
(Foto: djedzura/Depositephotos/gints.ivuskans)
Manaus (AM) – O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou no início da semana passada que aplicará tarifas de 25% sobre importações de aço no país. A medida não afeta apenas China e Canadá, mas também países do Hemisfério Sul, como o Brasil, impactando possivelmente a economia do Amazonas.
O Canadá, principal fornecedor estrangeiro de aço para os EUA, sentirá o peso da decisão, mas as tarifas também miram a China, responsável por mais da metade da produção global do metal. Segundo o Departamento de Comércio americano, em 2024, o Brasil foi o segundo maior fornecedor de aço para os Estados Unidos.
Nos últimos anos, os EUA lideraram a lista de compradores de aço e alumínio brasileiros. Com a nova taxação, empresas americanas do setor poderão ganhar vantagem competitiva, já que o aço importado do Brasil, Canadá e México ficará mais caro.
O economista e consultor empresarial Lauro Brasil, consultado pelo Portal AM1, avalia que a medida pode gerar dois efeitos principais: um aumento da oferta global de aço, reduzindo preços, ou um encarecimento de produtos nos EUA devido ao custo mais alto do material importado.
“Essa tarifa pode ter um efeito imediato: poderá haver um aumento da oferta de aço no mercado internacional, potencializando uma diminuição do preço. Alternativa 1: Essa redução de preço pode ser uma das consequências. Alternativa 2: Provavelmente, haverá um aumento do custo dos produtos nos Estados Unidos, já que esse aço chegará com um valor mais alto para os produtos no mercado americano. Isso pode, inclusive, levar a uma diminuição da participação do mercado internacional dentro do setor de aço dos EUA”, explicou Lauro Brasil.
Na análise do economista, a economia brasileira poderá sentir os impactos com a alta no custo de insumos importados.
“Isso ocorre porque o aço que sai da China e entra nos Estados Unidos pode ser transformado em outros insumos dentro da indústria, impactando, por sua vez, o Brasil no preço de bens intermediários e bens finais”, pontuou.
O Portal AM1 questionou o especialista sobre os possíveis reflexos na Zona Franca de Manaus (ZFM). Segundo ele, a medida pode aumentar os custos da indústria local, levando a uma reavaliação da cadeia produtiva e renegociação de contratos com fornecedores dos EUA e do Sudeste Asiático, principais parceiros da ZFM.
Outro ponto levantado foi a possibilidade de o Brasil adotar medidas de reciprocidade tarifária, como reafirmou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em entrevista à Rádio Pará na sexta-feira (14).
“Eu ouvi dizer que vai taxar o aço brasileiro. Se taxar o aço brasileiro, nós vamos reagir comercialmente, ou vamos denunciar na Organização do Comércio [OMC] ou vamos taxar os produtos que a gente importa deles”, disse o presidente Lula.
O economista reforçou que, caso os EUA aumentem tarifas de importação, o Brasil poderá seguir o mesmo caminho, utilizando o princípio da reciprocidade tributária.
“A partir do momento em que os Estados Unidos aumentarem suas tarifas de importação, o Brasil também será levado a aumentar suas barreiras tarifárias, o que resultará em um encarecimento dos insumos importados”, explicou Lauro Brasil.
Balança Comercial
Dados analisados pelo Portal AM1 no sistema de Balança Comercial do Amazonas mostram que, no ano de 2024, os principais produtos exportados para os EUA foram motocicletas (27,53%), óleos leves e preparações (19,42%), e máquinas e aparelhos para escritório. O aço não está entre os produtos enviados ao mercado americano.
Mesmo sem exportação direta de aço para os EUA, o presidente da Federação das Indústrias do Estado do Amazonas (FIEAM), Antonio Silva, destacou que a decisão de Trump pode afetar a economia nacional e, indiretamente, a economia do Amazonas, devido ao risco de desvalorização do real frente ao dólar.
“Os EUA são os maiores importadores de aço do Brasil, de modo que a sobretaxa tende a criar uma reserva de aço nacional que precisará ser escoada para outros mercados. Mas esse é um desafio complexo e que exigirá grande esforço dos agentes econômicos. Caso esse excedente não seja escoado, o real poderá sofrer forte desvalorização em relação ao dólar, considerando que haverá uma redução brusca da entrada de dólares no país”, explicou o presidente da FIEAM.

(Foto: Divulgação/Fieam)
O impacto pode se espalhar por toda a economia, reduzindo a produção nacional, aumentando o desemprego na indústria siderúrgica e encarecendo os custos de produção.
“Em estágio último, essa medida poderá implicar em retração da produção nacional e desemprego na indústria siderúrgica. Esses são fatores que aumentam os custos de produção das indústrias locais e podem desaquecer a economia brasileira, reduzindo o consumo e, consequentemente, a demanda por produtos fabricados no Polo Industrial de Manaus”, disse o presidente da Federação.
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