Manaus, 3 de maio de 2024
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Manaus, 3 de maio de 2024

Brasil

Estudo mapeia regiões da flora amazônica buscando preservação de espécies

Nessa nova metodologia, os pesquisadores reuniram informações sobre a composição de espécies de 301 comunidades de plantas distribuídas em toda Amazônia

Estudo mapeia regiões da flora amazônica buscando preservação de espécies

Reprodução Ibama

Um estudo recente publicado no Journal of Ecology estabeleceu uma nova divisão da flora amazônica baseada na distribuição de mais de 5 mil espécies lenhosas (árvores e arbustos). O trabalho, que analisou dados sobre a composição de espécies pela primeira vez, pode contribuir para futuros esforços de conservação.

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De acordo com os autores – os biólogos Karla Silva-Souza e Alexandre Souza, do departamento de Ecologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) – mapeamentos anteriores focaram na fitofisionomia da vegetação ou em conjuntos de dados que incluem espécies de animais, plantas e características de habitat.

“Enquanto o método revela padrões universais de distribuição da biota [todos os seres vivos], ele pode ocultar importantes padrões para grupos específicos, como é o caso dessas plantas lenhosas”, explica Silva-Souza.

Nessa nova metodologia, os pesquisadores reuniram informações sobre a composição de espécies de 301 comunidades de plantas distribuídas em toda Amazônia. Lugares que estatisticamente compartilhavam menos espécies individuais foram separados em sub-regiões diferentes, enquanto aqueles com mais espécies em comum foram agrupados dentro da mesma sub-região.

No total, o estudo identificou 13 sub-regiões na Floresta Amazônica, que cobre 40% da América do Sul e inclui territórios de nove países. Essas áreas também possuem espécies exclusivas (endêmicas), ou seja, que ocorrem apenas em uma certa sub-região.

Enquanto algumas zonas florísticas são amplas – como a sub-região 1 (na ilustração abaixo, à direita), perto dos Andes – outras são pequenas e periféricas, como a sub-região 13, próxima do Cerrado brasileiro. Algumas espécies que caracterizam essas duas sub-regiões são, respectivamente, Jacaranda macrantha (caroba) e Astrocaryum chambira (palmeira chambira); e Astronium fraxinifolium (gonçaleiro) e Cochlospermum regium (algodão-do-cerrado).

Mudanças climáticas e o futuro das espécies

Além disso, os cientistas quiseram investigar – também baseado em estatísticas – se as características dessas sub-regiões estão relacionadas às atividades humanas e aos fatores ambientais e históricos. Por exemplo, a estabilidade da vegetação ao longo de milhares de anos.

“A importância das atividades humanas que nós observamos na distribuição das sub-regiões indica o desmatamento e a fragmentação da floresta como resultado de invasões de terra e agricultura de grande escala”, diz Karla Silva-Souza.

“O número também sugere que o atual regime de chuvas e temperatura influencia a distribuição das sub-regiões e indica o profundo impacto que as mudanças climáticas podem ter na organização espacial da flora amazônica”, ela acrescenta.

O co-autor Alexandre Souza explica que o aumento na frequência de anos secos na Amazônia pode causar a expansão de certas sub-regiões florísticas e a contração de outras. “Algumas sub-regiões podem ter suas extensões territoriais aumentadas porque elas têm mais espécies que são tolerantes à poucas chuvas. Essas iriam proliferar enquanto outras sub-regiões com menos plantas tolerantes à seca iriam perder espécies e território.”

Conhecimento sobre a distribuição espacial da flora é essencial para proteger a Amazônia, afirma Silva-Souza. “Muito pouco se sabe sobre as espécies que existem na região, mas à medida que aprendemos mais sobre elas a partir de inventários florísticos e esforços de identificação, divisões espaciais mais precisas podem ser estabelecidas.”

A Floresta Amazônica abriga 25% da biodiversidade mundial e é uma das maiores forças no equilíbrio climático e biogeoquímico da Terra. Silva-Souza explica que esforços de classificação como esses podem ajudar a protegê-la. “Conhecimento sobre a distribuição espacial da flora em sub-regiões contribui para aumentar o número de espécies protegidas, já que os esforços de conservação são decididos de acordo com sua distribuição numa vasta região”.

 

(*) Com informações do O Eco