Manaus, 4 de maio de 2024
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Saúde & Beleza

Ministério da Saúde garante medicamento para tratamento do HIV

Em audiência da Câmara, participantes defendem quebra de patente de remédio usado por quase 500 mil pacientes

Ministério da Saúde garante medicamento para tratamento do HIV

O dolutegravir é considerado um medicamento moderno. (Foto: Divulgação/ Agência Câmara de Notícias)

BRASÍLIA – O Ministério da Saúde garantiu, nessa terça-feira (8), em audiência pública na Câmara dos Deputados, pelos técnicos, que não vai faltar no Brasil o medicamento dolutegravir (DTG), antiviral usado no tratamento do HIV/aids.

No debate promovido pela Comissão de Seguridade Social e Família, o técnico Rogger Diquique explicou, a pedido da deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ), que desde que foi incorporado ao protocolo nacional, em 2016, o medicamento tem tido abastecimento regular na rede pública de saúde.

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Segundo o Ministério da Saúde, já foram feitos acordos com o Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos/Fiocruz) e o abastecimento de 2023/ início de 2024 já está garantido, uma vez que as compras possibilitam abastecimento mínimo de 12 a 15 meses.

“Os recursos necessários para a aquisição de 180 milhões de comprimidos para 2023 estão assegurados, assim como o abastecimento regular dos demais medicamentos essenciais que estão inseridos na LOA [Lei Orçamentária Anual] de 2023”, afirmou o técnico.

Segundo Diquique, o dolutegravir é um dos 19 antirretrovirais em uso no Brasil para tratamento do HIV/aids. Atualmente, 484 mil pacientes utilizam o medicamento de 50mg. Inovador, o DTG produz menos efeitos colaterais e conta com mais adesão do paciente.

Impedimento

A audiência foi promovida para esclarecer um possível risco de desabastecimento do remédio no Brasil porque o governo está impedido de comprar do Laboratório Farmacêutico do estado de Pernambuco (Lafepe), que é mais em conta, o que seria econômico para os cofres públicos.

A empresa detentora da patente, a estrangeira ViiV healthcare/GSK, atua para impossibilitar a compra do genérico e a questão está na Justiça, o que prejudica as vendas do Lafepe em 2023.

“O Lafepe pretende dar continuidade até que o processo seja transitado em julgado. Há um questionamento técnico se essa patente é sustentada. Isso está sendo avaliado. Hoje a discussão está em nível judicial. O Lafepe pretende continuar o atendimento em 2023, ofertando valor inferior ao hoje praticado”, afirmou o diretor comercial do laboratório pernambucano, Djalma Dantas.

O outro fornecedor, Farmanguinhos, possui convênio com a GSK e a ViiV Healthcare para desenvolvimento e produção de antirretrovirais no Brasil.

Patente

Os participantes do debate defenderam a quebra da patente, que entendem que o monopólio da produção não se justifica quando há pacientes que dependem do medicamento.

O coordenador do Grupo de Trabalho sobre Propriedade Intelectual da Associação Brasileira Interdisciplinar de Aids (Abia), Felipe Fonseca, observou que as patentes sempre foram ameaça a programas de tratamentos gratuitos.

“Eles estão forçando o Ministério da Saúde a comprar uma versão mais cara e estão fragilizando a resposta ao HIV/aids no Brasil, onde ainda ocorrem de 10 mil a 12 mil mortes por ano”, criticou Fonseca.

Vivendo com HIV há 31 anos, o conselheiro nacional de Saúde e representante da Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV e aids, Jair Brandão de Moura Filho, também pediu a anulação da patente. “O acesso universal a medicamentos é política pública de Estado e não de governo. Precisamos manter uma política que já foi referência no mundo todo”, reforçou.

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A deputada Jandira Feghali disse que fará o que for possível, na Câmara, para derrubar a patente. “Vou encaminhar à comissão a necessidade de a gente fazer uma audiência com o Inpi [Instituto Nacional da Propriedade Industrial], buscar os processos judiciais que estão em curso e que a gente possa com o atual e o futuro Ministério da Saúde resolver essa compra, economizando para o SUS [Sistema Único de Saúde], fortalecendo os laboratórios nacionais e atendendo a todas as pessoas com HIV por meio do SUS.”

O Inpi foi convidado para a audiência, mas não enviou representante. O instituto, em suas análises, considerou a patente inválida em 2018, mas a aprovou mesmo assim em 2020.

(*) Com informações da Agência Câmara