
O Amazonas apresentou aumento na Taxa de Mortalidade Infantil, aponta Ministério da Saúde (Foto: Reprodução/Freepik)
Manaus (AM) – De 2020 a 2022, o Amazonas apresentou um aumento na Taxa de Mortalidade Infantil, aponta dados do Ministério da Saúde. A informação está disponível no DataSUS.
O índice de mortalidade infantil no estado é superior a média nacional; com 15,69 para cada mil nascidos vivos – um número alarmante de 1.138 óbitos de crianças com 1 ano ou menos.

O índice de mortalidade infantil no estado é superior à média nacional (Foto: Captura de Tela/Primeira Infância Primeiro)
Ainda segundo informações do Ministério da Saúde, com os recortes de raça/cor, a taxa de mortalidade infantil é superior entre crianças pardas, com 64,67%, e crianças indígenas 18,17%.
Índice de Desenvolvimento Humano (IDH)
A mortalidade infantil é um indicador essencial para a classificação do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de uma região. Além de escancarar as feridas da desigualdade socioeconômica que existem entre continentes, países, estados e cidades.
O Ministério da Saúde explica, por meio do Boletim Epidemiológico, que os valores elevados podem refletir nas condições precárias de saúde e desenvolvimento social.
“A mortalidade infantil é um importante indicador de saúde e condições de vida de uma população. Com o cálculo da sua taxa, estima-se o risco de um nascido vivo morrer antes de chegar a um ano de vida. Valores elevados refletem precárias condições de vida e saúde e baixo nível de desenvolvimento social e econômico”, explica o Ministério da Saúde.
O Brasil apresentou uma evolução promissora dos anos 2000 até, com uma redução de 60% nos índices de mortalidade infantil. Entretanto, globalmente, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), o relatório, divulgado pelo Grupo Interinstitucional das Nações Unidas para Estimativa da Mortalidade Infantil (UNIGME) aponta particularidades da África Subsaariana e no Sul da Ásia, onde a mortalidade infantil permanece com estimativas elevadas.
No Amazonas
Entretanto, apesar de algumas regiões do país terem apresentado sinais positivos relacionados ao combate à mortalidade infantil, outras ainda possuem taxa acima da média nacional. As cidades do Amazonas possuem particularidades nos índices da mortalidade infantil.
A região do Rio Juruá, segundo informações da Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas Dra. Rosemary Costa Pinto (FVS-RCP/AM), aponta os índices mais elevados de mortalidade infantil, com o percentual superior à 28,6 nas cidades de Carauari, Eirunepé, Envira, Guajará, Ipixuna e Itamarati. Os dados foram atualizados em junho de 2024.

Indicador 15 Taxa de mortalidade infantil – (Foto: Captura de Tela/Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas Dra. Rosemary Costa Pinto)
Ocupando o segundo lugar nos índices de mortalidade infantil do Amazonas, a região do Alto Solimões, que corresponde aos municípios de Amaturá, Atalaia do Norte, Benjamin Constant, Fonte Boa, Jutaí, Santo Antônio de Içá, São Paulo de Olivença, Tabatinga, Tonantins, apresenta uma taxa de 19,9 nesse primeiro semestre de 2024.

Indicador 15 Taxa de mortalidade infantil (Foto: Captura de Tela/Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas Dra. Rosemary Costa Pinto)
A menor taxa de mortalidade infantil do estado do Amazonas se encontra nas regiões dos rios Negro e Solimões, que correspondem aos municípios de Anamã, Anori, Beruri, Caapiranga, Codajás, Manacapuru e Novo Airão.
No primeiro semestre de 2024, o indicador apontou uma taxa de 10,4.

Indicador 15 Taxa de mortalidade infantil (Foto: Captura de Tela/Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas Dra. Rosemary Costa Pinto)
Questões Sociais
O cientista político, Helso Ribeiro, explica que para solucionar esse ‘atraso socioeconômico’ da região é necessário um trabalho conjunto das esferas públicas.
“Algumas cidades, como Manaus, por exemplo, alguns bairros, como a Ponta Negra, têm um IDH equivalente ao da Bélgica. No entanto, a grande maioria do interior possui um IDH péssimo, o que reflete, evidentemente, na alta mortalidade que observamos. E enquanto isso não for atacado nas três esferas, teremos apenas arremedos. A prefeitura de Itamarati – município no interior do Amazonas – por exemplo, não consegue resolver isso sozinho; é necessário a ajuda do Estado e da União.”, explana o especialista.
Além disso, Helso Ribeiro entende que as feridas da desigualdade social foram evidenciadas, especialmente, durante período pandêmico. A inexistência de leitos de UTI e a precarização do atendimento de pré-natal são alguns dos indicadores citados pelo cientista político.
“A gente observou na pandemia, por exemplo, que isso criou uma realidade que muitos conheciam e que é triste: não havia leitos de UTI no interior. Como é o atendimento pré-natal das pessoas, das mulheres grávidas no interior? Péssimo. Então, enquanto isso não for resolvido, continuaremos batendo esses recordes nada dignos de aplausos”, pontua.
O cientista político destaca que para resolver as mazelas relacionadas a solução seria uma presença intensa do Estado nessas regiões mais carentes de políticas públicas.
“Eu não vejo grandes alternativas a não ser uma presença maciça do Estado. Com hospitais e com tratamento adequado para as mulheres grávidas. Muitas vezes, essa mortalidade infantil vem de uma carência orgânica durante a gravidez. Além disso, são necessários partos humanizados e tratamentos ambulatoriais. No entanto, acredito que isso vai demorar um pouco, porque o Estado é carente. Se analisarmos a fundo, vamos observar que a realidade é extremamente dura. Portanto, enquanto essa política não for implementada, acredito que continuaremos patinando nessa situação triste”, analisa Ribeiro.
Retomadas de programas sociais
O sociólogo e professor da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), Luiz Antonio Nascimento, aponta que a baixa cobertura vacinal pode ser um dos fatores para esse número elevado da mortalidade infantil. Além disso, pontua a necessidade de criar campanhas de conscientização e a retomada de programas sociais.
“É necessário fazer uma campanha de forte mobilização usando formadores de opinião, atores, atrizes, influenciadores digitais, etc., para garantir que essas crianças sejam vacinadas. E ainda recuperar os programas de aleitamento materno e os programas de fortalecimento e administração, para garantir que essa garotada possa ter uma vida melhor. Se a criança não estiver vacinada e bem alimentada ela ficará exposta à doenças, especialmente aquelas que são doenças da pobreza.”, avalia
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