
Ao lado do governador Wilson Lima, Brena Dianná reuniu uma multidão no lançamento da pré-campanha - (Foto: Divulgação/Ascom)
Manaus (AM) – Multidões em caminhadas e carreatas cantando a música do candidato de coração, segurando bandeiras com a determinação de soldados indo para a guerra. Esse é um cenário comum durante campanhas políticas nos municípios do Amazonas, dando a impressão de que as disputas eleitorais no interior são mais fervorosas do que na capital.
A empolgação, inclusive, já começa durante a pré-campanha, como pode ser visto no lançamento das pré-candidaturas em municípios como Parintins, onde a vereadora Brena Dianná, candidata do União Brasil e apoiada pelo governador Wilson Lima, arrastou uma multidão para o evento.
O principal adversário dela na disputa, o vereador Mateus Assayag (PSD), também reuniu um expressivo número de pessoas durante o lançamento de sua pré-candidatura. O parlamentar é apoiado pelo atual prefeito Bi Garcia (PSD), que não pode disputar a reeleição, já que está em seu segundo mandato.
Situação semelhante ocorreu em Itacoatiara. O lançamento da pré-candidatura à reeleição do prefeito Mário Abrahim (Republicanos) foi marcado pela presença de uma multidão no campo do Fast no município.
Segundo o sociólogo Luiz Carlos Marques, esse comportamento pode ser atribuído a vários fatores. Primeiramente, a proximidade entre eleitores e candidatos no interior é significativamente maior.
“Em pequenas cidades e comunidades, os candidatos, muitas vezes, são figuras conhecidas e próximas da população, seja por laços familiares, amizade ou pelo simples fato de serem moradores locais. Essa proximidade facilita o engajamento direto e pessoal, levando os eleitores a se sentirem mais compelidos a apoiar ativamente seus candidatos”, explica.
Além disso, a disputa política no interior tende a ser mais acirrada devido à menor quantidade de eleitores. Em comunidades menores, cada voto tem um peso maior, tornando cada eleitor uma peça-chave na definição dos resultados. Essa realidade intensifica a competição entre candidatos, que buscam, a todo custo, garantir o apoio de cada cidadão.
Outro ponto destacado pelo sociólogo é a carência de serviços e infraestrutura no interior, que faz com que as promessas de campanha tenham um impacto direto e mais significativo na vida dos eleitores. A população, muitas vezes, vê uma oportunidade crucial nas eleições a fim de melhorar suas condições de vida, aumentando a mobilização e o engajamento durante o período eleitoral.
“O comportamento do eleitor no interior também é influenciado por uma cultura política mais comunitária e participativa. As decisões políticas tendem a ser discutidas de forma coletiva, com grande envolvimento da comunidade – o que cria um ambiente mais polarizado e apaixonado durante as campanhas”, pontua.
Aproximação com o eleitor
Vanilson Holanda, que já foi coordenador de campanha política para prefeito em Manaquiri, explica que a estratégia mais eficaz na campanha eleitoral no interior é a das visitas, o chamado corpo a corpo. Seja nas comunidades rurais ou na zona urbana, o povo se sente mais à vontade para expressar seu apoio ao candidato desejado.
“A empolgação é enorme. As pessoas abraçam realmente a campanha de seu candidato, chegando de barco, canoa com motor-rabeta, lanchas ou até mesmo remando, com esperança de dias melhores para o município. A empolgação nas caminhadas é contagiante, com muitos fogos de artifício e muita alegria, criando uma atmosfera inesquecível”, conta Vanilson.
O que muda é a estrutura do processo
Para o cientista político Helso Ribeiro, o cenário eleitoral na capital e no interior do Amazonas é similar em termos de vigor e força. No entanto, segundo ele, a diferença reside na estrutura do processo eleitoral.
“No Brasil, para as eleições de prefeito e vice-prefeito, caso a cidade tenha mais de 200 mil eleitores e nenhum candidato obtenha 50% mais um dos votos, haverá um segundo turno. Por exemplo, em Manaus, que atualmente possui nove pré-candidatos, as pesquisas e a tradição indicam que haverá um segundo turno. O primeiro turno será no dia 6 de outubro e o segundo turno, se não me falha a memória, no dia 27, no último domingo de outubro”, explica.
De acordo com Ribeiro, no Amazonas, apenas Manaus possui mais de 200 mil eleitores. Nenhum outro município atinge essa quantidade; os maiores têm entre 101 mil e 105 mil eleitores, não alcançando o número necessário para um segundo turno. Ele explica que, nos municípios do interior, a eleição é decidida em um único turno.
“Se houver cinco candidatos e um tiver apenas um voto a mais que os outros, ele é o eleito. Isso torna o processo mais acirrado, pois não há a perspectiva de um segundo turno, é uma única oportunidade”, pontua.
Compra de votos
Outra questão que acontece bastante durante as campanhas políticas, principalmente no interior, é a tentativa de compra de votos dos eleitores. Os candidatos tentam driblar a polícia para oferecer algum valor aos eleitores em troca do voto, geralmente, na noite anterior ao pleito.
Na eleição de 2020, o prefeito de Tonantins, que buscava a reeleição, Lázaro de Souza Martins (PP), conhecido como “Curica”, foi preso em flagrante na própria casa com dinheiro em espécie. A suspeita é que o dinheiro seria usado para comprar votos.
Também em 2020, um homem foi detido portando R$ 104,3 mil em Atalaia do Norte. A suspeita era que o dinheiro também seria usado na compra de votos.
Em Tefé, na madrugada do dia da eleição, 15 de novembro, santinhos de candidatos, dinheiro em espécie e até uma caixa com garrafas de cachaça foram apreendidos pelas polícias Federal e Civil em uma ocorrência, em flagrante, de compra de votos.
Já neste ano, no mês de maio, durante o período de pré-campanha, um vídeo flagrou integrantes da campanha de Nildo Colares (Mobiliza), que disputará a Prefeitura de Borba, e de seu vice, Cláudio do Zezão (MDB), apoiados pelo atual prefeito Simão Peixoto, jogando dinheiro para a população.
No vídeo, que circula nas redes sociais, é possível ver membros da organização em cima de uma picape jogando notas de R$ 50 para as pessoas que acompanhavam o evento de lançamento da pré-candidatura de Nildo.
Eleição
Neste ano, mais de 2,6 milhões de amazonenses vão às urnas escolher seus representantes nas eleições municipais, que elegem prefeitos, vice-prefeitos e vereadores. A data do primeiro turno, definida pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), será no primeiro domingo de outubro, dia 6. Já o segundo turno, acontece no último domingo do mês, que será dia 27.
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