Manaus, 29 de junho de 2024
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Cenário

Por que pré-candidatos com títulos acadêmicos não conseguem crescer nas pesquisas de intenções de votos?

Na avaliação de Carlos Santiago, embora sejam nomes de expressões acadêmicas com títulos em universidades importantes, “eles não possuem força popular”.

Por que pré-candidatos com títulos acadêmicos não conseguem crescer nas pesquisas de intenções de votos?

(Fotos: Divulgação)

Manaus (AM) – Antes mesmo das convenções, nomes dispostos como pré-candidatos aos cargos majoritários podem ser pontuados em pesquisas sobre intenções de voto. É nesse período que se começa a desenhar o pleito. A pesquisa eleitoral é uma consulta de intenção de voto com padrão científico, requer dados estatísticos e permite orientar tanto os candidatos quanto eleitores.

Porém, alguns candidatos, mesmo carregando títulos acadêmicos, não conseguem crescer nas pesquisas. Para a eleição municipal deste ano, há pelo menos sete nomes figurando o cenário político amazonense. São eles: Amom Mandel (Cidadania); Capitão Alberto Neto (PL); David Almeida (Avante); Marcelo Ramos (PT); Natália Demes (PSOL); Maria do Carmo (Novo), Roberto Cidade (União Brasil), Wilker Barreto (Mobiliza).

As diversas pesquisas testaram os nomes dos pré-candidatos e, dois deles, mesmo com títulos acadêmicos, não conseguem crescer mais de 2% nas pesquisas de intenções de votos.

A exemplo, a empresária e pré-candidata Maria do Carmos Seffair e o deputado estadual Wilker Barreto, que apesar dos títulos de doutores, não conseguem avançar na preferência do eleitorado.

Na avaliação do advogado e cientista político, Carlos Santiago,“embora sejam nomes de expressões acadêmicas com títulos em universidades importantes, eles não possuem força popular, base política nos bairros e não estão contando com os grandes partidos e nem com lideranças importantes do Estado”.

Sendo assim, sem base popular, sem apoio político, sem partidos fortes e sem lideranças, sobram números minúsculos nas pesquisas de opinião. E tudo indica que esses números permanecerão até o fim da campanha, analisa Santiago.

O analista Helso Ribeiro acredita que, após as convenções, quando o cenário político já estiver melhor definido, os números podem melhorar tanto para Maria do Carmo quanto para Wilker Barreto.

“Eu acredito que, uma análise final, a gente deve fazer após as convenções e mais próximas às eleições. Então eu entendo que todos os pré-candidatos teriam condições pelo menos teoricamente de crescer. O Wilker Barreto e a Maria do Carmo Seffair são nomes ainda pouco conhecidos; principalmente ela [Maria do Carmo] é muito pouco conhecida.”

A pouca visibilidade dos pré-candidatos contribuem para a “decolagem” que ainda podem ter, pondera Ribeiro, o qual destaca o fato de Wilker Barreto já ter sido líder na Câmara de Vereadores, quando foi parlamentar da Câmara Municipal de Manaus (CMM).

“Wilker já foi presidente de parlamento, vereador, deputado estadual, mas o fato de ter mudado para um novo partido, que é pouco conhecido, o deixou isolado na Assembleia Legislativa. Isso pode estar influenciando para o mau resultado, pelo menos por enquanto, na campanha dele”, avalia o cientista político.

“Eu acredito que não tem nenhuma ligação ao fato de eles terem doutorado, e eu penso que tanto Wilker Barreto quanto Maria do Carmo Seffair têm contribuições bem interessantes para dar e para serem ouvidos também, não só pela população, mas pelos outros candidatos também. E aí, é aguardar”, avalia Helso Ribeiro.

 

Já o professor de Ciências Políticas da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Luiz Antônio Nascimento, deu exemplos de pessoas que conseguiram transitar nos dois universos com destaque.

Luiz mostrou um dos homens brasileiros mais envolvido na Academia, e ainda assim, conseguiu exercer dois mandatos como deputado federal, eleito pelo Partido dos Trabalhadores (PT). Florestan Fernandes. “Na política, você precisa apresentar a sua candidatura, apresentar o seu nome, apresentar suas proposições e mais ainda: apresentar tudo isso com uma linguagem inteligível ao eleitor médio. Isso é uma dádiva”, pontua Luiz Antônio.

Darcy Ribeiro foi outro cientista que também fez uma carreira política importante.  Ele foi antropólogo, sociólogo, professor, escritor, indigenista e também foi um brilhante político na década de 1960. Darcy Ribeiro participou do governo de João Goulart, ficando à frente de dois ministérios (Casa Civil e Educação).

“Fernando Henrique Cardoso, também conhecido como FHC, é um renomado professor, cientista político, sociólogo, escritor e conseguiu se destacar na política. Fernando Henrique Cardoso, inclusive, quando foi eleito, cobraram dele alguma medida, alguma coerência com o que ele havia escrito, ele falou: Olha, preciso esquecer o que escrevi, porque o que escrevi eu fiz como cientista. Lá tem um canônico, lá tem regras, aqui não. Aqui, eu sou um sociólogo na militância política partidária. Ele foi senador da República e depois presidente da República”, lembra o cientista.

No Amazonas, o especialista em Ciências Políticas lembra que o vereador Professor Gedeão Amorim, um filósofo que, inclusive, foi reitor da Universidade Estadual Amazonas (UEA). Como também o professor Luiz Nogueira, que foi vereador nos anos 80 e 90. “Tem um conjunto de outros nomes que migraram ou transitaram entre a ciência e a política de forma bastante importante sem que confundissem os dois espaços”, pontua o professor.

“Tem um monte de cientistas que conseguiriam fazer esse movimento muito bem. Na política, ao contrário da ciência, é necessário fazer concessões, porque afinal, a política é o espaço, é a arte da negociação, da flexão, do debate, da pluralidade de ideias, da contradição de ideias. Então, são dois lugares diferentes. Claro que dialogam, mas são dois lugares. Então, na política, independe da tua formação acadêmica para se encontrar, vamos dizer, assim, o teu interlocutor. Na ciência, você só vai ter interlocução com outros colegas cientistas”.

 

 

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