Manaus, 25 de abril de 2024
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Cidades

Vitimismo ou Racismo? Amazonenses comentam caso polêmico no BBB21

Durante o Castigo do Monstro, o cantor Rodolffo comparou a peruca de homem das cavernas com o cabelo black power do participante João Luiz

Vitimismo ou Racismo? Amazonenses comentam caso polêmico no BBB21

Foto: Reprodução

MANAUS, AM – Nos últimos dias, a edição 21 do Big Brother Brasil levantou um debate nas redes sociais. Durante o Castigo do Monstro, que ocorreu no último sábado (3), o cantor Rodolffo comparou a peruca de homem das cavernas com o cabelo black power do participante João Luiz. Incomodado com o comentário, o professor expôs a indignação, na segunda-feira (5), durante a dinâmica do “Jogo da Discórdia” e gerou um enxurrada de comentários na internet.

Internautas e famosos prestaram apoio ao brother, que após o discurso chorou e recebeu atenção dos outros participantes da casa.

“Isso, pra mim, tocou num ponto muito específico. O jogo ele pode ser, sim, de coisas que a gente vive aqui dentro, mas ele tem que ser um jogo de respeito”, disse o professor durante o discurso. Rodolffo ainda tentou se justificar, reafirmando que a peruca era semelhante com o cabelo do brother.

Veja o momento do comentário de Rodolfo sobre a peruca:

https://youtu.be/fZqwbl6YKdk

O vídeo é reprodução do Youtube

Entre apoio e críticas, ambos os lados apresentavam fundamentos para apoiar os participantes do jogo. Essa agitação não poderia ser diferente no Amazonas. Nas plataformas como Twitter, Instagram e Facebook, diálogos foram criados para saber qual lado é o certo. Vitimismo ou é racismo? Amazonenses entrevistados pelo Amazonas1 responderam o questionamento.

Para o estudante João Costa, de 20 anos, a comparação de Rodolffo é considerada racismo estrutural, pois a sociedade assemelha o cabelo black power como “algo sujo”.

“Ele compara o cabelo de João, que é muito bem cuidado, definido e limpo, com o cabelo cenográfico de um ‘homem das cavernas’, que é bagunçado, sujo e sem nenhum cuidado. É assim que, até hoje, muitas pessoas veem os cabelos e penteados de origem negra, como: as tranças box braids, o black power e os dreads, por exemplo”, comentou.

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Ele ainda destaca que é necessário se pôr no lugar do próximo, o que não foi feito pelo sertanejo, que ainda ressaltou a semelhança entre a peruca e o cabelo do outro participante.

“Eu estava assistindo o programa no dia, era visível que o João estava segurando o choro durante todo o seu discurso, mas não conseguiu conter as lágrimas quando, mesmo depois de externalizar a dor, o colega de reality reafirmou que o cabelo do João parece o de um homem das cavernas. Ele não teve nenhum arrependimento ou empatia com a dor do colega de confinamento. Foi como se tudo que ele disse não tivesse servido de nada”, explicou.

João acredita que o termo ‘mimimi’, o qual está sendo utilizado para abordar sobre o acontecimento é utilizado em um discurso de ódio e repúdio.

“Ele está sendo usado como argumento por quem não tem argumentos e/ou não sabe argumentar e acaba por minimizar e invalidar a dor alheia”, afirma. O estudante ainda relata que é possível adquirir informação sobre o tema, mas a internet, por exemplo, não é usada para este fim.

“O ‘foi sem querer’ não anula o ato. Logo, ele precisa de um complemento para que haja esperança de que quem feriu o outro não reproduza a mesma coisa depois com outras pessoas. Por exemplo, não dá mais para falar ‘foi sem querer, mas agora que sei do erro, vou pesquisar para entender sobre e não repetir'”, comentou.

Ele ainda ressalta que, para combater falas deste tipo, é importante estudar sobre pautas raciais e corrigir pensamentos estruturados. Além disso, o estudante afirma que a educação nas salas de aula é a base principal para que o racismo, ou comentários como o de Rodolffo, não voltem a acontecer.

Apenas uma brincadeira

Um ponto que foi mencionado nas redes sociais, e pelo próprio Rodolffo, era de que o comentário teria sido uma brincadeira. Logo, não existiu maldade da parte do sertanejo. Para o profissional de Educação Física, Gustavo Carneiro, 21, o brother não teve a intenção de magoar João Luiz. Como o cantor explicou no confinamento, o cabelo do professor é igual ao do pai, sendo assim, não teria motivos para um ataque racista, pois estaria ferindo as pessoas da família.

