Manaus (AM) – Consideradas as maiores dos últimos 80 anos, as cheias no Rio Grande do Sul estão impactando a vida das famílias que vivem no Estado. A esteticista amazonense Jhessika Oroski, de 29 anos, mora desde o ano passado em Canoas, no estado gaúcho.
Ela relatou, neste sábado (11), ao Portal AM1 o drama que tem vivido com a família por conta do desabastecimento dos produtos essenciais, principalmente, mantimentos e água potável, escassos nos supermercados, consequência do momento que estado vive há mais de duas semanas de inundações.
Segundo Jhessika, “as pessoas estão se aproveitando da situação e muita gente ‘saqueou’ os supermercados, comprando em muitas quantidades’. O que ocasionou prateleiras vazias nos estabelecimentos.
“Essa é a situação de um dos vários mercados por aqui”, contou a amazonense ao fazer o registro de uma gôndola esvaziada no estabelecimento.
“Hoje estamos vivendo assim; indo ao mercado, mas não tendo a oportunidade de comprar muitas coisas, pois a maioria das prateleiras está vazia. A mídia não mostra a realidade. Muitas doações estão chegando, mas também muitos mercados estão sendo esvaziados”, narrou.
Um desses alimentos em falta é o arroz. O Rio Grande do Sul é responsável por cerca de 70% da produção nacional do cereal no Brasil.
No entanto, hoje Jhessika não conseguiu comprar arroz. A última vez que comprou o pacote com 5 kg por R$ 18,90 em um supermercado de Canoas, umas das cidades mais afetadas pelas chuvas da região, foi há cinco dias.
Segundo Jhessika, que deixou Manaus há 7 meses, em busca de melhorias para a família e para a vida profissional, o bairro em que ela mora, o Nossa Senhora das Graças, não está alagado, porém, outras questões atingem os moradores, por exemplo, a dificuldade em adquirir água potável, que está faltando nos estabelecimentos comerciais.
Não há água disponível para comprar nos supermercados e, quando tem, um garrafão de 20 litros do líquido chega a custar R$ 70.
“Supermercados saqueados, água faltando nas nossas residências. Tivemos que ir atrás de poço artesiano em outras ruas para conseguir água nas garrafas. Os preços das coisas aumentando, gás, gasolina. E até mesmo aquele garrafão de 20 litros estão vendendo por 70 reais”, disse Jhessika Oroski, com exclusividade ao Portal AM1.
Além disso, a manauara destaca outro lado do incidente no RS; o de famílias que não estão desabrigadas e, consequentemente, recebem menos ajuda ou não tiveram nenhum tipo de socorro, até o momento.
O Estado do Rio Grande do Sul tem recebido inúmeras doações de alimentos não perecíveis, água, produtos de limpeza e outros. Entretanto, segundo Jhessika, essas contribuições, mostradas na mídia, inclusive, só alcançam os desabrigados.
“Nós não fomos atingidos, somente o bairro aqui ao lado, moramos no bairro Nossa Senhora das Graças, a enchente não chegou até aqui, mas estamos sofrendo com dificuldades de conseguir água para beber. Não tem nos supermercados e as doações que estão chegando, são somente para quem está nos abrigos, mas muitas famílias estão fora de suas casas e foram abrigadas nas casas de parentes. Por mais que nossas casas não estejam debaixo d’água, estamos sofrendo as consequências também”, explanou a esteticista.
Ainda de acordo com amazonense, o clima é de insegurança, e a “cidade inteira está um perigo”.
“Não estamos nos sentindo seguros dentro de casa. Estão assaltando as residências. Estão assaltando quem foi atingido pela cheia. A gente nunca imaginou que iria chegar ao que chegou agora. A situação é crítica. É cena de guerra”, comentou a moradora de Canoas.
Preço do arroz no Amazonas
A economista Bianca Mourão não descarta a possibilidade de que o preço do arroz seja elevado, futuramente, no Amazonas, devido às dificuldades na colheita do cereal e o comprometimento das futuras safras no Rio Grande do Sul. O estado, que enfrenta mudanças drásticas no clima com inundações, é responsável por cerca de 70% da produção nacional de um dos insumos mais consumidos no país.
Bianca explicou ao Portal AM1, que embora os produtores digam que a safra do Rio Grande do Sul esteja garantida, o mercado pode entender com uma medida do Governo Federal de comprar 1 milhão de toneladas de arroz, que, futuramente, falte o alimento nas prateleiras dos supermercados. O que justificaria a elevação do preço “preventivamente”.
“Se eu tivesse a garantia que no futuro não vai faltar arroz, o mercado entenderia que o preço deve permanecer, pode até ter variação. A expectativa do mercado é essa: que, futuramente, falte arroz e, por conta disso, o preço eleve”, destacou Bianca Mourão.
Produtores
Segundo a Federação Nacional dos Produtores de Arroz (Federarroz), o Brasil não deve se preocupar com a colheita de arroz após as enchentes que afetam o Rio Grande do Sul, já que o é maior produtor de arroz do País.
Por meio de nota, a entidade informou que o abastecimento não está afetado. “Não temos problemas com relação ao abastecimento do mercado interno”, disse o presidente da Federarroz, Alexandre Velho.
A Federação garante que as enchentes trazem ‘dificuldades na colheita’, mas que ‘não faltará arroz nas prateleiras’.
Compra internacional
Contudo, o ministro da Agricultura e Agropecuária, Carlos Fávaro, anunciou, na última quarta-feira (8), uma Medida Provisória (MP) para autorizar a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) a comprar 1 milhão de toneladas de arroz após produtores do Rio Grande do Sul perderem parte da produção.
Conforme o ministro, o primeiro edital de compra será de 200 mil toneladas, para distribuir, caso seja necessário, nas regiões mais populosas e periféricas das grandes cidades do país.
A antecipação, conforme Fávaro, também é para evitar a subida dos preços nos mercados.
Entidade é contra a importação
O anúncio da compra internacional de arroz pelo Governo Federal fez com que a Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul) se manifestasse na última quarta-feira (8), contra a importação do cereal. Conforme o presidente da Farsul, Gedeão Pereira, a federação considera a medida ‘precipitada’.
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