Manaus, 22 de junho de 2024
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Manaus, 22 de junho de 2024

Cidades

Mês de conscientização contra abuso infantil revela casos alarmantes no AM

Neste sábado (18) é o Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes. Nos últimos dias, no Amazonas, foram registrados casos graves de estupros contra crianças.

Mês de conscientização contra abuso infantil revela casos alarmantes no AM

(Foto: Lincoln Ferreira/Sejusc)

Manaus (AM) – Bebê de cinco dias de vida estuprado pelo avô, criança de 10 anos estuprada por pastor, dois homens presos após transmitirem HIV a menores durante abusos sexuais. Esses foram alguns dos casos graves registrados no Amazonas em maio, mês destinado à conscientização sobre o combate ao abuso e à exploração sexual infantil.

Os casos mencionados, infelizmente, são apenas uma parte de números alarmantes. Somente entre janeiro e março deste ano, foram registrados 388 casos de estupro de vulnerável no Amazonas.

Em 2023, no mesmo período, foram 340 casos, conforme dados da Delegacia Especializada em Proteção à Criança e ao Adolescente (Depca).

No Brasil, somente nos primeiros meses de 2023, foram registradas, ao todo, 69,3 mil denúncias e 397 mil violações de direitos humanos de crianças e adolescentes, das quais 9,5 mil denúncias e 17,5 mil violações envolvem violências sexuais físicas – abuso, estupro e exploração sexual – e psíquicas.

Em 2022, segundo os dados do primeiro informe epidemiológico do Monitoramento da Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes do Amazonas, foram registrados 1.855 casos, sendo que 93,6% das vítimas são do sexo feminino.

A faixa etária de 10 a 14 anos responde por 54,9% dos casos. Além disso, a maioria dos abusadores são amigos ou conhecidos da vítima.

Os dados também mostram que 49,5% das crianças e adolescentes vítimas de violência sexual sofreram o crime mais de uma vez.

A Polícia Civil vem realizando várias operações mirando os suspeitos de praticarem abusos – (Foto: Erlon Rodrigues/PC)

Casos revoltantes

A bebê recém-nascida, de cinco dias de vida, foi violentada pelo padrasto da sua mãe, um homem de 39 anos de idade, o qual era considerado avô da neném. O caso aconteceu no município de Tapauá, no último dia 10.

Em depoimento, o homem confessou o crime e alegou que teria sido um “acidente”. “Ele disse que colocou a bebê no colo e ela ia caindo e o seu dedo entrou na vagina dela”, relatou a delegada Kelly Souto, de Tapauá.

No entanto, a versão do suspeito caiu em contradição, pois os médicos constataram que havia uma laceração de 1º grau em toda a parte da vulva no introito vaginal, e a parte inferior da vagina estava lacerada, ferimentos que são causados apenas com a penetração de um pênis pelo diâmetro. O homem, que é reincidente no mesmo crime, está preso.

“Carimbadores”

Também no dia 10 de maio, uma operação da Polícia Civil trouxe à tona um caso que ganhou repercussão nacional. Dois homens, de 21 e 31 anos, autodenominados “carimbadores”, foram presos, suspeitos de transmitir HIV em abusos contra crianças e adolescentes em Manaus.

O caso foi descoberto após uma denúncia anônima. Uma pessoa que trabalha com assistência técnica teve acesso ao celular de um dos suspeitos e encontrou mensagens sobre os supostos estupros e transmissão da doença, e também conteúdos de pornografia infantil.

“Conforme o teor dessas conversas, conseguimos averiguar que eles tinham preferência por crianças do sexo masculino. Inclusive, falavam de abordagens que poderiam ser feitas em locais públicos e privados, como banheiros de shoppings”, detalhou a delegada Joyce Coelho, titular da Depca.

