Manaus, 30 de junho de 2024
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Manaus, 30 de junho de 2024

Brasil

Cobertura vacinal do Brasil sofreu grande impacto devido à desinformação, diz cientista político

De 2018 a 2020, houve uma queda na cobertura vacinal da pentavalente. A porcentagem, que antes alcançava índices próximos a 100%, alcançou números abaixo de 80%.

Cobertura vacinal do Brasil sofreu grande impacto devido à desinformação, diz cientista político

Cobertura Vacinal do Brasil sofreu grande impacto devido à desinformação, diz cientista político (Foto: Fábio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil/ Arquivo)

Manaus (AM) – Dados levantados pelo Instituto de Métricas e Avaliação de Saúde (IHME) da Universidade de Washington, publicados em 2017, na revista The Lancet, apontavam o Brasil como um dos líderes mundiais em cobertura vacinal, com 99,7% da população-alvo imunizada no ano anterior.

Entretanto, com a crescente do negacionismo científico, a realidade não é a mesma. No primeiro semestre de 2024, o Brasil registrou 115 casos confirmados de coqueluche, segundo informações registradas no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) do Ministério da Saúde (MS), atualizadas no dia 6 de junho deste ano.

A doença

A ‘tosse comprida’ ou popularmente conhecida como ‘coqueluche’ é uma doença respiratória transmissível. A propagação infecciosa pode ocorrer via gotículas de saliva através do espirro, tosse ou mesmo durante a fala. Ela afeta predominantemente crianças, podendo levar a sérias complicações e, em casos mais críticos, até a óbito.

O infectologista da rede de Hospitais São Camilo, de São Paulo, doutor Igor Marinho, explica que a coqueluche afeta o sistema respiratório e pode ocasionar um quadro de tosse aguda aos infectados.

“A coqueluche é uma doença respiratória causada por um agente, que é o Bordetella pertussis. Ela ocasiona um quadro de tosse aguda, que acaba acontecendo de forma exacerbada, comprometendo a função respiratória dos pacientes. Além disso, os pacientes podem apresentar dor no corpo, mialgia, febre e outros sintomas, como dor abdominal.”, esclare o infectologista.

A vacinação contra a coqueluche está prevista no calendário vacinal infantil do Ministério da Saúde (MS) e é disponibilizada pelo Sistema Único de Saúde (SUS). A prevenção é realizada mediante três doses da pentavalente (difteria, tétano, pertussis, hepatite B recombinante e Haemophilus, influenza e B conjugada) aplicada ao longo do primeiro ano de vida da criança – aos 2, 4 e 6 meses.

O infectologista Igor Marinho ressalta que a vacinação é uma forma efetiva de prevenção contra a doença e esclarece que a redução nos índices de vacinação gera preocupação.

“Com a ocorrência da vacinação, que está indicada no calendário vacinal pelo SUS, a gente consegue uma redução significativa na incidência da doença e, com isso, controlar de uma maneira muito importante a doença em todo o país. De certa forma, preocupa um pouco a queda dos índices de vacinação que a gente tem observado nos últimos anos, porque isso acaba sendo um fator para o retorno da doença, principalmente, nessa fase de tempo mais seco e frio, que é quando a gente costuma ter a possível disseminação maior das doenças respiratórias de um modo geral”, explica.

Preocupações

Apesar da distribuição gratuita da vacinação contra a coqueluche no SUS, a incidência de casos da doença no Brasil preocupa, uma vez que de 2018 a 2020, houve uma queda na cobertura vacinal da pentavalente. A porcentagem, que antes alcançava índices próximos a 100%, alcançou números abaixo de 80%.

Segundo o cientista político Helso Ribeiro, o negacionismo científico possui uma grande responsabilidade na queda da cobertura vacinal no país. Conforme Helso, o Brasil já foi considerado um país-modelo no cenário de vacinação mundial.

“O ex-presidente Bolsonaro insistiu num discurso negacionista e, quando chegou a vacina, ele desacreditou. Ele dizia: “de onde é a vacina?” e começou a criticar a ciência. […] Era um absurdo. Ele, o ex-presidente Bolsonaro, se recusaria a tomar a vacina. O que ocorreu? Muitas pessoas morreram em decorrência da covid, o que é lastimável. E outras tantas passaram a questionar a vacinação como um todo. Tem muitos municípios que têm dados alarmantes. Passaram a não vacinar as crianças com a tríplice: sarampo, coqueluche, difteria, febre-amarela. Enfim, todas as vacinas que, até então, o Brasil estava em dia passaram a ser questionadas e, infelizmente, o resultado é drástico”, explana Ribeiro.

Helso Ribeiro acredita que a internet e as redes sociais contribuíram, de certa forma, para a disseminação da desinformação relacionada às vacinas.

“[…] Então, a grande maioria ouvia. Isso era propagado para centenas de milhões de pessoas. Ouvia-se, às vezes, até aviso, tipo o aviso do Jornal Nacional, que a pessoa colocava lá o aviso do Jornal Nacional e disseminava a notícia falsa. Muitos, que não são tão esclarecidos, incautos, acabam acreditando e, de certa forma, a cobertura vacinal do Brasil sofreu um impacto por conta dessas falsas informações”, completa o cientista.

 

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