
(Foto: Isac Nóbrega/PR)
Manaus (AM) – A oficialização de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos reacendeu o debate sobre a ascensão da extrema-direita no cenário global. No Brasil, aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), atualmente inelegível, veem na eleição de Trump uma possível influência para reverter sua situação política, alimentando expectativas de participação no pleito de 2026, apesar das críticas de analistas políticos e opositores.
O ex-presidente Jair Bolsonaro demonstrou otimismo ao afirmar que o retorno de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos pode influenciar diretamente sua situação política no Brasil. A declaração foi feita no último sábado (18) durante uma entrevista à imprensa.
Bolsonaro destacou que a posse de Trump poderia abrir caminhos para reverter suas inelegibilidades, que foram determinadas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em 2023.
“Com toda certeza, se ele me convidou [para a cerimônia de posse], ele tem a certeza de que pode colaborar com a democracia do Brasil, afastando inelegibilidades políticas”, disse à imprensa.
A inelegibilidade de Bolsonaro foi decidida pelo TSE sob a acusação de abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação durante uma reunião com embaixadores, em julho de 2022. Enquanto aliados do ex-presidente classificam a decisão como perseguição política, opositores a veem como legítima.
Apoio local e visão internacional
Em Manaus, por exemplo, o recém-eleito vereador Coronel Rosses (PL) criticou a decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que impediu Bolsonaro de viajar aos EUA para a posse de Trump. Para Rosse, a proibição é um reflexo de “desafios” à democracia no Brasil.

Vereador Coronel Rosses, novato na Câmara Municipal de Manaus, para a 19ª Legislatura (Foto: Divulgação/Assessoria)
Novato na Câmara Municipal de Manaus (CMM), Rosses marcou presença no jantar de posse do 47° presidente dos Estados Unidos. Para ele, Donald Trump é visto como uma figura com potencial para influenciar na reversão da inelegibilidade de Jair Bolsonaro junto à Justiça Eleitoral brasileira.
“Assim como Trump voltou a ser presidente lá, o Bolsonaro pode voltar a ser presidente aqui também, se de fato a democracia for respeitada, como muita gente fala. O presidente Bolsonaro foi convidado para a posse e impedido de ir aos EUA como um chefe de Estado, e isso prova que a democracia ainda precisa avançar muito. Assim como Trump tem tudo para estabelecer uma era de ouro nos EUA, acredito que ele pode, sim, ajudar a tornar o Bolsonaro elegível aqui, porque a direita está ganhando força em todo o mundo”, disse Rosse ao Portal AM1.

Vereador Raiff Matos, reeleito para a 19ª Legislatura da Câmara Municipal de Manaus (Foto: Ney Fábio/Dircom)
O vereador reeleito Raiff Matos (PL) também acredita que a influência de Trump pode ser determinante para o retorno político de Bolsonaro. Para ele, uma pressão internacional liderada pelos EUA seria uma estratégia viável para tornar o ex-presidente elegível novamente.
“Essa parece ser a melhor maneira de tornar viável uma pressão internacional em favor do Bolsonaro. Infelizmente, chegamos a esse ponto, mas, considerando que estamos lidando com um governo de direita conservador e com a maior potência do mundo, os Estados Unidos, acredito que essa estratégia pode ser uma grande ajuda para Bolsonaro. Estamos torcendo para que ele se torne novamente elegível e, assim, tenhamos um rumo diferente para a nossa nação em 2026”, alegou Raiff Matos ao Portal AM1.
Em entrevista ao programa Cenário Político, do Portal AM1, o deputado federal Pauderney Avelino (União Brasil) afirmou que, embora considere as atitudes iniciais de Donald Trump como extremistas, acredita que o cenário político dos Estados Unidos também pode influenciar os resultados das eleições gerais de 2026 no Brasil. “Os EUA são uma referência em termos de importância e são líderes mundiais”, explicou Pauderney.

