Manaus, 29 de março de 2024
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Manaus, 29 de março de 2024

Economia

Perspectiva de alta nos juros e defesa do teto de gastos leva dólar a cair mais de 3%

A moeda caiu 3,37%, para R$ 5,3230; dólar turismo foi para R$ 5,487

Perspectiva de alta nos juros e defesa do teto de gastos leva dólar a cair mais de 3%

Notas de dólares e reais REUTERS/Ricardo Moraes

A perspectiva de juros mais altos e a redução na percepção de risco fiscal levaram o dólar a derreter nesta terça-feira (26). A moeda caiu 3,37%, para R$ 5,3230. O dólar turismo foi para R$ 5,487.

O real foi a moeda que mais se valorizou na sessão, positiva para as moedas emergentes em geral.

Investidores repercutiram a ata da última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central. Segundo o documento, alguns membros do comitê consideraram subir a taxa básica de juros (Selic) imediatamente, diante do risco inflacionário. A maioria, no entanto, decidiu manter a Selic a 2% ao ano e esperar a publicação de novos indicadores econômicos antes de definir os próximos passos.

“A maioria [dos economistas] achava que o aumento viria somente em meados do ano, mas a ata sugere que será no curto prazo”, diz Fernanda Consorte, economista-chefe do Banco Ourinvest.

Alguns analistas já esperam um aumento de 0,25 ponto percentual na próxima reunião, em março, e projetam uma Selic ao redor de 4% no fim do ano.

Com a Selic no atual patamar, dólares deixam o país pelo carry trade, prática de investimento em que o ganho está na diferença do câmbio e do juros. Nela, o investidor toma dinheiro a uma taxa de juros menor em um país, para aplicá-lo em outro, com outra moeda, onde o juro é maior.

Caso o juro suba futuramente, em um cenário de juro próximo de zero nos EUA e na Europa, o Brasil volta ao radar de investidores, que podem trazer dólares, reduzindo a taxa de câmbio e a inflação no país.

No mercado de juros futuros, as taxas de longo prazo caíram. Elas são a principal referência para o custo de empréstimos que são liberados atualmente, mas cuja quitação ocorrerá no futuro.

Outro ponto de alívio, segundo analistas, foram as falas do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e do ministro Paulo Guedes (Economia) de compromisso com o teto de gastos e sobre a importância da imunização da população para a retomada econômica.

“Países que tiverem plano de vacinação mais adiantado retornam as atividades antes”, diz Gustavo Bertotti, economista-chefe da Messem Investimentos.

Bolsonaro também descartou a possibilidade de medidas anticrise se tornarem permanentes, em meio à pressão pela renovação do auxílio emergencial.

A equipe de Guedes busca alguma medida social que fique dentro do Orçamento –sem a necessidade de criar um mecanismo excepcional pelo segundo ano consecutivo– e preservando o teto, regra que limita o crescimento das despesas públicas.

Com o avanço da pandemia e o fim do pagamento do auxílio no final do ano passado (saques residuais estão sendo feitos até o final de janeiro), parlamentares passaram a defender a extensão do benefício, mesmo que o teto seja desrespeitado. Dentre os defensores estão Rodrigo Pacheco (DEM-MG), candidato à presidência do Senado apoiado por Bolsonaro.

Guedes reconheceu a possibilidade de o benefício voltar caso o número de mortes por coronavírus continue crescendo no país e o governo fracasse na vacinação da população, mas disse que isso exigiria sacrifícios, como o congelamento de verbas para saúde e educação e de salários de servidores públicos.

“Não vai ser dessa forma tão organizada como o Guedes quer passar. Precisa ter aval do Congresso, e não há espaço político para essa discussão mais ampla. Um auxílio não é bom para o mercado. Traria descontrole fiscal e juros mais alto, o que faz com que preço dos ativos caiam”, diz André Perfeito, economista-chefe da Necton.

Rodolpho Tobler, da FGV, defende a continuidade do benefício, mas sem os mesmos parâmetros. O foco deveria ser nos brasileiros com rendimentos menores, pessoas invisíveis que foram conhecidas graças ao auxílio, sem transferir a renda a quem não necessita, como ocorreu no início do benefício.

