Manaus, 29 de março de 2024
×
Manaus, 29 de março de 2024

Mundo

Redação do maior site da Hungria pede demissão coletiva

80 Jornalistas protestaram contra o que apontam ser interferência do governo populista do premiê Viktor Orbán na independência editorial do veículo.

Redação do maior site da Hungria pede demissão coletiva

Foto: Divulgação

Em demissão coletiva, 80 jornalistas do principal site de notícias privado da Hungria, Index.hu, protestaram nesta sexta, 24, contra o que apontam ser interferência do governo populista do premiê Viktor Orbán na independência editorial do veículo.

Desde o final de junho, o Index vinha publicando em sua página principal um “barômetro digital” em que indicava que sua autonomia estava em perigo. Após ter o controle assumido, em março, por um empresário próximo a Orbán, a companhia planejava reformas no jornalismo.

Na quarta, 22, o editor-chefe do Index, Szabolcs Dull, foi demitido por se recusar a levar adiante as mudanças na Redação e a retirar do site o barômetro. Sua saída desencadeou protestos internos, com a renúncia de praticamente toda a equipe, e externos.

Na tarde desta sexta, milhares de pessoas marcharam por cerca de cinco quilômetros em Budapeste, em manifestação pela liberdade de imprensa. Convocado pelo partido de oposição Momentum, o protesto ganhou a adesão de outros partidos, da Associação Nacional de Jornalistas (Muósz) e de veículos privados independentes, como o jornal Népszava.

A página de convocatória tinha 15 mil interessados e 3.800 presenças confirmadas, mas transmissões ao vivo pela internet e vídeos em redes sociais pareciam indicar um número maior de participantes. Iniciada às 18h (horário local, 13h no Brasil), a manifestação terminou quatro horas depois, ao lado do palácio do governo – cujo acesso foi bloqueado por policiais.

Nos discursos, o deputado independente de oposição Ákos Hadházy afirmou que, apesar da adesão, o protesto não será suficiente para conquistar liberdade de imprensa: “Acordaremos amanhã com o governo pressionando a imprensa livre. Precisamos de pressão constante”.

O líder do Momentum, András Fekete-Gyor, disse que a equipe do Índex tinha sido exemplar ao pedir demissão: “Juraram seguir as regras de uma profissão e, quando não puderam cumpri-las, saíram apesar de por em risco sua segurança existencial”.

Para o vice-diretor do International Press Institute, Scott Griffen, a crise do Index reflete “um golpe devastador para o jornalismo na Hungria”.

“Não estamos falando de nenhuma outra tomada independente. O Index é [era] o maior portal de notícias da Hungria, com cerca de 1 milhão de usuários diários, responsável por quase metade de todas as visualizações de página entre mídias independentes”, escreveu, em análise sobre a pressão contra a mídia no país.

Assim como outros críticos internos de Viktor Orbán, o IPI afirma que a estratégia do governo para reprimir jornalistas não é de confronto direto, mas de asfixia: “Não há jornalistas presos, nem dramáticas buscas nas Redações, nem processos criminais; a violência física contra a imprensa é rara. Em vez disso, Viktor Orbán tomou uma rota muito mais calculada e subreptícia para controlar o fluxo de informações”.

Meios de comunicação independentes têm visto suas receitas caírem pela pressão do governo sobre anunciantes e, uma vez enfraquecidos, têm sido comprados por empresários próximos ao governo.

Os novos donos dão “o golpe final da morte”, segundo Griffen, demitindo os editores e enterrando a independência editorial. Sobram “cascas vazias” que são fechadas, como um dos principais jornais do país, o Népszabadság, que deixou de circular em 2016, ou transformadas em veículos de propaganda pró-Orbán, como um dos sites antes mais críticos ao governo, o Origo.

Entre os veículos que divulgaram a crise no Index estão sites independentes, como 24.hu, 444, Hvg, 168 horas e Magyar Hang, nos quais trabalham hoje muitos dos jornalistas que integravam Redações fechadas ou reorientadas por novos proprietários.

No Index, as reações não atingiram apenas os jornalistas. Segundo a imprensa húngara, o principal-executivo do site e membros do conselho de administração também anunciaram que deixariam a companhia se houver demissão coletiva da Redação.

O conselho de diretores da proprietária do site e seu novo dono, o empresário Miklós Vaszily, negaram tentativas de interferir na independência editorial, mas sites independentes publicaram fotos de um encontro nesta quinta entre Vaszily e uma das principais assessoras de Orbán e porta-voz de seu governo, Mária Schmidt.

A assessora também negou interferência na crise do Index: “Se tivesse algo para manter em segredo, faria encontro em um lugar público?”, disse aos veículos húngaros.

 

(*) Com informações da Folhapress