Manaus, 2 de maio de 2024
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Brasil

Escola faz evento com crianças pintadas de preto e provoca revolta de grupos negros

Depois da repercussão, escola disse que não pintou ou estimulou que estudantes pintassem o rosto e pediu desculpas

Escola faz evento com crianças pintadas de preto e provoca revolta de grupos negros

Foto: reprodução

TOCANTINS – Fotos de crianças participando de um evento do Dia da Consciência Negra em uma escola de Gurupi, no sul do Tocantins, repercutiram nas redes sociais. Uma das imagens mostra uma criança branca pintada com tinta preta e usando uma peruca simulando o cabelo black power.

A prática conhecida como ‘blackface’ é racista e movimentos negros publicaram notas de repúdio. O Colégio Adventista afirmou que se tratava de uma caracterização e que não pintou ou estimulou a pintura corporal. Após a repercussão negativa, a escola pediu desculpas.

O post foi feito nessa última sexta-feira (19) pelo próprio colégio e afirmava que o objetivo era caracterizar os estudantes.

“Dia 20 de novembro comemora-se o Dia Nacional da Consciência Negra. E hoje nossos alunos vieram caracterizados para comemorarmos este dia tão importante e para refletirmos o quanto Deus nos tornou irmãos e que perante Ele, somos todos iguais. Me conta aqui nos comentários se você gostou da caracterização dos nossos alunos”, disse a escola no post.

O ‘blackface’ é uma prática de pelo menos 200 anos e consiste em se “fantasiar” de forma caricata de uma pessoa negra. As pessoas eram ridicularizadas para o entretenimento de brancos. Estereótipos negativos vinham associados às piadas, principalmente nos Estados Unidos e na Europa.

Após vários comentários denunciando a situação, a postagem foi apagada. Horas depois o colégio publicou uma nota de esclarecimento afirmando que não fez pintura nas crianças e nem as estimulou. Disse que quis “valorizar a cultura negra e afrodescendente na escola e fora dela, assim como promover a reflexão e resgate da identidade negra”.

Leia mais: Origem do Dia da Consciência Negra remonta a Porto Alegre em 1971

Movimentos negros do Tocantins se posicionaram repudiando a ação. O Coletivo Nacional de Juventude Negra – Enegrecer – disse que “é inconcebível que uma escola que se propõe o papel de educar futuros cidadãos, se preste ao papel de expor e incitar crianças a discriminação ou preconceito de raça, cor”.

O Coletivo Negro de Gurupi afirmou que a estratégia pedagógica usada pela escola foi inadequada e que a população negra não quer ser ridicularizada pelo tom de pele, cabelo e outros traços. “Não vamos aceitar atitudes que há muito tempo provocam ridicularização e rebaixamento”.

O Colégio Adventista repassou ao G1 o projeto pedagógico e disse que os objetivos do evento eram:

  • valorizar a cultura negra e seus afrodescendentes na escola e fora dela;
  • promover a reflexão e resgate da identidade negra;
  • reconhecer alimentos, receitas e objetos de origem africana;
  • construir conhecimentos sobre as tradições, crenças e maneiras de vestir-se;
  • produzir e recitar poemas.

Segundo a unidade, durante o evento foram feitas pesquisas sobre o tema e produzidos cartazes com pratos típicos. Também houve apresentações musicais, brincadeiras (amarelinha africana), desfile com roupas de origem africana e exposição de objetos.

O que diz o Colégio Adventista de Gurupi

“A direção do Colégio Adventista de Gurupi esclarece que é contrário a todo e qualquer tipo de discriminação racial. O Colégio ressalta que o projeto pedagógico do Dia da Consciência Negra, realizado com as turmas do 4º e 5º ano, teve como objetivo valorizar a cultura negra e afrodescendente na escola e fora dela assim como promover a reflexão e resgate da identidade negra.

O Colégio incentivou os estudantes a celebrarem de forma livre esse importante dia com respeito e admiração pelas pessoas. Em nenhum momento, os estudantes foram pintados ou estimulados a pintarem o rosto.

O Colégio pede desculpas pela situação que se criou e se compromete a proporcionar mais momentos com discussão sobre o tema. Com isso, a ideia é contribuir para promoção de uma sociedade cada vez mais libre de preconceitos.”

(*) Com informações do G1

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