Manaus, 29 de março de 2024
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Saúde & Beleza

O que causa cansaço e falta de ar em pacientes pós-Covid? Especialista do AM explica

O pós-covid tem causado sérios danos à saúde física e mental das pessoas

O que causa cansaço e falta de ar em pacientes pós-Covid? Especialista do AM explica

Foto: Reprodução

MANAUS – A covid-19, além de trazer sérios riscos aos pacientes contaminados, ainda deixa sérios resquícios por onde passa. É comum ouvir relatos de pessoas que, mesmo após estarem livre do vírus, sofrem algum tipo de problema de saúde, ou seja, sequelas.

O mais comum é a constante falta de ar, segundo uma pesquisa realizada na Suécia, com 5 mil pessoas, esse é o motivo que leva pacientes já recuperados a procurarem assistência médica. Pesquisadores da Suécia, Estados Unidos e México, realizaram um levantamento e concluíram que cerca de 58% das pessoas que tiveram covid-19 sentem um cansaço intenso após estarem recuperados.

No Amazonas, muitas pessoas foram contaminadas com a Covid-19, de acordo com dados fornecidos pela Fundação de Vigilância em Saúde (FVS), aproximadamente 352.312 mil pessoas estão ou foram contaminadas pelo coronavírus, nas ultimas 24h cerca de 448 casos foram identificados.

Mesmo após estarem livres do vírus, é comum que muitas pessoas se queixem de falta de ar ou fadiga. É o caso da dona de casa, Silvia Prestes Braga, 55 anos, que no ano passado contraiu o vírus.

Apesar de não ter sido internada, Silvia relatou que sentiu todos os sintomas da doença. Ela contou que mesmo depois de vencer a covid-19, ainda há sequelas.

“Eu ando muito, faço muito esforço, eu sinto muito cansaço, aí eu paro e me acalmo”, relatou Silvia. Além do cansaço, ela contou que também vem sofrendo de perdas de memória.

Confira o relato:

Por que acontece a falta de ar e fadiga pós-Covid-19?

Clio da Rocha Monteiro Heidrich, médica pneumologista, relembra que a Covid-19 é causada pelo Sars-CoV-2 e que a mesma atinge o pulmão, seja em graus leves ou mais graves, muitos pacientes necessitam do auxílio de oxigênio, pois as lesões pulmonares fazem com que ocorra uma dificuldade nas trocas gasosas.

“Nos casos leves, os pacientes às vezes não apresentam sintomas e o quadro evolui para sua resolução sem grandes prejuízos para a pessoa, nos casos moderados a grave, normalmente o paciente tem dispneia (falta de ar), em graus variados, muitas vezes necessitando de auxílio de oxigênio, pois com as lesões pulmonares, há deficiência nas trocas gasosas, o que leva a queda da saturação de oxigênio no sangue, e às vezes necessitando de suporte de ventilação mecânica (entubação oro traqueal), alguns evoluem para óbito e outros conseguem sair desse quadro, mas persistem com dispneia e fadiga generalizada, por alterações neurológicas”, contou a médica.

Segundo informações da pneumologista e médica do sono, Ana Carla Campelo Duarte, relata que essa situação depende muito do estado do paciente durante tratamento contra a covid-19. O vírus pode apresentar várias manifestações clinicas, que variam desde sintomas mais leves até quadros mais graves com comprometimento pulmonar, toda a trajetória da pessoa contaminada precisa ser avaliada para entender o porquê existem sequelas pós contaminação.

“O paciente que apresenta o comprometimento pulmonar de 50% pela Covid, ele ficou muito tempo parado, ele vai precisar de uma melhor reabilitação cardiopulmonar. Não é só o pulmão, mas sim também o comprometimento cardíaco que alguns pacientes apresentam”, contou a pneumologista.

A doutora alerta que até comprometimentos emocionais e a dificuldade para dormir colaboram com a piora da fadiga.

Ana Carla reforça que é preciso verificar o grau de comprometimento pulmonar, através de uma tomografia de tórax controle, de uma avaliação pulmonar que é chamada como espirometria e Oximetria – exame feito para medir nível de oxigenação no sangue.

“A fadiga deve ser avaliada com uma visão holística avaliando a função pulmonar, o grau de comprometimento sistêmico com relação a perda de massa muscular e grau de estresse pós-traumático.  A partir daí se exclui se há síndrome de fadiga pós Covid-19 e se é somente isso ou se há outras repercussões orgânicas”, finalizou Ana Carla.

A síndrome do pós-covid pode durar de 3 a 6 meses após a infecção e os pacientes podem apresentar, além da fadiga e falta de ar, fraqueza, insônia, instabilidade emocional, dores nas pontas dos dedos (parestesias), dor torácica e perda de memória.

Problemas neurológicos

Além de sequelas físicas, há muitos casos que apresentam problemas psicológicos deixados pelo vírus.

A psicóloga e neuropsicológa especializada em hipnose clínica, Mara Jackeline, explicou um pouco sobre as complicações que a Covid-19 pode trazer para a saúde mental dos pacientes. A mudança repentina afetou muitas pessoas psicologicamente, com o isolamento social ficou mais comum o desenvolvimento de sintomas depressivos e ansiosos.

“O fato da pandemia ter colaborado para o isolamento social, mudança de rotina e a insegurança em relação ao futuro e até mesmo o medo de ser infectado fez com que a população sentisse o impacto na sua saúde mental”, explicou a profissional.

A covid-19 não trouxe apenas danos físicos, mas grande parte das pessoas tem tido problemas psicológicos.

“Em relação às sequelas neurológicas existem estudos sendo aprofundados para compreender os danos que o Covid 19 pode deixar no sistema nervoso central, apesar de ser uma doença que a princípio afeta o sistema respiratório sabe-se por meio de vários relatos que existe envolvimento com o sistema nervoso central e periférico e que as funções cognitivas são afetadas, até mesmo em casos que apresentaram sintomas leves”, contou a psicóloga.

Tratamento

A pneumologista, Heidrinch, contou que muitos pacientes persistem no quadro de dispneia ao longo prazo, o tratamento é a longo prazo com ajuda de fisioterapeutas e medicamentos específicos.

“Os pacientes que persistem com quadro de dispneia, muitas vezes continuam com alterações pulmonares que necessitam de fisioterapia respiratória contínua a longo prazo, além de medicações específicas para broncodilatação, e uma quantidade pequena desses pacientes evoluem com um quadro de Fibrose Pulmonar, tendo que permanecer em tratamento o resto de suas vidas ou ir para transplante pulmonar, conforme a gravidade do quadro do paciente”, alertou a médica.

Ana Carla alerta que é necessário acompanhamento médico, mesmo após a recuperação da covid-19, mesmo que quando não tenha sentido nenhum sintoma depois da infecção, segundo a pneumologista é um procedimento de prevenção.

“Precisa ver um fortalecimento da musculatura, alguns exercícios respiratórios que compõe a parte de tratamento de reabilitação”, relatou Ana Carla.

Além do tratamento físico, a psicóloga, Mara Jackeline, alerta a importância de um acompanhamento psicológico.

“Esses pacientes precisam ser encaminhados para uma avaliação psicológica para que assim eles possam ser acompanhados e receber intervenções psicológicas alinhadas às demandas”, finalizou a psicóloga.