Manaus, 26 de abril de 2024
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Manaus, 26 de abril de 2024

Brasil

Após quase 90 dias, Ministério da Saúde segue sob comando do interino Pazuello

A ideia inicial era de permanecer na pasta por 90 dias. Agora, Pazuello afirma não haver prazo para encerrar a interinidade

Após quase 90 dias, Ministério da Saúde segue sob comando do interino Pazuello

Foto: Miguel Noronha/Futura Press/Folhapress

Há quase três meses, o ministério mais importante para o enfrentamento da covid-19 no Brasil funciona em modo provisório. Ontem, a pasta acumulou mais uma marca: 100 mil mortos pela doença.

Apesar dos números catastróficos e das críticas pesadas e frequentes ao governo federal, o general da ativa Eduardo Pazuello mantém-se no cargo de ministro interino — até ontem, não havia sinais de que deixaria a cadeira.

Em meio às queixas de que o ministério está sob comando de um militar e não de um especialista na área, a gestão de Pazuello segue viva no tiroteio. Certamente não agrada a opinião pública e de vários especialistas, mas tem atenuado a polarização em alguns setores envolvidos no enfrentamento da pandemia — como, por exemplo, secretários estaduais e municipais de Saúde. Para evitar mais desgastes em um assunto tão controverso e dolorido para o Brasil, Pazuello faz aparições discretas e procura se afastar de polêmicas. Por desviar dos holofotes, pode ter a passagem pelo Ministério da Saúde mais prolongada do que o previsto.

A ideia inicial era de permanecer na pasta por 90 dias. Agora, Pazuello afirma não haver prazo para encerrar a interinidade. “Na hora que achar que a missão acabou, vou falar para o presidente que a missão dada inicialmente foi cumprida. Se ele quiser que eu permaneça, eu vou permanecer. Se ele disser ‘muito obrigado’, volto para o quartel. É simples”, disse Pazuello ao Correio. Ele diz ter uma relação direta com o chefe do Planalto.

“O presidente e eu temos a mesma origem. A gente fala com muita retidão, sem floreios”, comenta. Prestigiado, Pazuello participou, na última quinta-feira, na live presidencial. Confirmou a Bolsonaro que o país chegaria neste fim de semana à marca de 100 mil mortes. E ouviu o presidente dizer: “Vamos tocar a vida”.

O primeiro passo que Pazuello deu para mudar a relação com os secretários foi familiarizar-se com o Sistema Único de Saúde (SUS) — Pazuello admite que desconhecia o funcionamento do sistema antes de assumir a pasta. “A compreensão do que é e quais são as responsabilidades, direitos e deveres do SUS é a primeira coisa que faz você mudar. Eu não abro mão de trazê-los (secretários de Saúde) para discutir os problemas. Eles têm que estar comigo e têm que tomar decisões juntos. Isso é a lei. Enquanto você não compreende isso, você passa a ter atrito”, explica o interino.

Para o presidente do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), Carlos Lula, a falta de especialização de Pazuello na área não é a principal ressalva por parte dos membros. “Temos, na história, a condução de ministros que não eram da área da saúde, como o senador José Serra. Não podemos negar os avanços enquanto ele chefiou a pasta. Mas, nos quadros técnicos, e sobretudo nas secretarias com foco estritamente técnico, é complicado ter militares no comando”. Junto a Pazuello, um time com mais de 20 militares passou a integrar o ministério em cargos de logística, estratégia e coordenação.

Cloroquina

Mas, há críticas bem mais severas. Para o especialista em gestão de Saúde da FGV Walter Cintra, a passagem de Pazuello tem falhas gritantes. “Leal ao seu presidente, Pazuello manteve a compra da cloroquina. Sob a direção do general, o ministério também tem falhado na execução do orçamento disponibilizado para o enfrentamento da pandemia”.

O Tribunal de Contas da União (TCU) acompanha o uso de R$ 76 bilhões destinados ao combate à covid. O Ministério Público junto ao TCU também protocolou pedido para que o tribunal investigue superfaturamento na produção de cloroquina pelo Exército Brasileiro, que passou a fabricar 84 vezes mais o volume do medicamento, por determinação do presidente.

Cintra também menciona como episódio grave a tentativa do governo de modificar a divulgação dos dados oficiais sobre a covid-19. E não poupa ataques. “No momento que o Brasil enfrenta uma das maiores crises sanitárias de sua história, o governo Bolsonaro promove o desmonte do Ministério da Saúde com consequências genocidas”, dispara.

*Com informações do Correio Brasiliense