“Existem vários outros casos de racismo muitos mais pesados que ocorrem nas favelas, por exemplo. Entretanto, vai da interpretação de casa pessoa, mas na minha opinião, o que aconteceu no BBB não foi racismo”, disse.

Ele ainda ressalta que o comentário de Rodolffo é considerado ‘bobo’, em comparação a casos que acontecem na sociedade.

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Ele ainda acredita que a sociedade está fragilizada com qualquer tipo de comentário que seja feito, sendo considerados como homofóbicos, racistas, machistas, entre outros. O profissional acredita que as pessoas estão passando dos limites em relação à militância.

“Vendo o programa, meu tio comentou que a cor dele é muito mais escura do que a do participante. Ele sofreu preconceito, mas nunca se abalou com a discriminação”, relatou.

O profissional ainda acredita que houve um equívoco na interpretação do comentário, e que o participante João deveria ter pensado antes de falar. Apesar de não concordar com a causa do diálogo no BBB21, ele afirma que o racismo afeta o psicológico da pessoa que sofre com isso. Para evoluir, as pessoas devem olhar para o mundo e ver o que acontece ao redor, porque várias pessoas sofrem com outros tipos de insultos”,  comentou.

O autônomo Lucas Brito, 23, afirma ser imparcial em relação a este assunto. No entanto, ele acredita que as pessoas defendem aquilo que lhes convém.

“Outras coisas aconteceram na casa e ninguém se manifestou. Quando ocorreu com uma pessoa que é querida por todos os participantes, na mesma hora foram prestar apoio”, comentou.

Ele ainda ressalta que espera que a sociedade seja coerente em assuntos de pautas sociais como um todo. “Quem sabe um dia nós, seres humanos, sejamos coerentes um com o outro ao ponto de amar nosso próximo como nós mesmos”, disse.

Educação racial nas escolas

A pedagoga Simone Corugeira, 40, comenta que, dentro da escola, esse tipo de comentário é considerado como bullying.

“Essas situações acontecem, muitas vezes, dentro de casa. A criança cria uma forma de rejeição da aparência física do outro, ao escutar apelidos como ‘neguinho’, ‘gordinho’, ‘dentuço’, entre outros. Os adultos agem assim dentro de casa e a criança acha que é natural se referir dessa maneira ao outro”, explicou.

Ela diz que a escola faz um apoio pedagógico com os alunos que praticam o bullying, que, por muitas das vezes, não é reconhecido pelo praticante.

“Na televisão, o Rodolffo falou de uma maneira espontânea, pois ele está acostumado com esse tipo de brincadeira. É algo que já faz parte da rotina, pois foi assim que ele cresceu”, disse.

“A escola trabalha o respeito mútuo. Ensinamos às crianças que ninguém é melhor por causa do tom de pele, por conta da textura do cabelo ou da fisionomia”, ressaltou. A pedagoga ainda conta que as pautas sociais são trabalhadas com todas as turmas do ensino fundamental. Nas séries mais avançadas, que são compostas por crianças de 7 a 11 anos, é trabalhado a questão do racismo. Com as outras classes, o respeito e o lema de que todos são iguais são abordados, mas com cautela, já que as crianças têm entre 5 e 6 anos.

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“No meu entendimento, o Rodolffo não demonstrou preconceito. Ele achou que era natural fazer uma comparação, pois dentro dos conceitos que ele acredita, fazer esse comentário é normal. Ele não teve a intenção de magoar o João Luiz”, contou a pedagoga.

A pedagoga afirma que é necessário que as escolas devem aprofundar mais sobre a cultura afro-brasileira. “Não só os professores, mas todos que trabalham com a educação precisam desse conhecimento. Precisamos de mais materiais para abordar essa pauta, com isso, as crianças saberiam como agir diante da figura negra”, contesta.

Simone ainda diz que na escola é fundamental trabalhar a pauta racial. Ela ainda ressalta a descendência negra e que esse fator é importante para que os alunos entendam a origem dos povos que formaram a sociedade brasileira.

“A religião, as comidas típicas, o modo de se vestir, a cultura em si, o que falta é trabalhar dentro das escolas essas pautas sociais nas escolas e com as famílias”, destacou.

“A família tem um papel fundamental na escola. Não adianta a equipe pedagógica explicar e mostrar para o aluno, se dentro de casa, os familiares não praticam esse respeito com o próximo”, disse.

A pedagoga afirmou que se for trabalhado as pautas sociais dentro da escola, junto com a comunidade escolar, as crianças vão compreender de maneira didática e, sendo a nova geração, vão saber respeitar todas as causas.