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Economia

Competição da Airbus e oportunidade militar definem acordo com Boeing, diz Embraer

Os acionistas da Embraer levarão, caso aprovem o negócio como é esperado pelos negociadores, US$ 1,6 bilhão em dividendos para casa.

Competição da Airbus e oportunidade militar definem acordo com Boeing, diz Embraer

Competição da Airbus e oportunidade militar definem acordo com Boeing, diz Embraer. (Foto: Reprodução)

A entrada da gigante europeia Airbus no mercado de aviação regional e as oportunidades de venda de aviões de transporte militar foram citadas pela Embraer como motivos centrais para aceitar o acordo proposto pela americana Boeing, assinado nesta quinta-feira (24).

Competição da Airbus e oportunidade militar definem acordo com Boeing, diz Embraer. (Foto: Reprodução)

O negócio durou pouco mais de um ano para ser finalizado, tendo sido aprovado pelo governo brasileiro no dia 10 -a União tem poder de veto sobre acordos da fabricante brasileira desde que ela foi privatizada, em 1994. A transação, que cria duas novas empresas, será submetida aos acionistas da Embraer em reunião marcada para o dia 26 de fevereiro.

Em comunicado aos acionistas, a Embraer afirma que aceitou vender o controle de sua linha de aviação regional, que engloba modelos antigos e a nova série E2, porque os europeus da Airbus compraram o controle do principal competidor da empresa brasileira -a C-Series da canadense Bombardier, num negócio anunciado em outubro de 2017.

Isso e a entrada de novos concorrentes russos, chineses e japoneses no nicho dominado pela Embraer, de aeronaves de 90 a 150 assentos, alterou a realidade do mercado, afirma o texto, que detalha a intrincada operação de separação da área de aviação comercial doas linhas de defesa e jatos executivos da empresa brasileira. Com isso, restou à Embraer optar pela oferta da Boeing para manter a competitividade no mercado.

Do ponto de vista americano, naturalmente não descrito no comunicado brasileiro, há também o interesse pela dinâmica da área de engenharia da Embraer. A Boeing está atrasada no cronograma de desenvolvimento de um novo avião médio, e ao corpo de técnicos a ser destacado da Embraer deverá trabalhar de cara nesse novo projeto.

Do negócio surgem duas empresas. Uma é conhecida hoje como NewCo, do acrônimo inglês para nova companhia, e terá 80% de controle americano. A Boeing pagará US$ 4,2 bilhões à Embraer para ter essa fatia da nova empresa, que terá os brasileiros como minoritários. Segundo o acordo, o patrimônio líquido da NewCo deve ser de US$ 2,1 bilhões, com passivos estimados em US$ 1,4 bilhão. Seu valor total é de US$ 5,26 bilhões.

Os acionistas da Embraer levarão, caso aprovem o negócio como é esperado pelos negociadores, US$ 1,6 bilhão em dividendos para casa. A negociação acabará em 2019, finalizando detalhes de pessoal: a NewCo terá cerca de 9.000 empregados, o mesmo número de funcionários da área civil da Embraer hoje -ao todo, a fabricante emprega 18 mil pessoas, 16 mil delas no Brasil.

O acordo assinado também buscou solucionar a questão da propriedade intelectual -hoje, a Embraer tem cerca de 3.000 itens patenteados em discussão. Um comitê gestor será montado, caso o negócio seja aprovado, para cuidar do assunto. A Boeing pagará, segundo o acerto, pela outorga das patentes da empresa brasileira.

Além da nova empresa, que poderá ou não manter o nome E2 nos jatos comerciais que venderá, o acerto estabelece a EB Defense. Essa joint-venture terá 51% de controle da Embraer remanescente, que ficou com as linhas de defesa e aviação executiva, e 49% de participação da Boeing. Ela irá comercializar os novos contratos do KC-390, avião de transporte que é considerado a maior promessa do mercado militar da fabricante brasileira.

A EB Defense terá a linha final de montagem do KC-390 nos Estados Unidos, e sua sede será em Delaware. Isso gera protestos dos sindicalistas que preveem a desnacionalização do produto, mas o acordo determina que a atual linha de montagem de Gavião Peixoto (SP) seja mantida ativa. Na prática, ela fará a pré-montagem do avião, que será finalizado nos EUA.

Isso é necessário para poder vender o KC-390 no mercado americano, o maior do mundo, e para que ele se beneficie de incentivos fiscais do governo dos EUA no caso de exportação para outros países. O atual contrato para a fabricação de 28 aeronaves destinadas à FAB (Força Aérea Brasileira) e sua provável primeira venda externa, para Portugal, seguem nas mãos da “velha Embraer”.

O Brasil investiu R$ 5 bilhões no desenvolvimento do avião, valor que será ressarcido pela cobrança de 3,1% de royalties sobre cada novo contrato.

O mercado estimado no mundo é de 3.000 aeronaves de transporte com capacidade de 10 a 30 toneladas de carga. A idade média da frota é de 30 anos, e ela é dominada hoje pelo venerando C-130 Hercules, da Lockheed, rival da Boeing. O antigo quadrimotor a hélice é um projeto modernizado constantemente desde os anos 1950, e a Boeing viu no moderno bimotor a jato KC-390 o competidor ideal para esse nicho.

O acordo também divide algumas funções compartilhadas entre as empresas. A linha de Gavião Peixoto, por exemplo, poderá ser usada pela EB Defense por pelo menos 20 anos. A produção de itens civis pelas subsidiárias da Embraer no exterior, como a OGMA portuguesa, também está discriminada.

A multa rescisória em caso de anulação do acordo é de US$ 100 milhões para a Boeing e US$ 75 milhões para a Embraer. Se aprovado na assembleia de acionistas, o negócio será encaminhado para as entidades de defesa da concorrência e regulação de mercado no Brasil e nos EUA.

*Informações retiradas da Folhapress