Manaus, 5 de maio de 2024
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Manaus, 5 de maio de 2024

Brasil

Coronel negro reformula manual da PM para combater racismo: ‘não será tolerado’

Segundo ele, não será uma caça às bruxas, mas uma forma de não tolerar discriminações de nenhuma forma

Coronel negro reformula manual da PM para combater racismo: ‘não será tolerado’

Foto: Marcelo Brandt/G1

“O negro tem pressa, porque é muito tempo sofrendo a mesma coisa. O racismo está enraizado nas pessoas historicamente e culturalmente e elas não percebem isso“. A frase é do tenente-coronel da PM de São Paulo Evanilson Corrêa de Souza, negro, de 50 anos, encarregado de rever o manual de Direitos Humanos da corporação para, como ele mesmo diz, “contribuir para a desestruturação do racismo estrutural”.

A ideia, segundo o coronel que comanda o 11º Batalhão da PM, na área dos Jardins/Consolação, região central da capital paulista, é fazer com que os policiais paulistas reflitam e se conscientizem de que o racismo está presente no dia a dia nas ruas e identifiquem atos discriminatórios próprios e de colegas que possam ser corrigidos.

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O atual manual da PM é de 1998 e a nova versão, segundo Souza, deve ficar pronta no 1º semestre de 2021.

“É importante mostrar para as pessoas que o racismo existe, que não é exagero, não é só um costume, uma brincadeira, um jeito. Porque é cultural e tradicional dessa forma (de discriminação). É um racismo estrutural da sociedade que se arrasta até os dias de hoje”, disse Souza ao G1, ele próprio já vítima de racismo.

“Não será uma caça às bruxas, mas não vamos mais tolerar discriminações de nenhuma forma”, afirma o coronel.

A revisão do manual começou paulatinamente em 2014, quando começaram a surgir algumas ideias sobre a necessidade de aperfeiçoamento das premissas da corporação em respeito à diversidade cultural e religiosa, mas termina em um ano marcado por ocorrências polêmicas envolvendo atos racistas no Brasil e no mundo.

A taxa de homicídios de negros no Brasil saltou de 34 para 37,8 por 100 mil habitantes entre 2008 e 2018, o que representa aumento de 11,5% no período, de acordo com o Atlas da Violência 2020. Já os assassinatos entre os não negros no mesmo comparativo registraram uma diminuição de 12,9% (de uma taxa de 15,9 para 13,9 mortes para cada grupo de 100 mil habitantes).

O relatório mostra que, em 2018, os negros representaram 75,7% das vítimas de todos os homicídios.

Quando se fala das vítimas dos policiais, o percentual de negros é um pouco maior: 79,1% , em 2019, segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública. A proporção de policiais negros assassinados no ano passado também é maior do que a de brancos: 65,1%.

(*) Com informações do G1