Manaus, 21 de maio de 2024
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Cidades

Falta de funcionários ameaça funcionamento do Inpa

O Inpa calcula que há um déficit de pelo menos 517 vagas para nível médio, embora não haja anúncio de certame para essas funções.

Falta de funcionários ameaça funcionamento do Inpa

(Foto: divulgação/ Inpa)

Manaus (AM) – A falta de profissionais de nível médio tem reduzido a capacidade de funcionamento do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), em Manaus, e até forçado o fechamento de laboratórios. De acordo com dados obtidos pelo Sindicato dos Servidores Públicos Federais (Sindsep-AM) junto ao setor de Recursos Humanos do órgão, de 2006 para cá, o instituto perdeu metade (52%) dos seus profissionais de nível médio, caindo de 485 para os atuais 231.

O quadro preocupa, já que 25,40% dos técnicos – cargo de nível médio – podem se aposentar. Assim ocorre com os assistentes de ciência e tecnologia, outro cargo de nível médio, com 38% já aptos a se aposentar. O Inpa calcula que há um déficit de pelo menos 517 vagas para nível médio, embora não haja anúncio de certame para essas funções.

Concursos

Mês passado, o governo anunciou concurso com 63 vagas de pesquisadores e tecnologistas para o Inpa, todos cargos de nível superior. A ausência de cargos de nível médio gerou mobilização no Sindsep-AM e no Fórum de C&T, que até enviou carta à ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, pedindo intercessão junto ao Ministério de Gestão e Inovação (MGI) pela realização de concursos também para cargos de nível intermediário.

“Passamos por um processo de decadência e falta de força de trabalho no setor de C&T que durou pelo menos dez anos. O Inpa é uma instituição muito importante nesse cenário, o principal órgão de pesquisa na Amazônia. Posso dizer que no início da década de 90, o Inpa tinha um corpo funcional de cerca de 1,2 mil pessoas. Hoje, somos pouco mais de 400”, afirma o secretário de administração do Sindsep-AM, Jorge Lobato, que é servidor de carreira no Inpa e também representante da categoria no Fórum de C&T.

A carta enviada à ministra da pasta, cita o risco de paralisação de pesquisas importantes não apenas no Inpa, mas em uma série de órgãos do sistema de C&T do país, considerando que o governo anunciou concursos para outras instituições públicas do setor, porém, sem vagas de nível médio. “Mais grave é a total falta de resposta, até o momento, do governo, em particular do MGI, de nosso pedido de urgência para concursos de técnicos e assistentes que, caso não ocorram, acarretarão na interrupção e mesmo a perda de pesquisas realizadas em diferentes campos do conhecimento”, diz trecho do documento.

Prejuízos

A dificuldade se reflete, por exemplo, para a pesquisadora do laboratório de malária e dengue, Rosemary Aparecida Roque, que enfrenta problemas diários na rotina das pesquisas por causa da ausência de técnicos.

Até 2019, antes da pandemia, o laboratório possuía seis profissionais técnicos. Hoje, são apenas dois, com um já apto a se aposentar. “O técnico não é só a pessoa que dirige um transporte e leva as pessoas até a atividade. Ele também executa aquele serviço, algo que muitas vezes requer treinamento, e de longo período, uma vivência. São eles, inclusive, que orientam estudantes do Inpa, em muitos casos”, afirma a pesquisadora.

Titular do laboratório de química ambiental, o pesquisador Sávio Ferreira ressalta que o Inpa vem perdendo técnicos especializados em uma série de estudos, e até máquinas específicas do instituto. “Temos uma série de equipamentos onerosos, de grande capacidade, e que estão sem uso por falta de pessoal para colocá-los em funcionamento”, diz.

Novo gestor defende cargos

Nomeado diretor do Inpa, o professor doutor Henrique Pereira defende a importância dos profissionais de nível médio e diz que já teve conversas com a direção do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) para ressaltar a necessidade de abertura de vagas para contratação de novos servidores nestas funções.
“Embora estejamos em uma tendência de contratação de profissionais terceirizados, é preciso entender que em algumas funções, especificamente em atividades complexas, como na pesquisa científica, há necessidade de um perfil adequado, uma formação adequada, como é a desse profissional de nível fundamental ou médio“, afirma.

Henrique ressaltou que um de seus principais desafios à frente do Inpa, neste momento de reestruturação do órgão, é a reposição do quadro de servidores, em queda ano após ano. “A gente já inicia essa gestão com o desafio de estar a frente desse concurso para contratação de pesquisadores”, pontua.
Junto com a contratação de novos profissionais, passo essencial para a retomada do Inpa, o trabalho também será de fortalecimento do orçamento do órgão, prejudicado com reduções sequenciais de recursos.

No Projeto de Lei Orçamentária 2024 (PLOA), a previsão é que o Inpa receba R$ 41,8 milhões, um aumento de 19,5% em comparação aos recursos previstos para este ano. “Além dos repasses federais, estamos pensando em outras formas de obter recursos, como parcerias com instituições público-privadas”, comenta o novo gestor da instituição.

 

(*) Com informações da assessoria

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