Manaus, 19 de abril de 2024
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Manaus, 19 de abril de 2024

Cidades

Conheça indígenas que atuam na linha de frente da pandemia no AM

A crise sanitária trouxe mudanças na realidade da população indígena do Amazonas. Proteção, imunização e a luta para sobreviver à Covid-19

Conheça indígenas que atuam na linha de frente da pandemia no AM

Foto: Divulgação SESAI

MANAUS, AM –  No Amazonas, as comunidades indígenas (urbanas ou isoladas) entraram em alerta durante a pandemia. Muitos índios, que são profissionais da área da saúde, estavam na linha de frente contra a Covid-19. A crise sanitária e de saúde trouxe mudanças radicais na realidade da população como um todo e, por exemplo, muitas coisas precisaram ser readaptadas.

O Amazonas possui a maior quantidade de indígenas do país, segundo dados do IBGE 2010 (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). O estado tem 168,7 mil pessoas que se autodeclaram índios.

Neste período de pandemia foi necessário um planejamento minucioso para conseguir chegar até as comunidades afastadas. Depois disso, muitos profissionais da saúde tomaram a linha de frente para atender os pacientes das aldeias.

Leia mais: Covid-19: Amazonas soma mais de 995 casos da doença

Profissionais indígenas na pandemia

Foto: Reprodução Instagram Vanda Witoto

A indígena e profissional da saúde, Vanda Witoto, é técnica em enfermagem e, atualmente, trabalha na Fundação Alfredo da Mata. Ela faz parte do quadro funcional da unidade desde 2012. Ela contou ao Portal Amazonas 1 que no início da pandemia, no ano passado, começou a trabalhar de forma voluntária no Parque das Tribos. O objetivo era ajudar os demais indígenas que moram no local.

Vanda contou que quando as contaminações pela Covid-19 chegaram no Parque das Tribos, por exemplo, a situação ficou difícil. Isso porque o local não tem um posto de saúde. Em conclusão, a enfermeira se disponibilizou para ajudar os moradores do parque.

“Eu me coloquei à disposição da comunidade no início de março. A medida que eles sentissem algum sintoma, eles podiam entrar em contato comigo. Ali começou meu trabalho de orientação e de produção de máscaras. A minha mãe costurava elas e depois fomos nos juntando com mais mulheres”, relatou Witoto.

A profissional de saúde informou que, com a chegada da segunda onda, o Parque das Tribos resolveu, junto com antigo cacique Miqueias, iniciar uma campanha para construir uma unidade que pudesse atender os indígenas da tribo.

“Com apoio da sociedade que nos doou o dinheiro e material para a construção da unidade, a gente montou essa estrutura”, falou Vanda.

Ajuda

A enfermeira ressaltou que, além dos materiais e equipamentos de proteção e oxigênio, a unidade recebeu doações de alimentos. Além disso, novos profissionais também se juntaram a eles na iniciativa.

Para Vanda, um momento que mais a marcou durante a pandemia foi quando o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) negou atendimento a um dos pacientes.

“A nossa maior angústia nessa pandemia foi quando o Samu negou um pedido de socorro. Ele não liberou uma ambulância para buscar uma parente nossa que estava com falta de ar. A atendente chegou a dizer que quem tem que cuidar de indígena é a SESAI”, lamentou Wanda.

Ela contou que essa atitude é um reflexo de como a sociedade enxerga os povos indígenas. Na comunidade, dois óbitos por conta da Covid-19 foram registrados e trouxeram muita dor, segundo ela.

Clotilde Mendes – técnica enfermeira

Recém-formada em enfermagem, Clotilde Mendes, moradora do Parque das Tribos, é da etnia Ticuna. Ela nasceu em uma aldeia localizada no Alto Solimões próximo ao munícipio de Tabatinga (AM).

A profissional exerce a função há 20 anos e, atualmente, trabalha na Casa de Apoio do Índio, localizada na AM-010. Ela atua na linha de frente da Unidade de Apoio Indígena.

Clotilde contou que a morte do cacique da tribo foi o que mais a marcou durante a pandemia. Ela lamenta que não houve socorro ao líder da tribo. No entanto, diz que há um esforço de voluntários para ajudar a tribo.

A profissional da saúde informou que se sente mal pelas comunidades indígenas não estarem recebendo o auxilio necessário para enfrentar a crise sanitária.

“Em qualquer caso, a gente precisa de uma unidade básica para atender a população, não só os moradores do Parque das Tribos, mas toda a Vivenda Verde e Tarumã. Os companheiros que não são indígenas também são atendidos com muito amor. Nós precisamos mesmo de ajuda.”, contou.

A enfermeira diz que todas as pessoas no Parque são atendidas por profissionais credenciados. Nenhum medicamento é prescrito sem orientação medica.

“Nós somos seres humanos, mais importante, somos nativos da terra”, falou Clotilde.

Vacinação dos povos indígenas

A Secretária Especial de Saúde Indígena (SESAI), o Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) e os profissionais da saúde reuniram esforços para levar vacina contra a Covid-19 para os indígenas nas aldeias.

O Coordenador da DSEI, Januário Neto, 35, contou a equipe do Portal Amazonas 1 que 75% dos indígenas foram vacinados com a primeira dose e 61% com a segunda dose.

Foto: Divulgação SESAI/DSEI

“Nós levamos para todas as aldeias essa vacina em tempo recorde. Ou seja, na primeira dose, as doses chegaram em todas as aldeias em 9 dias”, informou.

Januário contou que apenas 2% dos indígenas recusaram a vacina. Com isso, a SESAI e o Ministério da Saúde elaboraram uma campanha de nível nacional de “Sensibilização dos indígenas”.

“A SESAI e o Ministério fizeram uma campanha a nível nacional de sensibilização dos indígenas. Portanto, foi falando na língua deles, demonstrando o quanto a vacinação reduziu o número de casos novos, o número de internações e o número de óbitos. Além disso, nós mostrando a viabilidade da proteção da vacina, que causou um impacto muito positivo em relação ao número desses novos casos”, contou Januário.

Foto: Divulgação SESAI/DSEI

Com ajuda do Ministério da Saúde, eles conseguiram chegar aos 265 aldeias do Amazonas. Em conclusão, o apoio foi feito por uma equipe composta por 200 equipes de vacinadores.

O coordenador frisou que o trabalho continua e que eles pretendem vencer a covid-19 imunizando mais quase 90% dos indígenas no Amazonas.