
Foto: divulgação
Manaus (AM) – Com o acesso à informação ampliado pelas redes sociais, ficou muito mais escancarado que a violência contra a mulher só vem aumentando, e os casos de feminicídio ficaram muito mais à mostra do conhecimento da população. Conforme a Secretaria de Segurança Pública do Amazonas (SSP-AM), no ano de 2024, 23 feminicídios foram registrados no Amazonas. Em todo o país, foram 1.128 mortes por feminicídio, segundo os dados do Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública (Sinesp).
Diante desse cenário, uma onda de preocupação tem sido gerada, e muitas mulheres relatam que vivem em estado de alerta. Algumas até evitam relacionamentos por medo da violência.
O Portal AM1 conversou com algumas mulheres que compartilham esse receio.
Sem boas referências
“Eu fiz uma escolha na vida de seguir sozinha, de continuar solteira. Eu gosto da minha vida de solteira e eu não tive muitos exemplos de casamentos duradouros, baseados na confiança e no amor. Conheço muitas mulheres que passam por problemas de relacionamento abusivo, e isso eu não quero para mim. É aquela história de aprender com os erros dos outros”, declarou Sephora Melo, de 38 anos.
Porém, apesar de priorizar a carreira profissional, Sephora diz que não se priva totalmente, caso venha conhecer alguém de bom caráter.
“Eu estou solteira, gosto de ser solteira, sou feliz solteira; mas eu não me fecho. Se eu conhecer uma pessoa legal, confiável, que depois de uma pesquisa, uma investigação sobre a vida, ver de fato que a pessoa é uma pessoa idônea, eu não me privaria caso viesse me apaixonar, amar, enfim. Mas, hoje, eu priorizo a minha vida profissional e não relacionamento. Diz o ditado: ‘antes só do que mal acompanhado’”, avaliou.

Sephora Melo (Foto: Arquivo/Pessoal)
Antes só do que mal acompanhada
A acadêmica de enfermagem Gabriela Ribeiro, de 21 anos, ressalta que tem medo da violência; por isso, no momento, ela opta por estudar e ficar solteira.
“Eu tenho muito receio de me envolver e casar com a pessoa errada. Então, hoje, eu ainda penso que ficar sozinha é a melhor opção do que ficar com homens que sejam violentos, e acontecer o que a gente vê nas reportagens: mulheres sendo vítimas de violência física e psicológica […] prefiro ficar sozinha do que me casar”, afirmou a estudante.

Gabriela Ribeiro (Foto: Arquivo/Pessoal)
Sentiu na pele
Para outras mulheres, a sensação de insegurança surge não somente de ver casos estampados na mídia, mas, sim, por já vivenciarem um relacionamento abusivo. Eliza Villagelim, de 37 anos, conta que viveu em um casamento abusivo por 16 anos. Da relação, o casal tem um fruto: um filho de 15 anos.
“Eu vivi num casamento de 16 anos. Ele era um homem abusivo. Hoje, estamos divorciados há dois anos, mas meu maior receio é de assumir uma nova relação e ser perseguida pelo meu ex”, relatou a mulher.
Mesmo com a Lei Maria da Penha (Lei n.º 11.340), criada em 7 de agosto de 2006, para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher, ainda, sim, o medo persiste.
“Sabemos que existem leis que, de certa forma, nos amparam; mas o homem sempre tenta burlá-las e cometer suas chantagens emocionais, suas pressões psicológicas. Eu me sinto completamente insegura. Tenho medo de ser seguida, me sinto vigiada, porque ele sempre busca informações da minha vida, e tenho medo também de fazer BO, justamente pela reação dele, contou em entrevista Villagelim.

Eliza Villagelim (Foto: Arquivo/Pessoal)
Escolha pelo bem-estar
Emanuelle Oliveira, que é solteira, segue a linha de pensamento de priorizar seu próprio bem-estar e destaca que a rede de apoio é importante para ajudar mulheres que estão em um relacionamento abusivo.
“Diante desse aumento alarmante de casos de feminicídio, a escolha pela segurança e pelo bem-estar é fundamental para evitar situações de violência e também preservar a saúde física e emocional. E também é importante buscar apoio e informação para reconhecer e sair do relacionamento abusivo”, declarou.
Divulgação de casos ajuda a alertar mulheres, explica especialista
Para a socióloga Bianca Rocha, a grande divulgação dos casos de feminicídio contribue positivamente para a força da mulher, que ao ver mulheres sofrendo, já tenta se antecipar em não cair na mesma situação de vulnerabilidade perante um homem violento.
“A crescente violência contra as mulheres pode, sim, ser um fator que leva as mulheres a preferirem seguir sozinhas. O medo de sofrer abusos físicos, emocionais e psicológicos vai fazer também com que elas escolham ficar sozinhas, e, assim, comecem a priorizar a sua independência e buscar mais bem-estar para elas próprias.”
Influência por meio das mídias
Além disso, a especialista explica que a ampliação de campanhas de conscientização nas mídias tradicionais e redes sociais também influenciam na independência e autonomia de uma mulher. Mas Bianca Rocha ressalta a necessidade de existir políticas públicas que sejam mais eficazes.
“Nós podemos citar também que o aumento da conscientização nas redes sociais, jornais e revistas, sobre os casos de relacionamentos abusivos e até a autonomia feminina também contribuem para a escolha de ficar só. A autonomia econômica é um fator que permite que a mulher não fique presa a um relacionamento abusivo. Logo, a independência financeira desta mulher vai aumentar a sua segurança e reduzir a sua vulnerabilidade a situações de violência. Só que é importante também a gente tentar compreender que a luta contra o feminicídio é muito além dessa independência financeira, deve envolver políticas públicas, uma proteção eficaz e, sem sombra de dúvidas, mudanças culturais para a gente erradicar de vez essa violência contra a mulher. Ou seja, a independência financeira é importantíssima para trazer a autonomia, mas nós temos que contar com essas outras diretrizes para fazer com que essa violência diminua ou acabe de vez”, complementou a socióloga Rocha.

Socióloga Bianca Rocha (Foto: Arquivo/Pessoal)
Onde denunciar?
Casos de violência contra a mulher podem ser denunciados pelos seguintes números: 180, da Central de Atendimento à Mulher; e 181, da SSP-AM.
As denúncias também podem ser feitas presencialmente nas Delegacias Especializadas em Crimes contra a Mulher (DECCMs). A DECCM Centro-Sul está localizada na avenida Mário Ypiranga Monteiro, no bairro Parque Dez de Novembro, e funciona 24 horas por dia, em regime de plantão, para registro de ocorrências.
A DECCM Norte/Leste está situada na avenida Nossa Senhora da Conceição, no bairro Cidade de Deus, zona Norte. Já a DECCM Sul/Oeste fica na rua Desembargador Felismino Soares, no bairro Colônia Oliveira Machado, zona Sul. Ambas funcionam de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h.
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