Manaus, 19 de abril de 2024
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Cidades

Djuena Tikuna: a representação e a voz dos povos indígenas

Djuena, além de artista indígena da etnia Ticuna, é a primeira indígena a se formar em Jornalismo no Amazonas

Djuena Tikuna: a representação e a voz dos povos indígenas

Foto: Diogo Janatã

MANAUS, AM – Mulher, indígena, cantora, jornalista e amazonense: essa é Djuena Tikuna. Ela nasceu na região do Alto Solimões, na aldeia Umariaçu, que fica localizada no munícipio de Tabatinga (AM), fronteira com a Colômbia.

Djuena, além de artista indígena da etnia Ticuna – a etnia mais numerosa do Brasil -, é a primeira indígena a se formar em jornalismo no Amazonas. Mudou-se para Manaus quando tinha apenas 8 anos de idade, porque seu pai precisou vir para a capital a trabalho. Ao chegar em Manaus, Djuena contou que, assim que pôs os pés na capital, foi um  verdadeiro choque.

Apesar de já ter o amor pela música dentro de si, Djuena descobriu o teatro assim que chegou à capital por meio da peça. “Antes, quando o mundo não existia”, que trata de um mito indígena e foi adaptada pela Companhia de Teatro Vitória Régia, do diretor Nonato Tavares.

Da aldeia para a cidade

Foto: Diego Janatã

“Chegamos em Manaus, outra cultura. Como qualquer criança que passou toda infância na aldeia foi um choque para mim, meus irmãos e minha mãe”, contou a cantora.

A cantora revelou que viver na aldeia é totalmente diferente da cidade. A conexão com a natureza e os ancestrais é muito mais presente, porém, ela procura manter isso vivo dentro dela até hoje.

“Hoje, eu continuo mantendo isso em mim, é o que me dá forças. As lembranças da aldeia, um lugar lindo. A gente, enquanto indígena, temos que lutar pelo nosso território, temos que falar o porquê preservar a natureza e o meio ambiente. A aldeia é um lugar sagrado para os indígenas. O que nos conecta com nossa aldeia é nossa espiritualidade, nossos ancestrais”, afirmou.

Depois do choque que foi mudar para a área urbana, ela contou que, depois de um tempo, alguns parentes se mudaram para Manaus e fundaram uma comunidade chamada wotchimaücü.

“Nessa comunidade, nós continuamos mantendo a nossa tradição e cultura. Nós lutamos para não perdermos a língua”, relatou. E foi a partir desse momento que Djuena começou a lutar pelos direitos do seu povo.

“E aí, começou toda a história da luta e resistência. Eu participava de vários eventos culturais do movimento indígena junto da minha mãe, que também é cantora, e já divulgava o trabalho dela na época, então eu sempre acompanhei “.  Djuena também disse que o povo Ticuna é um povo musical.

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A música vem de berço

Foto: Diego Janatã

O talento para música veio de berço, a indígena Ticuna contou que, desde a infância, já gostava de cantar, mas foi quando estava mais velha que decidiu que precisava levar o talento dos artistas indígenas para outros lugares. Djuena contou que sentiu uma necessidade de lutar para que o talento fosse reconhecido, porque, ao chegar em Manaus, percebeu que os artistas indígenas locais não tinham o espaço que mereciam.

Para ela, os indígenas merecem reconhecimento maior e a oportunidade para que os povos possam mostrar seu talento ainda é muito escassa.

“Eu entrei para divulgar a musica indígena em Manaus, porque eu via muitos outros parentes cantando em eventos culturais e praças, mas sempre ali, não tinham outros lugares”, desabafou.

Para a cantora, a necessidade de ecoar sua língua materna é uma resistência, uma forma de lutar contra o preconceito. O canto indígena, além de  precisa ser respeitado. Djuena diz que sua trajetória musical começou com o intuito de mostrar que os indígenas precisam ser ouvidos. E através da música ela pretende “descolonizar” o pensamento das pessoas sobre questões indígenas.

“Muitas pessoas não conseguem entender, ainda tem aquele pensamento romantizado de livros. Então a gente bate muito na tecla que de não é assim, a gente tem que descolonizar esse pensamento”, informou.

Por meio da música, ela luta para ser uma mulher indígena de resistência. Além disso, Djuena contou que a faculdade de comunicação foi de suma importância para sua jornada contínua e árdua de luta pelas causas.

Em 2017, ela produziu seu primeiro show de lançamento seu álbum chamado “Tchautchiane”, sendo a primeira indígena a fazer um show no Teatro Amazonas.

Confira o vídeo de lançamento:

Já em 2018, ela produziu a Primeira Amostra de Música Indígena chamada “Videae”, e contou com ajuda de seu esposo e amigos que viam que a artista estava levantando uma causa importante e que deveria ser reconhecida.

“Em 2018, a primeira mostra de música indígena ‘Vídeae’, que foi no Teatro Amazonas, com duração de dois dias e isso nunca tinha ocorrido”, revelou Djuena Tikuna.

Ativista, ela quer quebrar o estereotipo que as pessoas tem sobre os indígenas, levando a música indígena para o máximo de pessoas possíveis.

A cantora disse que a luta está no dia a dia. Ela já levou a cultura Ticuna para vários países ao redor do mundo, além de turnês locais pelo Norte e Nordeste.

“Muito feliz com o resultado de que alguma forma como mulher indígena eu fui encarando todos os desafios que eu passei e, de fato, é resistência, e nós estamos aqui e vamos continuar resistindo!”.

Projetos futuros

O próximo passo na carreira é quebrar estereótipos e, para isso, Djuena revelou que está com um projeto com o DJ Eric Terana, em que eles irão remixar uma música da artista.

Na segunda-feira (19) Djuena vai lançar uma nova música e revela que ainda há muita coisa boa vindo por aí.

Para acompanhar e saber mais da trajetória de Djuena Tikuna, acesse o site https://djuenatikuna.com/ ou siga as redes sociais https://linktr.ee/djuenatikuna.