Manaus, 30 de abril de 2025
×
Manaus, 30 de abril de 2025

Brasil

Fumaça do Sul do Amazonas chega a outros estados brasileiros

Segundo dados do INPE, houveram 5.384 focos de incêndio no Amazonas apenas no mês de agosto.

Fumaça do Sul do Amazonas chega a outros estados brasileiros

Fumaça do sul do Amazonas chega a outros estados brasileiros (Foto: Mauro Neto/Secom)

Manaus (AM) – A intensificação no número de queimadas da região Sul do Amazonas são responsáveis pela diminuição na qualidade do ar em outros estados no Brasil. Segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), estruturados na plataforma BD Queimadas, houveram 5.384 focos de incêndio no Amazonas apenas no mês de agosto.

Levantamento foi realizado com base no satélite de referência Aqua Tarde.

O município do Amazonas que lidera o ranking de focos de incêndio no Estado é o município de Apuí, com 1.510 focos, abrangendo 28% no quantitativo, seguido por Lábrea, com 817 focos, sendo, portanto, responsável, 15,2% desse número.

Governo Federal

O Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) disse, em nota, nessa segunda-feira (19), que o Governo Federal está atuando no combate aos incêndios florestais, com envio de brigadistas.

“O Governo Federal atua com 1.489 brigadistas do Ibama e ICMBio no combate aos incêndios florestais na Amazônia. A mudança do clima antecipou e agrava a temporada de incêndios na região amazônica, assim como ocorreu no Pantanal”, diz nota.

Conforme a pasta, as condições climáticas no bioma Amazônico podem ter sido intensificadas devido à emergência climática global, conforme aponta um estudo internacional.

“Segundo estudo internacional divulgado nesta semana, a emergência climática elevou em até 20 vezes a probabilidade das condições climáticas que intensificaram os incêndios na Amazônia Ocidental de março de 2023 a fevereiro de 2024”, destaca o Ministério.

A ação conjunta aos executivos estaduais dos estados na Amazônia Legal disponibilizaram R$ 405 milhões do Fundo Amazônia para apoiar os Corpos de Bombeiros.

Consequências

Ao Portal AM1, o biólogo e pesquisador doutor Lucas Ferrante destacou que acerca das consequências que esse fenômeno pode ocasionar do dia-a-dia da população. Além disso, há um aumento de doenças respiratórias, assim como maior incidência de chuvas ácida na região.

“As consequências incluem um aumento massivo nos casos de alergias, asma, bronquiolites, problemas cardíacos e hipertensão em áreas do Brasil. Esses problemas ocorriam anteriormente, mas em índices menores. Além disso, podemos esperar um aumento nas chuvas ácidas, o que pode impactar tanto os seres humanos quanto a biodiversidade”.

As queimadas na Amazônia podem também assumir uma escala maior quando se analisa um panorama de degradação ambiental e alteração em um sistema biodiverso. Ferrante apontou um estudo que destaca o aumento no número de casos de malária nas adjacências e arredores da rodovia BR-319.

“É importante destacar que, há menos de uma semana, em uma publicação no Lancet [Revista Científica], apontamos que o desmatamento e as queimadas neste bloco de floresta amazônica representam uma nova ameaça global. Isso porque este bloco de floresta é um dos maiores reservatórios zoonóticos do mundo, e o avanço do desmatamento, queimadas e degradação florestal pode facilitar saltos zoonóticos, fazendo emergir uma nova pandemia global”, alerta o pesquisador.

Ferrante destaca que o desmatamento e a expansão agrícola na região estão relacionados ao aumento das queimadas e à intensificação das secas no Amazonas, ocasionando as ações ilegais de queimadas, especialmente em áreas griladas.

“A Amazônia não pega fogo naturalmente, mesmo durante a seca. Todas as queimadas têm origem humana e são ilegais, ocorrendo em áreas griladas. As queimadas são um processo utilizado por grileiros para limpar as áreas recém-desmatadas após a extração de madeira, visando à implementação da pecuária posteriormente”, analisa o pesquisador.

Ponto de ‘não-retorno’

O biólogo Lucas Ferrante evidencia que não é apenas o impacto ambiental, mas a proximidade de um ponto crítico de desmatamento. Com o aumento da intensidade e frequência das estações secas, fica evidente que esse ponto está cada vez mais próximo. Para Ferrante, é essencial que a população e os líderes políticos entendam que soluções como a pavimentação da BR-319 não só “não resolvem o problema, mas também pioram a crise climática”.

“Nosso estudo, em parceria com o Censipam (Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia), coletou dados que mostram que, se a rodovia BR-319 for pavimentada, não haverá contingente suficiente para fiscalizar a área, devido ao aumento do desmatamento e das queimadas. Isso também empurrará a Amazônia para o ponto de não retorno. Estudos já indicam que, com o avanço da crise climática, Manaus deve atingir uma temperatura de bulbo úmido superior a 35 graus, um limiar insuportável para a vida humana. Ou seja, a estrada não resolverá a crise nem desenvolverá a região, mas, ao contrário, causará ondas de mortalidade e tornará a região incapaz de sustentar a vida humana”, diz  pesquisador.

LEIA MAIS: