Manaus, 1 de julho de 2024
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Manaus, 1 de julho de 2024

Economia

‘Pessoas estão se aproveitando’, diz amazonense sobre supermercados no RS

Jessika Oroski relata as dificuldades para conseguir água potável e alimentos, como arroz, nos supermercados do estado, atingidos pelos temporais e cheias.

‘Pessoas estão se aproveitando’, diz amazonense sobre supermercados no RS

Jhessika Oroski e família no Rio Grande so Sul (Foto: Reprodução/Arquivo pessoal/Jhessika Oroski)

Manaus (AM) Consideradas as maiores dos últimos 80 anos, as cheias no Rio Grande do Sul estão impactando a vida das famílias que vivem no Estado. A esteticista amazonense Jhessika Oroski, de 29 anos, mora desde o ano passado em Canoas, no estado gaúcho.

Ela relatou, neste sábado (11), ao Portal AM1 o drama que tem vivido com a família por conta do desabastecimento dos produtos essenciais, principalmente, mantimentos e água potável, escassos nos supermercados, consequência do momento que estado vive há mais de duas semanas de inundações.

Segundo Jhessika, “as pessoas estão se aproveitando da situação e muita gente ‘saqueou’ os supermercados, comprando em muitas quantidades’. O que ocasionou prateleiras vazias nos estabelecimentos.

Prateleiras vazias de supermercado do Rio Grande do Sul (Foto: Jhessika Oroski)

“Essa é a situação de um dos vários mercados por aqui”, contou a amazonense ao fazer o registro de uma gôndola esvaziada no estabelecimento.

“Hoje estamos vivendo assim; indo ao mercado, mas não tendo a oportunidade de comprar muitas coisas, pois a maioria das prateleiras está vazia. A mídia não mostra a realidade. Muitas doações estão chegando, mas também muitos mercados estão sendo esvaziados”, narrou.

Um desses alimentos em falta é o arroz. O Rio Grande do Sul é responsável por cerca de 70% da produção nacional do cereal no Brasil.

No entanto, hoje Jhessika não conseguiu comprar arroz. A última vez que comprou o pacote com 5 kg por R$ 18,90 em um supermercado de Canoas, umas das cidades mais afetadas pelas chuvas da região, foi há cinco dias.

Arroz nos supermercados do RS (Foto: Jhessika Oroski)

Segundo Jhessika, que deixou Manaus há 7 meses, em busca de melhorias para a família e para a vida profissional, o bairro em que ela mora, o Nossa Senhora das Graças, não está alagado, porém, outras questões atingem os moradores, por exemplo, a dificuldade em adquirir água potável, que está faltando nos estabelecimentos comerciais.

Não há água disponível para comprar nos supermercados e, quando tem, um garrafão de 20 litros do líquido chega a custar R$ 70.

“Supermercados saqueados, água faltando nas nossas residências. Tivemos que ir atrás de poço artesiano em outras ruas para conseguir água nas garrafas. Os preços das coisas aumentando, gás, gasolina. E até mesmo aquele garrafão de 20 litros estão vendendo por 70 reais”, disse Jhessika Oroski, com exclusividade ao Portal AM1.

Falta de produtos nos supermercado do Rio Grande so Sul (Foto: Jhessika Oroski)

Além disso, a manauara destaca outro lado do incidente no RS; o de famílias que não estão desabrigadas e, consequentemente, recebem menos ajuda ou não tiveram nenhum tipo de socorro, até o momento.

O Estado do Rio Grande do Sul tem recebido inúmeras doações de alimentos não perecíveis, água, produtos de limpeza e outros. Entretanto, segundo Jhessika, essas contribuições, mostradas na mídia, inclusive, só alcançam os desabrigados.

“Nós não fomos atingidos, somente o bairro aqui ao lado, moramos no bairro Nossa Senhora das Graças, a enchente não chegou até aqui, mas estamos sofrendo com dificuldades de conseguir água para beber. Não tem nos supermercados e as doações que estão chegando, são somente para quem está nos abrigos, mas muitas famílias estão fora de suas casas e foram abrigadas nas casas de parentes. Por mais que nossas casas não estejam debaixo d’água, estamos sofrendo as consequências também”, explanou a esteticista.

Ainda de acordo com amazonense, o clima é de insegurança, e a “cidade inteira está um perigo”.

“Não estamos nos sentindo seguros dentro de casa. Estão assaltando as residências. Estão assaltando quem foi atingido pela cheia. A gente nunca imaginou que iria chegar ao que chegou agora. A situação é crítica. É cena de guerra”, comentou a moradora de Canoas.

Preço do arroz no Amazonas

A economista Bianca Mourão não descarta a possibilidade de que o preço do arroz seja elevado, futuramente, no Amazonas, devido às dificuldades na colheita do cereal e o comprometimento das futuras safras no Rio Grande do Sul. O estado, que enfrenta mudanças drásticas no clima com inundações, é responsável por cerca de 70% da produção nacional de um dos insumos mais consumidos no país.

Bianca explicou ao Portal AM1, que embora os produtores digam que a safra do Rio Grande do Sul esteja garantida, o mercado pode entender com uma medida do Governo Federal de comprar 1 milhão de toneladas de arroz, que, futuramente, falte o alimento nas prateleiras dos supermercados. O que justificaria a elevação do preço “preventivamente”.

“Se eu tivesse a garantia que no futuro não vai faltar arroz, o mercado entenderia que o preço deve permanecer, pode até ter variação. A expectativa do mercado é essa: que, futuramente, falte arroz e, por conta disso, o preço eleve”, destacou Bianca Mourão.

Produtores

Segundo a Federação Nacional dos Produtores de Arroz (Federarroz), o Brasil não deve se preocupar com a colheita de arroz após as enchentes que afetam o Rio Grande do Sul, já que o é maior produtor de arroz do País.

Por meio de nota, a entidade informou que o abastecimento não está afetado. “Não temos problemas com relação ao abastecimento do mercado interno”, disse o presidente da Federarroz, Alexandre Velho.

A Federação garante que as enchentes trazem ‘dificuldades na colheita’, mas que ‘não faltará arroz nas prateleiras’.

Compra internacional

Contudo, o ministro da Agricultura e Agropecuária, Carlos Fávaro, anunciou, na última quarta-feira (8), uma Medida Provisória (MP) para autorizar a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) a comprar 1 milhão de toneladas de arroz após produtores do Rio Grande do Sul perderem parte da produção.

Conforme o ministro, o primeiro edital de compra será de 200 mil toneladas, para distribuir, caso seja necessário, nas regiões mais populosas e periféricas das grandes cidades do país.

A antecipação, conforme Fávaro, também é para evitar a subida dos preços nos mercados.

Entidade é contra a importação

O anúncio da compra internacional de arroz pelo Governo Federal fez com que a Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul) se manifestasse na última quarta-feira (8), contra a importação do cereal. Conforme o presidente da Farsul, Gedeão Pereira, a federação considera a medida ‘precipitada’.

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