O professor e o pastor foram presos durante uma operação da Depca – (Foto: Divulgação/PC)

Professor e pastor presos

Na manhã de quinta-feira (16), um pastor e um professor foram presos suspeitos de abusar sexualmente de crianças de 10 a 14 anos em Manaus.

De acordo a polícia, o pastor José Ferreira de Nazaré, de 65 anos, é suspeito de ter violentado sexualmente uma menina de 10 anos. As investigações apontaram que a esposa do suspeito, que trabalha como babá, levou a criança para casa e a deixou aos cuidados dele. Neste momento, segundo a polícia, o abuso aconteceu.

O professor, identificado como Paulo Roberto Ribeiro De Souza, de 43 anos, é suspeito de abusar de seis meninos que são estudantes de uma escola da rede estadual, que fica no bairro Colônia Terra Nova, zona Norte.

Conforme a polícia, o professor oferecia dinheiro aos alunos e o cometia o crime. Os abusos, segundo a polícia, aconteceram no banheiro e nas salas da escola.

Sinais

A delegada Joyce Coelho reforça que é importante observar que crianças e adolescentes acabam transparecendo os problemas por meio de sinais, principalmente, por danos emocionais, em que o principal sinal perceptivo é justamente uma mudança brusca de comportamento que, muitas vezes, é consequência de alguma violência.

“As vítimas estão em desenvolvimento e ainda não estão completamente formadas, desse modo, qualquer dano causado, seja ele físico ou emocional, vai acarretar um problema no desenvolvimento, em especial se não tiverem um acompanhamento para que retornem ao seu desenvolvimento regular”, explica.

Delegada Joyce Coelho é a responsável pelas ações à frente da Depca – (Foto: Divulgação/PC)

Joyce Coelho enfatiza que o trabalho executado pela Depca conta com apoio primordial das denúncias realizadas pela sociedade.

“Com as denúncias, conseguimos chegar ao paradeiro dos autores e levar às vítimas, de certa forma, uma tranquilidade. E, para nós, fica a sensação de dever cumprido, tanto para com a Lei, quanto para com as vítimas”, ressaltou.

Danos psicológicos

A psicóloga Elisangela Moraes explica que, quando uma criança ou adolescente são vítimas de violência sexual, os impactos são profundos e duradouros.

“Essas crianças podem desenvolver uma série de problemas emocionais e psicológicos, como depressão, ansiedade, baixa autoestima e transtorno de estresse pós-traumático. Além disso, eles podem ter dificuldades de relacionamento e problemas de confiança, não apenas com outras pessoas, mas também consigo mesmos”, diz a especialista.

O trauma, segundo a psicóloga, também pode se manifestar fisicamente, com sintomas como dores de cabeça, problemas digestivos e dificuldades de sono. No ambiente escolar, é comum observar queda no desempenho acadêmico e problemas de comportamento.

“É crucial entender que a violência sexual na infância e adolescência não afeta apenas o presente, mas pode ter consequências ao longo da vida. Sem o devido apoio e tratamento, essas cicatrizes emocionais podem persistir na vida adulta. É muito importante que todas as vítimas desses abusos façam acompanhamentos psicológicos”, reforça.

Delegacia Especializada em Proteção à Criança e ao Adolescente (Depca) – (Foto: Divulgação/PC)

Canais de denúncias

Para denunciar qualquer atividade suspeita, com relação à criança ou adolescente, a população deve entrar em contato pelo Disque 100, dos Disque Direitos Humanos; ou 181, da Secretaria de Segurança Pública do Amazonas (SSP-AM). Não é necessário se identificar.

A Depca também funciona 24 horas para recebimento de denúncias e registro de Boletim de Ocorrência (BO). A unidade especializada está localizada na avenida Via Láctea, conjunto Morada do Sol, bairro Aleixo, zona centro-sul da capital.

O registro também pode ser realizado na delegacia mais próxima do fato ou pela Delegacia Virtual (Devir) pelo site: https://delegaciavirtual.sinesp.gov.br/

 

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