Deputado Federal Paudeney Avelino, 57ª Legislatura na Câmara dos Deputados (Foto: Celso Maia/Portal AM1)
O deputado também comentou a trajetória de Jair Bolsonaro, a quem se refere como amigo desde a época em que ambos ingressaram no mesmo partido em 1991. Pauderney reconhece a amizade, mas critica certos comportamentos do ex-presidente, apontando que, se Bolsonaro tivesse adotado posturas mais adequadas, teria tido mais chances de se reeleger. “Ele cometeu muitos erros”, afirmou o deputado.
Confira:
Análise política
A cientista política e doutoranda em ciências sociais, Juliana Fratini, avalia que as expectativas de aliados de Bolsonaro sobre uma possível interferência de Trump esbarram na soberania nacional. Ela destacou que pressões internacionais só poderiam ocorrer por meio de força econômica ou bélica, o que não se aplica ao caso brasileiro.
“O ex-presidente se equivoca no cálculo, portanto, não existe qualquer legitimidade estrangeira para a intervenção em decisões jurídicas nacionais. No máximo, o que Bolsonaro pode fazer é continuar criticando o funcionamento da Corte em seu próprio país, mas qualquer intervenção é improvável”, explicou a especialista.
Para ela, a estratégia de Bolsonaro procura principalmente mobilizar sua base de apoio nacional, conectando-a a movimentos alinhados à direita contestadora no mundo.
“A posição de Bolsonaro serve apenas para mobilizar uma base nacional e procurar conectá-la a outras bases subsidiadas pelo mesmo espectro político de direita contestadora, a qual ele pertence”, explicou.
Oposição
O Portal AM1 também ouviu figuras de destaque da esquerda manauara para compreender como enxergam a postura de Jair Bolsonaro e de seus aliados, que acreditam que a influência de Donald Trump pode provocar mudanças no cenário político brasileiro nas eleições de 2026.
O ex-candidato a vereador Delegado João Tayah (PT) avaliou que a pressão internacional do presidente dos Estados Unidos não terá força suficiente para reverter a inelegibilidade de Bolsonaro. Além disso, Tayah acredita que os votos da base bolsonarista devem “migrar para outro candidato que represente a extrema-direita no país”.

Político do Partido dos Trabalhadores, suplente nas Eleições 2024 para o cargo de vereador (Foto: Celso Maia/Portal AM1)
“O Brasil tem se reafirmado como uma nação sólida e forte, que por meio do STF e do Executivo federal, tem saído vitoriosa na preservação da democracia e no respeito ao ordenamento jurídico brasileiro. Por isso, acredito que a inelegibilidade se manterá, mas o bolsonarismo tende a migrar para outro candidato que represente a extrema-direita no país”, disse Tayah ao AM1.

Zé Ricardo, segundo vereador mais votado nas Eleições 2024, eleito para a Câmara Municipal de Manaus na 19ª Legislatura (Foto: Celso Maia/Portal AM1)
Procurado pela reportagem, o segundo vereador mais votado no pleito, Zé Ricardo (PT), afirmou que Bolsonaro não será uma prioridade para Donald Trump. Segundo o parlamentar, Trump está focado em questões relacionadas à geopolítica mundial. Zé Ricardo destacou, ainda, que caso o presidente norte-americano tentasse intervir em decisões judiciais no Brasil, esse ato seria considerado uma “invasão” à soberania nacional.
“Caso eventualmente ele [Trump] queira fazer alguma intervenção – principalmente nas decisões da Justiça ou do Supremo Tribunal – será considerada uma invasão à soberania nacional. Qualquer tipo de intervenção de forma mais direta seria um absurdo e deve ser rechaçado”, disse Zé Ricardo ao Portal AM1.
De olho em 2026
Alguns nomes já começam a surgir como possíveis candidatos para as eleições de 2026. Entre eles estão Pablo Marçal (PRTB), que concorreu à Prefeitura de São Paulo e não passou do primeiro turno, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União), e até o cantor de sertanejo universitário Gusttavo Lima. A diversidade de possíveis pré-candidatos preocupa o Partido Liberal (PL) no cenário nacional, que entende que essa descentralização de nomes favoreceria a esquerda no país.
Embora a esquerda ainda não tenha nomes definidos para as eleições de 2026, rumores indicam que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não buscará a reeleição. No início desta semana, o presidente sugeriu à imprensa que não se vê como candidato em 2026. Fernando Haddad (PT), atual Ministro da Fazenda, que antes era considerado um “sucessor natural”, também afirmou que não se considera candidato. Outros nomes em ascensão na base aliada de Lula incluem o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD), e a presidente do PT, Gleisi Hoffmann.
Em cenários de pesquisas eleitorais recentes, que também incluem o nome de Bolsonaro, apesar de sua inelegibilidade, Lula lidera na maioria dos cenários, embora de forma apertada. De acordo com levantamento da Quaest, no segundo turno das eleições de 2026, Lula venceria Bolsonaro por 51% a 35%. Em uma disputa com Tarcísio, a vantagem seria maior, com Lula alcançando 52% contra 26%. Já em um eventual embate com Marçal, Lula teria 52% contra 26%. Contra Ronaldo Caiado, a vantagem seria de 54% para Lula, contra 20% para o governador de Goiás.
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