Manaus, 3 de maio de 2024
×
Manaus, 3 de maio de 2024

Cidades

Juiz Luis Carlos Valois tem perfis bloqueados nas redes sociais

Decisão do CNJ afirma que Luis Carlos Valois estaria ‘adotando conduta incompatível com seus deveres funcionais de magistrado’

Juiz Luis Carlos Valois tem perfis bloqueados nas redes sociais

O magistrado é ativo nas redes sociais, e, não raro, faz manifestações políticas (Foto: André Maia)

Publicações sobre o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), críticas à Polícia Militar nos atos antidemocráticos em Brasília e à politização da Operação Lava Jato motivaram a suspensão das redes sociais do juiz da Vara de Execuções Penais de Manaus, Luis Carlos Valois, por decisão do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).

Conhecido como juiz garantista, crítico a guerra às drogas e às condições precárias do sistema penitenciário, Valois chegou a ser chamado pelo secretário de Segurança Pública do Amazonas para ajudar na negociação com presos que realizavam um motim, que terminou com 56 mortos – o maior número desde o massacre do Carandiru, nos anos 1990.

O magistrado é ativo nas redes sociais, e, não raro, faz manifestações políticas. A decisão que levou à derrubada de suas redes sociais, do corregedor nacional de Justiça, Luis Felipe Salomão, se baseou no artigo 95 da Constituição Federal que veda a juízes “dedicar-se à atividade político-partidária”. Uma resolução de 2019 do CNJ vai além e proíbe “manifestar-se em apoio ou crítica públicos a candidato, lideranças políticas ou partidos políticos”.

Uma das publicações de Valois que motivaram a derrubada de suas contas foi sobre a ex-presidente Dilma Rousseff. “Diante de um impeachment sem crime de responsabilidade (pressuposto legal), inclusive, com arquivamento de inquérito posterior, as circunstâncias , os personagens e tudo mais, acho muito justo e reparador a presidente Dilma passar a faixa!”, disse o magistrado, em 28 de dezembro.

Após os atos bolsonaristas que destruíram o plenário do Supremo Tribunal Federal, o Palácio do Planalto e o Congresso Nacional, o magistrado publicou uma charge que retratava um policial ao lado de um bolsonarista de camisa verde e amarela. Na imagem, ambos tiram uma selfie, e o policial diz: “Depois, manda lá no grupo”, diz.

Em outra publicação, o juiz Luis Carlos Valois concordou com uma declaração do cientista político Rafael Viegas, da FGV, que pesquisa o poder Judiciário. “O protagonismo político de integrantes do MPF e da Justiça Federal (Lava Jato) foi desastroso para o país. É indissociável da ascensão da extrema direita e da violência política”, disse Viegas. Ao republicar a declaração, Valois afirmou: “Eu avisei isso daí também, faz tempo, e quase perco o emprego”.

Em sua decisão, Salomão afirmou que “a conduta individual do magistrado com conteúdo político-partidário macula a confiança da sociedade em relação à credibilidade, à legitimidade e à respeitabilidade da atuação da Justiça, atingindo o próprio Estado de Direito que a Constituição objetiva resguardar”. O ministro pediu que as plataformas de redes sociais sejam comunicadas com urgência a derrubar as redes de Valois.

“Evidentemente, a manifestação de pensamento e a liberdade de expressão são direitos fundamentais constitucionais dos magistrados, dentro e fora das redes sociais. Não são, no entanto, direitos absolutos. Tais direitos devem se compatibilizar com os direitos e garantias constitucionais fundamentais dos cidadãos em um Estado de Direito, em especial com o direito de ser julgado perante um magistrado imparcial, independente e que respeite a dignidade do cargo e da Justiça”, anotou.

Na manhã dessa terça-feira (17), o juiz afirmou em uma rede social que não sabia o motivo ainda dos bloqueios e que não teria recebido uma intimação até o momento. “Não sei o motivo ainda, não fui intimado, mas até em respeito à decisão do CNJ não me manifestarei nas redes mesmo com a conta ainda não bloqueada. Vocês não verão da minha parte nenhuma queixa ou acusação de pessoas, se institucionalmente eu errei, que isso seja resolvido de forma justa”, disse.

(*) Com informações do Estadão

LEIA MAIS: