Manaus (AM) – O peixe queridinho dos amazonenses, o jaraqui, pode estar em risco devido a intensa atividade pesqueira nas últimas décadas. Essa pesca excessiva tem gerado consequências preocupantes para a espécie, segundo os pesquisadores.
Os autores de um estudo sobre o peixe recomendam que o jaraqui seja incluído na lista de pesca proibida durante o período de defeso no estado do Amazonas, enquanto outras pesquisas são realizadas para desenvolver um plano de manejo e regulamentação adequados para sua pesca sustentável.
Além dos desafios da sobrepesca, o jaraqui também sofre com a degradação do meio ambiente, especialmente devido ao desmatamento, um problema que afeta todas as espécies da região. Portanto, segundo os pesquisadores, é imprescindível adotar ações efetivas para conservar o habitat natural do jaraqui, garantindo assim a continuidade dessa importante espécie na Amazônia.
Considerando a relevância econômica do jaraqui, responsável por uma significativa parcela do desembarque pesqueiro, seu papel ecológico na ciclagem dos nutrientes, e seu valor cultural enraizado, sendo inclusive reconhecido como patrimônio cultural imaterial de Manaus por lei, a equipe liderada pela pesquisadora e professora Izeni Farias, do Departamento de Genética da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), considerou importante avaliar a saúde genética dessa espécie.
Os pesquisadores coletaram amostras de jaraqui em diversas localidades ao longo da bacia amazônica, abrangendo os rios de água preta, branca e clara, nos estados do Amazonas e Pará.
“Nossas análises tinham como objetivo não apenas compreender a diversidade genética da espécie, mas também sua distribuição entre as diferentes localidades e sua história demográfica. Os resultados revelaram que o jaraqui apresenta alta diversidade genética em todas as áreas amostradas, constituindo uma única população em toda a bacia Amazônica. No entanto, ao examinarmos a história demográfica da espécie, notamos que ela está enfrentando um gargalo populacional. Apesar da diversidade genética aparentemente ainda ser elevada, a espécie vem perdendo diversidade rapidamente ao longo do tempo, o que é um claro sinal de sobrepesca”, explica a bióloga Ingrid Nunes, primeira autora do trabalho publicado em julho na revista PeerJ.
O jaraqui é uma espécie fundamental para o equilíbrio do ecossistema amazônico. Ele desempenha um papel crucial na dispersão de sementes de árvores frutíferas, garantindo a reprodução e a diversidade das florestas tropicais. Além disso, o peixe também é uma importante fonte de alimento para as comunidades ribeirinhas, sendo essencial para a segurança alimentar e a subsistência de muitas famílias.
No entanto, a demanda crescente pelo jaraqui tem levado à sobrepesca em várias regiões do Amazonas. A utilização de técnicas predatórias e pouco sustentáveis, como redes de arrasto de grande porte e pesca durante o período de reprodução, tem causado uma drástica redução nos estoques naturais do peixe. A falta de regulamentação e fiscalização adequadas também contribui para a exploração excessiva.
Como a espécie de peixe mais consumida na região amazônica, o jaraqui é responsável por aproximadamente 93% do total de capturas pesqueiras na Amazônia central. Entretanto, estudos recentes apontam que a sobrepesca, que ocorre quando retiramos da natureza mais indivíduos do que a espécie consegue repor através de reprodução, já causa desequilíbrio em suas populações.
O impacto imediato dessa atividade é a redução do número de exemplares dessa espécie, mas ao longo do tempo, essa diminuição também pode afetar a diversidade genética. Tal diversidade é de extrema importância, pois reflete o potencial adaptativo da espécie frente às mudanças ambientais. Isso inclui a resistência a doenças, capacidade de lidar com poluentes, variações de temperatura e outros desafios que os indivíduos enfrentam ao longo de suas vidas.
Conforme a professora e pesquisadora Izeni Farias, felizmente, o peixe ainda possui uma grande diversidade genética, o que lhe confere uma maior capacidade de adaptação.
“A conservação da espécie depende não apenas dela própria, mas também de medidas específicas para garantir sua sobrevivência, e isso é nossa responsabilidade, se queremos que a pesca desta espécie seja sustentável”, disse a pesquisadora.
Ao longo das últimas décadas de exploração, para minimizar esse impacto, os pescadores adaptaram suas redes para evitar a captura de exemplares mais jovens. Adicionalmente, estudos sobre a reprodução do jaraqui sugerem que os indivíduos estão alcançando a maturidade sexual de forma prematura. De forma alarmante, análises genéticas indicam uma significativa redução no tamanho da população, corroborando a hipótese de que a sobrepesca esteja afetando a espécie.
(*)Com informações do Canal Três
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