Manaus, 3 de dezembro de 2024
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Manaus, 3 de dezembro de 2024

Cidades

Nuvem de fumaça que encobre Manaus vem de queimadas no interior, diz meteorologista

Monitoramento feito pela UEA mostra que a capital amazonense amanheceu encoberta de fumaça em decorrência de focos de queimadas que estão ocorrendo em Rio Preto da Eva, Autazes e Nova Olinda do Norte.

Nuvem de fumaça que encobre Manaus vem de queimadas no interior, diz meteorologista

Iranduba (Carlos Soares/SSP-AM)

Manaus (AM) – A temperatura da capital amazonense, conhecida por ter um ambiente quente e abafado, vem aumentando gradativamente. Em maio, a cidade registrou o primeiro dia mais quente do ano (34,5°C). No dia 20 de agosto, a marca foi superada, quando os termômetros chegaram a 37,4ºC, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). Além do aumento da temperatura em níveis recordes, nos últimos dias, a cidade também vem apresentando nuvens de fumaça nas primeiras horas do dia.

O meteorologista e professor da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), Rodrigo Souza, atribui a formação recorrente de nuvens de fumaça ao crescimento dos números de queimadas na região do interior do estado, comprometendo a qualidade do ar em Manaus.

“O número de focos de queimadas tem crescido com a estação seca da nossa região e já é possível perceber que a qualidade do ar em Manaus vai ficando comprometida. Se a população não evitar as queimadas na região, é possível que a qualidade do ar fique ainda mais comprometida nas próximas semanas ou meses”, ressalta.

Segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o número de focos de queimadas no Amazonas está próximo de alcançar 7 mil focos e, até o mês de agosto, só o bioma Amazônia já representa 47% dos focos de queimadas no Brasil em 2023.

Ainda segundo o especialista, os municípios de Apuí, Lábrea e Novo Aripuanã têm liderado o ranking dos municípios que mais registraram queimadas em 2023. No entanto, os municípios da Região Metropolitana de Manaus (RMM) também têm registrado inúmeros focos de queimadas nos últimos dias e, consequentemente, a fumaça alcança a capital.

Segundo dados da Plataforma Sistema Eletrônico de Vigilância Ambiental (Selva), do Projeto EducAir, da UEA; a concentração de Material Particulado fino – MP2.5 na atmosfera da cidade de Manaus estava duas vezes maior do que o recomendado pela organização Mundial da Saúde, na manhã desta segunda-feira (28).

O levantamento mostra que a capital amanheceu encoberta de fumaça em decorrência de focos de queimadas que estão ocorrendo também nos munícios de Rio Preto da Eva, Autazes e Nova Olinda do Norte.

Focos de queimadas no Estado do Amazonas nas últimas 24 horas. Fonte: Sistema Eletrônico de Vigilância Ambiental – SELVA.

O MP2.5 é um material particulado, fino, que está presente em alguns aerossóis. Esse tipo de partícula possui tamanho microscópico, e, por isso, quando liberado no ar, pode entrar facilmente nas vias respiratórias causando problemas como asma, pneumonia e câncer de pulmão. Além disso, o MP2.5, emitido pela queima de combustíveis fósseis, e de matéria orgânica, pode contribuir para o aquecimento global e para as chuvas ácidas.

El Niño 

Para o meteorologista Leonardo Vergasta, o resultado das fortes ondas de calor na região amazônica recebe a influência do fenômeno El Niño. Segundo ele, o fenômeno é um padrão climático que ocorre periodicamente no Oceano Pacífico, resultando no aquecimento anormal das águas superficiais do oceano. Esse efeito tem impactos significativos em todo o mundo, incluindo na região amazônica. Ele diz que quando ocorre um evento El Niño, ele pode influenciar as condições climáticas na Amazônia de várias maneiras:

  1. Durante o El Niño, a região amazônica pode experimentar secas mais intensas do que o normal. Isso ocorre porque as mudanças nos padrões de circulação atmosférica resultantes do El Niño podem reduzir a quantidade de chuvas na região;
  2. Com a diminuição da quantidade de chuvas durante o El Niño, a vegetação da Amazônia fica mais seca e suscetível a incêndios. A combinação de condições secas e a atividade humana, como a agricultura e o desmatamento, podem levar a um aumento nas queimadas;
  3. Durante os eventos El Niño, a falta de chuvas pode dificultar a recuperação das áreas desmatadas, tornando-as mais vulneráveis a incêndios. Isso pode resultar em um ciclo de desmatamento e queimadas, contribuindo para a perda de vegetação e biodiversidade;
  4. O aumento das queimadas na Amazônia durante o El Niño pode liberar abundantes quantidades de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera, contribuindo para o aquecimento global. Além disso, a destruição da vegetação e a liberação de partículas finas na atmosfera podem ter impactos negativos na qualidade do ar e no clima regional.

O especialista ainda explica que a frequente fumaça que encobre a cidade é causada por atividades humanas, como desmatamento ilegal, expansão agrícola e pecuária. Ela é altamente prejudicial para a população.

“Essa fumaça acaba prejudicando a saúde da população manauara, principalmente de crianças e idosos, podendo trazer problemas de doenças respiratórias e cardiovasculares a essas pessoas mais vulneráveis”, afirma o especialista.

Diante disso, o período seco, aliado ao fenômeno El Niño, intensifica o ciclo de queimadas na Amazônia. A combinação de condições secas provenientes do El Niño, juntamente às atividades humanas que criam combustível (vegetação seca) para os incêndios, resulta em um aumento substancial nas queimadas durante essa época. Além disso, os incêndios podem desencadear consequências ambientais, climáticas e de saúde, incluindo a liberação de CO2 na atmosfera, o comprometimento da qualidade do ar e a ameaça à biodiversidade.

Previsão para a semana em Manaus

Segundo dados do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos do INPE, a previsão para esta semana em Manaus é de temperaturas elevadas, com temperaturas mínimas variando entre 26°C e 28°C e temperaturas máximas variando entre 33°C a 37°C, ao longo da semana, com sensação térmica podendo chegar a 40°C.

Para os especialistas, o destaque vai para a região oeste, noroeste e sudoeste do Estado do Amazonas, onde há possibilidade de chuvas fortes que podem vir acompanhadas de fortes ventos e raios.

Dia mais quente na Terra

No dia 3 de julho, mais um marco super quente: a temperatura média global atingiu 17,01°C, superando a máxima anterior de 16,92°C registrada em agosto de 2016. Trata-se do dia mais quente já registrado na história, taxa 0,8°C mais quente que a média da época do ano entre 1979-2000, mostraram os dados dos Centros Nacionais de Previsão Ambiental dos Estados Unidos, ligados à administração Oceânica e Atmosférica Nacional do país (NOAA).

Especialistas atribuem o aumento da temperatura à crise climática, causada pela queima de combustíveis fósseis e outras atividades humanas, combinada com a chegada do fenômeno climático El Niño, que contribui para a alta do termômetro. A Organização Meteorológica Mundial prevê que há 90% de probabilidade de o evento El Niño continuar durante o segundo semestre de 2023 – o que aumenta as chances de o mundo voltar a quebrar esse recorde nos próximos meses. O último grande El Niño foi em 2016, que foi o ano mais quente já registrado até agora.