
(Foto: Arquivo/Assessoria)
Brasília (DF) – Diante da queda na popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o vereador de Manaus, Zé Ricardo (PT), avalia que o governo federal precisa intensificar o diálogo com a população e lideranças políticas para enfrentar os desafios do terceiro mandato.
Na última semana, a pesquisa Datafolha apresentou o pior índice de aprovação de Lula desde o início do governo, caindo de 35% para 24% em dois meses.
“Todas as críticas em relação ao governo, ao Lula, são pertinentes, quando se quer construir caminhos de solução dos problemas. (…) Lula precisa orientar bem os ministros para terem facilidade e acesso à população, lideranças, políticos e intensificar esse diálogo”, disse o petista.
A declaração do vereador surge após a divulgação de uma carta aberta do advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, ex-defensor de Lula, que apontou um isolamento do presidente, além da ausência de interlocutores políticos com capacidade de aconselhá-lo de forma crítica.
Na carta enviada aos aliados de Lula, Kakay diz que o presidente perdeu o que tinha de melhor: a “capacidade de seduzir, ouvir, de olhar a cena política”.
“Sem termos, o Lula que conhecíamos como presidente e sem ele ter um grupo que ele tinha ao seu redor, corremos o risco do que parecia impossível: perdermos as eleições em 2026”, diz o advogado.
Para comentar o assunto, o Portal AM1 entrou em contato com alguns parlamentares de direita do Amazonas, mas até a publicação deste material, não houve retorno.
Após a repercussão do texto, aliados do presidente foram “proibidos pelo governo” de se aproximar do advogado.
Leia a carta na íntegra:
Lula, a esperança da democracia.
“Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso. Nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro”, Clarice Lispector.
Lula ganhou 3 vezes e elegeu Dilma como sua sucessora. À época elegeria o qualquer de seus Ministros pois era imbatível.
Certa vez conversando com um Senador-do PT- ele me disse que tinha um ano tentava uma audiência com a Presidenta Dilma. Ela não fazia política. Sofreu impeachment.
Um dia no Governo Lula um Senador da oposição me liga as 11 hs da manhã e reclama que tinha assumido há 15 dias- era suplente- e que não havia sido recebido pelo Zé Dirceu, chefe da Casa Civil. Liguei para o Zé .
As 12.30 a gente estava almoçando no Palácio do Planalto. O Zé – de longe o mais preparado dos Ministros- deu um show discorrendo sobre o Estado de origem do Senador, que saiu de lá com o número do celular do Zé e completamente encantado.
Neste atual governo Lula fez o que de melhor podia ao enfrentar Bolsonaro e ganhar do fascismo impedindo que tivéssemos mais 4 anos de Bolsonaro. Seria o fim da democracia. Seriam destruídas de maneira irrecuperável tudo que foi construído nos governos democráticos, não só do PT. O fascismo acaba com tudo. Este o maior legado do Lula. Para tanto foi necessário, senão não teríamos ganhado, fazer uma aliança ampla demais. Só o Lula conseguiria unir e fazer este amplo arco para derrotar Bolsonaro.
Aqui em casa, no dia da diplomação, 12 de dezembro, determinado político se aproximou em um momento em que Lula e eu conversávamos, colocou amistosamente a mão no meu ombro e fez uma brincadeira. Ao sair da roda o Lula me falou baixinho, rindo: “este jamais será meu Ministro, e acha que vai ser.” Dia 1º de janeiro ele assumiu como Ministro. Este o brilhantismo do Lula neste momento difícil. Não fosse sua maturidade não teríamos tido chance de vencer o fascismo. Por isto cometo aqui certa indelicadeza de comentar este fato: para ressaltar a maturidade do Presidente Lula.
Mas o Lula do 3º mandato, por circunstâncias diversas, políticas e principalmente pessoais, é outro. Não faz política. Está isolado. Capturado. Não tem ao seu lado pessoas com capacidade de falar o que ele teria que ouvir. Não recebe mais os velhos amigos políticos e perdeu o que tinha de melhor: sua inigualável capacidade de seduzir, de ouvir, de olhar a cena política.
Outro dia alguns políticos me confidenciaram que não conseguem falar com o Presidente. É outro Lula que está governando.
Com a extrema direita crescendo no mundo e, evidentemente aqui no Brasil, o quadro é muito preocupante. Sem termos o Lula que conhecíamos como Presidente e sem ele ter um grupo que ele tinha ao seu redor, corremos o risco do que parecia impossível: perdermos as eleições em 2026. Bolsonaro só perdeu porque era um inepto. Tivesse ouvido o Ciro Nogueira e vacinado, ou ficado calado sem ofender as pessoas, teria ganho com a quantidade de dinheiro que gastou. Perder uma reeleição é muito difícil, mas o Lula está se esforçando muito para perder. E não duvidem dele, ele vai conseguir.
Claro que as circunstâncias estão favoráveis ao projeto de perder as eleições. Não dou tanto importância para estas pesquisas feitas o tempo todo. Mas prestei atenção nesta que indica que 62% não querem que Lula seja candidato a reeleição. A pergunta é: quem é seu sucessor natural? Não foi feito um grupo ao redor do Presidente, que se identifique com ele e de onde sairia o sucessor político natural, o “grupo” do Lula a gente sabe quem é. E certamente não vai tirá-lo do isolamento. Ele hoje é um político preso à memória do seu passado. E isolado. Quero acreditar na capacidade de se reencontrar. Quem se refez depois de 580 dias preso injustamente, pode quase tudo. E nós temos o Haddad, o mais fenomenal político desta geração em termos de preparo. Um gênio. Preparado e pronto para assumir seu papel.
Já fico olhando o quadro e torcendo para o crescimento de uma direita civilizada. Com a condenação do Bolsonaro e a prisão, que pode se dar até setembro, nos resta torcer para uma direita centrista, que afaste o fascismo.
Que Deus se apiede de nós!
É necessário lembrar o mestre Torquato Neto no Poema do Aviso Final:
“É preciso que haja algum respeito, ao menos um esboço ou a dignidade humana se afirmará a machadada.”
Mudanças nos ministérios
Outro apontamento feito pelo vereador está relacionado à articulação política dos ministros de Lula. Atualmente, o governo do petista é composto de 39 pastas, com uma variedade de partidos, inclusive de centro. Entre as siglas, estão ministros do MDB, PSD, Republicanos e União Brasil.
A alteração nas pastas vem sendo pressionada pelos membros dos partidos, ambos querem ministérios de mais visibilidade, mas o presidente já salientou para a imprensa que está satisfeito. Uma eventual troca aconteceria somente durante o próximo semestre.
“Mudar ou não o governo pertence muito intimamente ao presidente da República. Estou contente com o meu governo, acho que todo mundo cumpriu o que tinha para fazer. E, ao longo do tempo, pode ser no meio do ano ou depois, eu posso trocar”, disse Lula a jornalistas nessa quarta-feira (19).
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