MANAUS, AM – Responsáveis pela aplicação ilegal de hidroxicloroquina nebulizada em pacientes com Covid-19, os médicos Michelle Chechter e Gustavo Maximiliano Dutra atuaram por cinco dias na rede pública do Amazonas. No entanto, eles receberam pagamentos que, somados, chegam a três meses de trabalho.
Chechter recebeu dois meses de trabalho da Secretaria de Saúde do Amazonas (SES). A reportagem confirmou a informação e identificou, por meio do portal da transparência do Amazonas, o pagamento de um mês para Dutra.
Pelo trabalho de “médico intensivista temporário” Chechter, que é ginecologista e obstetra, ganhou, líquidos, R$ 11.801,29, em fevereiro, e R$ 12.767,95, em março. O marido, com a mesma especialização e pelo mesmo trabalho, recebeu R$ 12.767,95, em março.
Contratação dos médicos
Ambos foram contratados em fevereiro pela SES para atuar na segunda onda da epidemia em Manaus. A contratação ocorreu por meio de um banco de recursos humanos disponibilizado pelo Ministério da Saúde.
Durante os cinco dias em que atuou no Instituto da Mulher Dona Lindu (IMDL), o casal aplicou a nebulização com um comprimido de hidroxicloroquina macerado. Duas pacientes, ambas puérperas, receberam o procedimento. Porém, outros três casos de mulheres grávidas que morreram na unidade hospitalar estão sob investigação.
Uma das pacientes, Jucicleia de Sousa Lira, 33, teve a aplicação de nebulização gravada e distribuída em redes sociais por Chechter. O vídeo continuou circulando mesmo após a morte de Lira, em 2 março. O ministro Onyx Lorenzoni (Secretaria-Geral) publicou-o em 20 março no Twitter, que apagou o post após o caso ter sido revelado pelo jornal Folha de S.Paulo.
Em entrevista à TV Globo na época, Chechter disse, na entrada do IMDL, que “está usando aqui bastante a hidroxicloroquina” em gestantes com Covid-19.
A SES disse que “está solicitando o ressarcimento pelos valores pagos indevidamente aos médicos” e que afastou Chechter após a nebulização. O seu marido então renunciou por conta própria, segundo a pasta.
Sindicância
Apesar da prática ilegal, a SES não denunciou o casal ao Ministério Público ou à polícia, mas afirma ter aberto uma sindicância interna.
A Conep (Comissão Nacional de Ética em Pesquisa), instância do Conselho Nacional de Saúde e vinculada ao Ministério da Saúde, pediu ao Ministério Público Federal que investigue a conduta de Chechter.
Para a comissão, o tratamento experimental liderado pela médica se tratou de pesquisa clínica com seres humanos, sem autorização da instância regulatória ética. Além disso, o casal não respeitou às normas de ética em pesquisa vigentes no país.
Por exemplo, segundo a comissão, a médica infringiu substancialmente o Código de Nuremberg. Ela também passou por cima de outros documentos internacionais de bioética, como a Declaração Universal sobre Bioética e Direitos Humanos da Unesco.
A reportagem voltou a solicitar uma entrevista ao casal por meio da clínica onde os dois trabalham em São Paulo, mas não obteve resposta até a publicação deste texto.
*Com informações da Folhapress
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