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Para diminuir a violência, Biden anuncia medidas de controle de armas nos EUA

'Hoje estamos tomando medidas para enfrentar não apenas a crise das armas, mas uma crise de saúde pública', disse o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden

Para diminuir a violência, Biden anuncia medidas de controle de armas nos EUA

Foto: Reprodução

ESTADOS UNIDOS – O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, anunciou nesta quinta-feira (8) uma série de ações executivas para conter a violência armada, depois de dois ataques a tiros no mês passado, em Atlanta e Boulder, somarem 18 vítimas às estatísticas de mortes por armas de fogo no país.

“A violência armada neste país é uma epidemia”, disse Biden, acompanhado da vice, Kamala Harris, e do secretário de Justiça, Merrick Garland, durante pronunciamento no jardim da Casa Branca. “Hoje estamos tomando medidas para enfrentar não apenas a crise das armas, mas uma crise de saúde pública.”

Entre as novas regras anunciadas pelo presidente e preparadas pelo Departamento de Justiça está uma proposta para a redução da proliferação de “armas fantasmas”, kits com peças e instruções que permitem ao comprador montar o próprio armamento “em menos de 30 minutos”, driblando, assim, a fiscalização.

Segundo especialistas, esses kits tornaram-se particularmente atraentes para organizações criminosas e grupos extremistas, já que não exigem checagem de antecedentes, e costumam estar ligados a ataques em estados em que as leis e os critérios para a compra de armas são mais rigorosos. “Quero ver esses kits tratados como armas de fogo sob a lei de controle de armas”, disse Biden.

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Outra regra a ser validada dentro dos próximos 60 dias determina que armas equipadas com os dispositivos conhecidos como “cintos estabilizadores”, que tornam os disparos mais precisos e, portanto, mais letais, estarão sujeitas aos requisitos da Lei Nacional de Armas de Fogo. O autor do ataque em Boulder, no estado do Colorado, que matou dez pessoas em um supermercado em 22 de março, usava um desses cintos estabilizadores. Na prática, esses dispositivos transformam pistolas em fuzis de cano curto, o que aumenta seu potencial de dano.

Também dentro de dois meses, o Departamento de Justiça deve publicar uma proposta de lei conhecida como “bandeira vermelha”, que permite a tribunais e autoridades locais remover temporariamente o acesso a armas de pessoas consideradas perigosas para si mesmas ou para a comunidade.

O plano, segundo Garland, é que o texto sirva de modelo para que os estados redijam suas próprias versões. Para que esse tipo de lei entre em vigor em âmbito federal, Biden precisa de um aval do Congresso, mas o objetivo, segundo a Casa Branca, é facilitar o caminho para que os estados queiram implementar as mudanças de imediato. Atualmente, 19 estados e o Distrito de Columbia, onde fica a capital, Washington, já possuem leis semelhantes. Com exceção de Alasca e Wisconsin, que já têm projetos em tramitação, não se sabe quantos e quais estados estudam implementar a legislação.

“Se o Congresso agir ou não, eu vou usar todos os recursos à minha disposição para fazer com que os americanos fiquem seguros”, disse Biden nesta quinta, referindo-se ao fato de que propostas que endurecem de alguma forma o controle de armas nos EUA tradicionalmente esbarram na oposição do Partido Republicano, apoiados por grupos lobistas, como a Associação Nacional do Rifle (NRA).

No mês passado, por exemplo, a Câmara, de maioria democrata, aprovou dois projetos de lei: a ampliação da checagem de antecedentes de quem compra armamentos pela internet ou em feiras e o aumento do prazo entre a venda e a entrega, para até dez dias, dando mais tempo para analisar o histórico do comprador.
No Senado, porém, os projetos estão parados. Dos 100 assentos da Casa, 50 são de republicanos, 48, de democratas, e 2, de independentes que votam com o partido governista. O voto de desempate, quando necessário, é dado pela vice-presidente Kamala Harris, o que concede ligeira vantagem aos correligionários de Biden.

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Uma regra de obstrução, porém, faz com que a maior parte das leis precise de 60 votos para ser aprovada. Assim, republicanos podem usar a manobra para bloquear propostas, já que pelo menos dez deles teriam que votar com os democratas para avançar os projetos. Em sua primeira fala após o ataque no Colorado, Biden insistiu que a legislação sobre armas não deveria ser uma questão de divergências partidárias. “Eu não preciso esperar mais um minuto -muito menos uma hora- para tomar medidas de bom senso que salvarão vidas no futuro e insto meus colegas na Câmara e no Senado a agirem”, disse, na ocasião.

Kamala, que abriu o pronunciamento desta quinta, disse que os EUA já passaram por “mais tragédias do que podemos suportar”. Para ela, o momento pede “vontade e coragem para agir”, características que ela atribuiu a Biden, ao listar projetos que ele ajudou a aprovar e a conduzir em seus mandatos como senador e como vice-presidente na gestão de Barack Obama. De acordo com os anúncios desta quinta, o governo americano também reforçará investimentos nas comunidades tradicionalmente mais atingidas pela violência ligada às armas, seja por meio de ataques a tiros, violência doméstica ou suicídios.

Estão previstos investimentos de US$ 5 bilhões (R$ 27,7 bilhões) em programas de geração de empregos, orientações aos estados sobre financiamento de programas de intervenção nas comunidades e ações diretas de agências federais.

O Departamento de Justiça também vai começar a produzir relatórios anuais sobre o tráfico de armas para embasar políticas públicas que refreiem essa prática -o último documento desse tipo foi preparado em 2000. A oposição aos anúncios começou ainda na quarta-feira. A NRA disse que está pronta para questionar na Justiça as ações anunciadas pela Casa Branca. “Biden deixou claro que seu objetivo é restringir os direitos dos proprietários de armas cumpridores da lei, ao mesmo tempo em que ignora os criminosos e renuncia a medidas substantivas que realmente manterão os americanos seguros”, disse a organização, por meio de sua porta-voz Amy Hunter.

O grupo ainda criticou a indicação de David Chipman, atualmente assessor de uma organização que defende o controle de armas, para chefiar o ATF, órgão responsável pela aplicação de leis relativas ao álcool, tabaco, armas de fogo e explosivos. A confirmação de Chipman para o cargo, no entanto, também precisa de aprovação no Senado -neste caso, por maioria simples. Embora convencer um único senador republicano a votar com os democratas pareça bem mais fácil do mudar o voto de dez nos casos de aprovação de leis, o aval da Casa ainda é incerto.

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O ATF está desde 2015 sem um diretor permanente. Além disso, desde 2006, quando os legisladores decidiram que o cargo de chefia do órgão é uma indicação política e, portanto, demanda confirmação do Senado, apenas uma pessoa conseguiu o aval dos senadores: B. Todd Jones, indicado por Obama. O ex-presidente Donald Trump chegou a retirar a indicação de Chuck Canterbury, do maior sindicato de policiais americanos, depois que ele se recusou a descartar totalmente a possibilidade de expandir os critérios para a permissão de compras de armas, como a verificação de antecedentes.

(*) Com informações da Folhapress