Manaus, 2 de maio de 2024
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Manaus, 2 de maio de 2024

Brasil

Unicamp emite nota pedindo cautela no uso da cloroquina

"Não há, até o momento, evidência científica suficiente baseada em ensaios clínicos com humanos sobre a eficácia desses medicamentos para o tratamento da doença causada pelo novo coronavírus", diz a nota

Unicamp emite nota pedindo cautela no uso da cloroquina

Hidroxicloroquina foi identificada nos EUA como um possível tratamento para o COVID-19. Foto: (AP)

A Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) emitiu na quinta-feira, 9, uma nota afirmando que não há nenhuma evidência científica tanto no Brasil como em outros países da eficácia do uso da hidroxicloroquina  no tratamento do novo coronavírus.

A Unicamp lembra que o uso do medicamento é prejudicial à saúde do paciente.

“O uso da cloroquina e seus derivados na COVID-19 é prematuro e potencialmente prejudicial devido a efeitos colaterais amplamente conhecidos pela comunidade médica”, diz a nota.

A cloroquina vem sendo utilizada em pacientes em estado grave na capital amazonense, e outras regiões do Brasil, além de ser utilizado nas falas de Bolsonaro, como um ‘remédio curativo’.

A nota da instituição educacional reitera a importância do estudo científico para a utilização de medicamentos.

Leia a seguir na íntegra a nota da Universidade:

Nota da Unicamp

A Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) reitera o seu compromisso com a ética e com a ciência na busca por soluções que atendam o adequado acolhimento do paciente, o diagnóstico preciso e a melhor terapêutica, visando minimizar os efeitos da pandemia COVID-19. Há em todo o mundo, inclusive no Brasil, uma busca incansável por medicamentos eficazes para o tratamento dos doentes.

Essa busca deve ser pautada exclusivamente pela pesquisa conduzida seguindo métodos científicos bem estabelecidos, com protocolos claros e subordinados a valores éticos. Assim, no que diz respeito a declarações sobre o uso da cloroquina ou da hidroxicloroquina (HCQ) para o tratamento da COVID-19, isoladamente ou em associação com azitromicina (HCQ + AZT), a Unicamp, ouvindo especialistas na área, de dentro e de fora da instituição, e amplamente amparada por estudos científicos sobre o tema, corrobora as recomendações dos órgãos sanitários e da comunidade médico-científica mundial de que não há, até o momento, evidência científica suficiente baseada em ensaios clínicos com humanos sobre a eficácia desses medicamentos para o tratamento da doença causada pelo novo coronavírus.

Como reiterado em editorial de 08 de abril de 2020 da British Medical Journal, uma das publicações científicas da área médica mais respeitadas do mundo, o uso da cloroquina e seus derivados na COVID-19 é prematuro e potencialmente prejudicial devido a efeitos colaterais amplamente conhecidos pela comunidade médica.

Medicamentos como a HCQ têm efetivamente sido usados para pacientes portadores de malária ou doenças autoimunes. No momento, a cloroquina e seus derivados podem ser empregados em situações controladas para essas enfermidades, em pacientes internados sob supervisão médica restrita e intensiva. Não há, portanto, indicação formal dos mais respeitados órgãos de saúde pública do Brasil e do exterior para o uso profilático ou doméstico desses fármacos sem a estrita supervisão, responsabilidade médica e concordância explícita dos pacientes.

As manifestações de apoio ao uso da HCQ para COVID-19 se baseiam em evidências frágeis, não apoiadas por investigações sólidas que devem ser fundamentadas em ensaios clínicos controlados. A universidade, como centro do conhecimento, deve sempre recomendar indicações e propostas que valorizem a razão científica em lugar de soluções intuitivas e crenças, que apesar de geralmente bem intencionadas podem estar eventualmente equivocadas.