Manaus, 21 de março de 2025
×
Manaus, 21 de março de 2025

Cidades

Expansão desordenada das cidades pode ampliar áreas de risco, explica especialista

Conforme o pesquisador em geociências, esse cenário pode estar ligado ao crescimento desordenado e à falta de intervenções estruturais adequadas.

Expansão desordenada das cidades pode ampliar áreas de risco, explica especialista

(Foto: Celso Maia/Portal AM1)

Manaus (AM) – O crescimento acelerado e sem o devido acompanhamento de infraestrutura é um dos fatores que contribuem para o aumento das áreas de risco em Manaus, explicou o pesquisador em geociências Elton Andretta, do Serviço Geológico do Brasil, em entrevista ao Portal AM1.

O Serviço Geológico do Brasil realiza o mapeamento dessas áreas na capital amazonense e elabora relatórios sobre a situação. Conforme informações concedidas ao AM1, a previsão é que um novo relatório seja publicado em junho, com entrega do material à Prefeitura de Manaus e aos órgãos competentes.

No entanto, com base no relatório publicado e entregue à Defesa Civil em 2019, as zonas Leste e Norte — as mais populosas da capital — já concentravam o maior número de áreas de risco. Segundo Andretta, esse cenário pode estar ligado ao crescimento desordenado e à falta de intervenções estruturais adequadas.

“As pessoas vão ocupando os fundos dos vales, desmatando e impermeabilizando o solo. Isso causa o quê? Com o aumento da chuva, as águas correm mais rápido em direção aos igarapés, inundando as áreas próximas a eles e também as encostas. Além disso, intervenções como cortes e aterros no solo acabam desestabilizando os terrenos, aumentando o risco de deslizamentos”, explicou ao Portal AM1.

expansao-desordenada-das-cidad

Pesquisador em Geociências, Elton Andretta, com 15 anos de dedicação no Serviço Geológico do Brasil (Foto: Celso Maia/Portal AM1)

Na zona Leste de Manaus, um relatório de 2019, sobre o mapeamento das áreas de risco geológico na zona urbana, identificou 22 mil imóveis situados em áreas vulneráveis. A estimativa populacional aponta que 79.604 pessoas estão expostas a deslizamentos de terra, inundações e voçorocas, sendo 31.976 classificadas em risco alto ou muito alto.

Seis anos após a publicação do relatório, a situação, com base nas áreas já mapeadas e analisadas pelo SGB, não demonstra avanços significativos para a população das duas zonas administrativas mais populosas da capital.

Segundo Elton Andretta, os dados em atualização indicam que a zona Leste e Norte continuam concentrando o maior número de setores de risco em Manaus.

“Então, pelo que a gente mapeou até o momento, a zona Leste e Norte devem continuar como as zonas que mais têm setores de risco. Devido ao grande número de invasões nesses locais e também como esses locais são ocupados, a forma como eles são ocupados, e além disso também a falta de infraestrutura, de ordenamento urbano, a falta de educação da população, a construção das suas moradias e outros fatores que levam essas áreas a formarem maiores setores de risco”, alertou Andretta ao Portal AM1.

Atualização

Em meio ao cenário nacional, Manaus desponta como a cidade brasileira com o maior número de alertas de desastres em 2024, segundo o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), unidade de pesquisa vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI).

O centro de monitoramento emitiu 3.620 alertas de desastres em 2024 em todo o Brasil e a capital amazonense liderou o ranking no número de alertas, ficando à frente até mesmo de Belo Horizonte e São Paulo.

Desse número, no Brasil, cerca de 53% dos alertas emitidos em 2024 foram de risco geológico, relacionados sobretudo a processos geodinâmicos, como deslizamentos de terra. Os demais 47% foram associados a riscos hidrológicos, como enxurradas e transbordamentos de rios e córregos.

Nem tudo está perdido

Embora Manaus lidere rankings negativos relacionados ao bem-estar da população, há alternativas para transformar a realidade enfrentada pelos moradores da capital. No entanto, a implementação de melhorias em áreas de risco depende de ações efetivas do poder público.

Ao Portal AM1, o pesquisador em geociências Elton Andretta explicou que é possível reverter a situação de áreas classificadas como “risco muito alto”. Segundo Andretta, intervenções governamentais podem modificar esse cenário e reduzir a vulnerabilidade da população.

“Se uma área está classificada como R4, mas alguns moradores em maior risco são removidos, uma obra é realizada no local ou há revegetação do talude, essa área pode passar de R4 para R3 e até para R1. Em Manaus, há áreas como as Voçorocas, que foram mapeadas pela CPRM no primeiro levantamento de 2012 e posteriormente recuperadas. Foi necessário remover algumas moradias e executar obras, hoje, essas áreas não apresentam mais risco”, esclareceu Andretta.

 

LEIA MAIS: