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Brasil

São Leopoldo, a cidade gaúcha onde quase todos perderam o lar

Números por si só já são alarmantes, mas a urgência aumenta quando nomes, vozes, rostos e histórias são acrescentadas à maior calamidade do Rio Grande do Sul.

São Leopoldo, a cidade gaúcha onde quase todos perderam o lar

(Foto: Thales Ferreira/Prefeitura de São Leopoldo)

Destroços nas ruas, águas em bairros inteiros, lama, resgates, tumultos, medo e insegurança. Este é o cenário nas ruas de São Leopoldo, região metropolitana de Porto Alegre. A cidade se soma aos 431 municípios gaúchos atingidos pelo temporal que assolou o estado.

Os números, por si só, já são alarmantes; mas a urgência aumenta quando nomes, vozes, rostos e histórias são acrescentadas à maior calamidade do Rio Grande do Sul.

Novembro de 2023

Não é a primeira vez que os moradores de São Leopoldo passam por enchentes. Em junho e novembro de 2023, o comerciante Adenir Ferri, de 49 anos, também teve sua casa atingida.

“A água foi mais baixa, foi mais simples. Conseguimos levantar os móveis, depois voltamos para casa, limpamos, tocamos a vida, compramos o que tinha estragado, pintamos a casa… tocamos a vida normal”, relembra.

Impacto

Agora, a situação foi mais grave. A água quase atingiu o teto da casa, a força foi tanta que o impacto dos móveis e objetos levados pela enchente estragou o forro da residência.

Dentro da casa ainda alagada, o comerciante Adenir Ferri, de 49 anos, busca o que salvar de seus pertences. Durante a noite ele trabalha em uma pizzaria de São Leopoldo, e agora usa os dias para tentar reconstruir a vida levada pela força da água. Uma vida que não será mais a mesma, que agora está marcada pelo medo e insegurança de viver o pesadelo novamente.

Quarto destruído pela enchente

“Aqui está o meu quarto. Eu vou limpar, vou pintar, vou mobiliar e deitar aqui de novo. Agora eu não vou mais me sentir seguro aqui. Teve água até o teto, eu não vou mais dormir tranquilo aqui. A minha vontade agora é de ir para o lugar mais longe possível de qualquer rio, córrego, valão, longe da água. Foi muito traumatizante, foi muito difícil. A água subiu muito rápido aqui e a gente não conseguiu fazer nada, nada… só conseguiu sair”, conta o morador da Frederico Mayer, Feitoria.

Eram quase 17h do sábado, 4 de maio, quando a enchente começou a invadir a rua Potteinstein. Às 19h, quando a faxineira Eliani Queiroz saiu de casa, a água já estava no pátio.

Há quatro dias, a moradora volta para casa todos os dias na tentativa de reconstrução, realizando limpeza e tentando salvar seus pertences. “Da cozinha deu para salvar o fogão, da sala a TV e do quarto o que sobrou foi um cobertor”, conta Eliani. A água atingiu praticamente todo o primeiro andar da casa em que mora há 4 meses, no bairro Feitoria.

Ao mostrar os estragos deixados pela água, Eliani puxa uma toalha de banho vermelha com uma grande mancha marrom do topo de uma pilha de roupas molhadas e explica, “As roupas todas aqui para lavar, uma mais manchada que a outra. As que estão em cima estão menos sujas”. O caminho pela casa não vem acompanhado de menos estragos, as marcas da água nas paredes ultrapassam 1,5 metros.

Eliani é uma das 395,6 mil vidas gaúchas que precisaram deixar seus lares para fugir das águas da enchente, segundo dados da Defesa Civil.

Uma tragédia que assola também sua família. Seus irmãos, também moradores da região, precisaram sair às pressas. Suas casas foram totalmente tomadas pelo volume da água, que mesmo com a baixa do nível do rio, segue dentro das residências de muitos moradores.

Foi na sexta-feira, dia 3 de maio, que a água invadiu a casa da irmã, que buscou abrigo com Eliani. No sábado, todos precisaram sair da região e encontraram refúgio na casa de parentes de cidades próximas, Esteio e Sapucaia.

 

​(*) Por Pâmella Atkinson – Agência Pública

 

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