“O governo precisa achar alguma solução. Talvez um valor mais baixo, que olhe exatamente quem necessita mais”, afirmou Tobler.

Ele diz que qualquer medida de continuidade no benefício tem que estar atrelada a uma solução no âmbito fiscal. Ele citou as PECs (Proposta de Emenda à Constituição) que podem aliviar o teto de gastos ao abrir uma margem no orçamento de 2021.

“Não pode ser algo que vai estourar o teto da meta, pois teria um efeito muito mais negativo no longo prazo”, diz o economista.

Debora Freire, da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), também defende a extensão do benefício enquanto o país estiver em situação de pandemia para manter a capacidade de consumo dos brasileiros, especialmente os mais pobres.

“O governo tem esse discurso de que o auxílio pode piorar o endividamento, mas sem o auxílio tendemos a ter piora nas contas públicas exatamente porque a receita do governo cai com o menor nível de atividade econômica”, diz a economista.

Ela diz que, sem a manutenção da população vulnerável no programa, será observado um impacto econômico considerável por conta da necessidade de fechar estabelecimentos e reduzir o isolamento social.

Para Écio Costa, da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco), a volta do auxílio deve ser condicionada a um impacto fiscal menor, com um valor mais baixo.

“Assim tira de um para dar a outro e faz a Selic subir de vez. Você ainda tem escalada do dólar considerável, saída de recursos do país, o que pode ter efeito danoso à economia”, afirma.

Para Costa, o benefício poderia ser atrelado a uma votação de urgência com medidas que controlem gastos do governo no período e outras iniciativas que ajudem a se ter uma administração melhor do orçamento.

BOLSA

A Bolsa brasileira fechou em queda pelo quinto pregão seguido. O Ibovespa cedeu 0,78%, a 116.464 pontos. Desde o recorde no último dia 8, de 125 mil pontos, o Ibovespa acumula declínio de 6,9%.

Nos Estados Unidos, o S&P 500 caiu 0,15%. Dow Jones e Nasdaq tiveram queda de 0,07% cada um.

A maior queda do índice na sessão foi das ações ordinárias (com direito a voto) da Eletrobras, que recuaram 9,69%, após seu presidente Wilson Ferreira Junior renunciar ao cargo, citando a dificuldade em aprovar a privatização da estatal no Congresso como uma das motivações. As ações preferenciais (sem direito a voto) cederam 6,80%.

Ferreira Junior deixa o posto em março para assumir a BR Distribuidora, que saltou 9,57% no pregão, a maior alta do Ibovespa.
Já a Eletrobras irá contratar uma empresa especializada para o recrutamento de um novo presidente.

“O mercado achava que a privatização da Eletrobras estava perto e se daria nos próximos dois anos e agora percebe que pode ser que ela não aconteça neste governo”, diz Erminio Lucci, presidente da corretora BGC Liquidez.

Ele diz que as agendas das privatizações dependem também dos novos presidentes da Câmara e do Senado.

“A Eletrobras é a joia da coroa pelo tamanho e pelo papel estratégico que tem”, afirma Lucci, indicando a dificuldade de se vender a estatal.
As ações de bancos também pressionaram o Ibovespa, após o Bradesco BBI reduzir para neutro a recomendação das ações de Santander e Itaú, que caíram 3,22% e 3,31%, respectivamente.

Na próxima semana, os bancos divulgam seus resultados em 2020, o que traz mais volatilidade aos papéis.

Outro fator negativo para a Bolsa de Valores, segundo analistas, foi a adesão ao movimento de greve dos caminhoneiros pela CNTTL (Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transporte e Logística), uma das principais entidades da categoria no país e que vinha até mais recentemente mantendo diálogo com o governo federal. A entidade informou nesta terça que apoia a greve nacional de caminhoneiros que vem sendo convocada por organizações menores há algumas semanas para 1º de fevereiro por tempo indeterminado. A CNTTL afirma que tem 800 mil motoristas em sua base e que orienta todos aderirem à paralisação.

*Com informações Folhapress