vez ao lado de Moon.

Na sequência, Trump afirmou a jornalistas que EUA e Coreia do Norte vão montar equipes técnicas para retomar, nas próximas duas ou três semanas, as negociações com o intuito de convencer Pyongyang a abdicar de seu armamento atômico.

“É um grande dia para o mundo”, declarou o americano, dizendo-se “orgulhoso de ter cruzado a linha”.

Os ex-presidentes Jimmy Carter (1977-1981) e Bill Clinton (1993-2001) estiveram na Coreia do Norte, visitando Pyongyang, mas somente depois que saíram da Casa Branca. Em exercício, todos os presidentes desde Ronald Reagan (1981-1989) –com exceção de George Bush pai (1989-1993)– foram ao lado sul-coreano da DMZ, mas nenhum foi recebido por um líder norte-coreano, tampouco ingressou no território vizinho.

Kim afirmou que espera “superar os obstáculos” graças a sua relação “maravilhosa” com Trump. “O fato de que os dois países, apesar de uma longa relação de hostilidades, podem apertar as mãos pela paz em um local que simboliza a divisão (…) demonstra que o presente é melhor que o passado”, disse o ditador.

O encontro foi celebrado pelo papa Francisco em seu discurso semanal na praça São Pedro, para quem tratou-se de “um passo a mais no caminho para a paz”.

Kim declarou que seria uma grande honra receber Trump em Pyongyang. Segundo o líder americano, ambos se dispuseram a visitar um ao outro “no momento certo”.

A visita à Coreia do Sul e à DMZ estava prevista para após a cúpula do G20 no Japão, encerrada no sábado (29), mas o presidente americano surpreendeu ao perguntar ao ditador norte-coreano, por meio de uma rede social, se ele aceitaria um encontro na fronteira desmilitarizada.

“Quando estiver lá, se o presidente Kim da Coreia do Norte observar isto, gostaria de me reunir com ele na fronteira”, escreveu Trump.

Embora a Casa Branca soubesse da ideia do presidente de ir à Coreia do Norte há alguns dias, a decisão em cima da hora pegou de surpresa sua equipe de assessores e forçou a montagem de um grande esquema de logística e segurança às pressas, num processo que normalmente levaria semanas para ser definido.

Avanço na questão atômica ainda é visto como distante

Embora histórica, a incursão de Trump em solo norte-coreano e o anúncio da retomada das conversas pouco mudam o atual quadro de impasse na questão nuclear.

O secretário de Estado, Mike Pompeo, disse que os EUA acreditam na necessidade de manter as sanções impostas pela ONU contra o programa atômico da Coreia do Norte enquanto se desenrolem as tratativas diplomáticas.

Para Shin Beom-chul, pesquisador do Instituto Asan de Estudos Políticos, em Seul, o encontro foi importante para reavivar o diálogo, mas o regime de Pyongyang não vai mudar facilmente sua posição de só desistir de seu arsenal atômico após a retirada das sanções.

Trump afirmou, porém, que ainda há muito tempo e que não tem pressa para chegar a um acordo. Contribuem para a desconfiança internacional os vaivéns do governo Trump no trato com Kim Jong-un.

Em 2017, depois de o regime dizer que fizera um teste com uma bomba de hidrogênio, a Casa Branca ameaçou dar uma resposta militar que aniquilaria a Coreia do Norte, e Trump chamou o ditador de “homem-foguete”.

Meses depois, os países iniciaram um processo de reaproximação, que culminou com a histórica cúpula em Singapura, em junho de 2018, na primeira vez em que um líder americano encontrou um norte-coreano.

Na ocasião, ambos assinaram um documento, no qual Kim se comprometeu a “trabalhar pela completa desnuclearização da península coreana”. As tratativas posteriores, porém, foram infrutíferas, o que ficou evidente na reunião seguinte entre os dois, em Hanói, no Vietnã, em fevereiro deste ano.

Kim pediu que as sanções contra seu país fossem suspensas em troca de iniciar uma desnuclearização que o presidente americano considerou muito tímida.

Em maio, Pyongyang fez um teste com ao menos dois mísseis, coincidindo com a visita a Seul de um enviado dos EUA para tentar desbloquear as negociações nucleares. No mesmo dia, Washington anunciou a apreensão de um cargueiro norte-coreano, pela acusação de violar sanções internacionais ao exportar carvão e importar maquinário.

Por causa desse histórico, a promessa de um novo momento do diálogo foi recebida com ceticismo pela oposição democrata nos EUA. Eles veem o gesto de Trump mais como uma oportunidade midiática do que um esforço real para que Kim Jong-un se desfaça de suas armas.

(*) Com informações da FolhaPress