Manaus, 3 de julho de 2024
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Manaus, 3 de julho de 2024

Mundo

Evo Morales convoca novas eleições para conter protestos no país

Em relatório preliminar, a Organização dos Estados Americanos (OEA) recomendou a anulação das eleições e questionou a "integridade dos resultados".

O presidente da Bolívia , Evo Morales, convocou novas eleições no país neste domingo, 10, após a Organização dos Estados Americanos (OEA) relatar “irregularidades” nas eleições de outubro.

Em relatório preliminar, a organização recomendou a anulação das eleições e questionou a “integridade dos resultados”.

O líder indígena Morales, que assumiu o poder em 2006, venceu as eleições de 20 de outubro. No entanto, a apuração dos votos foi interrompida sem explicações durante quase um dia, o que provocou acusações de fraude e gerou protestos da oposição, greves e bloqueios de estradas.

Em anúncio a jornalistas, Morales disse ter decidido “convocar novas eleições nacionais que, mediante voto, permitam que o povo boliviano possa eleger democraticamente suas autoridades”.

Além disso, Morales disse que irá renovar o Tribunal Supremo de Justiça, em resposta ao relatório da OEA divulgado neste domingo, que mencionou irregularidades no processo de outubro.

“Foram encontradas irregularidades, que variam entre muito graves e indícios. Isso leva a equipe técnica auditora a questionar a integridade dos resultados das eleições de 20 de outubro passado”, destacou a OEA em comunicado à imprensa.

“No componente informático foram descobertas graves falhas de segurança”.

Segundo o relatório, é “estatisticamente improvável” que, apesar de vencer as eleições, Morales tenha conseguido os 10 pontos percentuais necessários para evitar uma disputa com o liberal Carlos Mesa , que ficou em segundo lugar.

Em nota, neste domingo, a secretaria-geral da OEA pediu a anulação do primeiro turno das eleições.

“O primeiro turno das eleições realizado em 20 de outubro passado deve ser anulado e o processo eleitoral deve começar novamente, efetuando-se o primeiro turno assim que existirem novas condições que deem novas garantias para sua realização, entre elas uma nova composição do órgão eleitoral — afirmou a organização.

Acuado por motins de unidades da polícia que eclodiram em várias cidades a partir da tarde de sexta-feira, Morales havia proposto no sábado diálogo com partidos políticos representados no Congresso, na tentativa de buscar uma solução para a crise política.

A convocação do presidente foi imediatamente rechaçada pela oposição.

— Não tenho nada a negociar com Evo Morales e seu governo — disse o candidato derrotado nas eleições, Carlos Mesa , que mais cedo no Twitter rebatera a acusação de tentativa de golpe de Estado, feita por Morales, como “uma mentira que o governo está tentando passar em nível nacional e internacional”.

Os adversários do presidente, entre eles Mesa e Luis Fernando Camacho, líder civil da cidade de Santa Cruz que se tornou um símbolo da oposição, pediram reiteradamente a renúncia de Morales. Camacho disse que planeja marchar até a sede do governo para entregar ao presidente uma carta de renúncia, já escrita, para que Morales assine.

Forças Armadas ‘não enfrentarão o povo’

Na sexta-feira e no sábado, manifestantes antigoverno saíram às ruas e fizeram vigília ao redor de unidades militares em várias cidades dando apoio ao movimento policial e pedindo que as forças de segurança se juntassem à oposição. Líderes opositores prometem manter a pressão.

Por sua vez, em pronunciamento conjunto após o de Morales, os chefes militares indicaram que as Forças Armadas “nunca enfrentarão o povo”, e defenderam que “os atuais problemas gerados no âmbito político devem ser solucionados no marco dos mais altos interesses da pátria, antes de chegar a momentos irreversíveis”.

O empresário e advogado Luis Fernando Camacho, líder radical do opositor Comitê Cívico de Santa Cruz que prega uma intervenção das Forças Armadas para retirar Morales do poder, saudou os motins policiais e respondeu ao tuíte de Morales: “Não viemos derrubar um presidente, viemos libertar a Bolívia de sua ditadura”.

Para o sociólogo Daniel Moreno, diretor da ONG Ciudadania, não está claro se o motim chegará a todo o país, “mas é um fato simbólico de desobediência da polícia em relação ao governo”.

Ao GLOBO, Moreno também associou o motim ao discurso de alguns dias atrás de Camacho convocando as Forças Armadas e a polícia a se rebelarem.

(*) com informações do O Globo