Manaus, 24 de abril de 2024
×
Manaus, 24 de abril de 2024

Cenário

Serafim recebeu convite para ser ‘o candidato do Lula no Amazonas’, mas pondera: ‘é um fardo muito pesado’

Ex-prefeito de Manaus afirma em entrevista exclusiva que Bolsonaro não fez nada por Manaus.

Serafim recebeu convite para ser ‘o candidato do Lula no Amazonas’, mas pondera: ‘é um fardo muito pesado’

Foto: reprodução/ rede social

Economista, advogado e pré-candidato à reeleição pelo PSB, partido do qual também é presidente estadual, o ex-vereador, ex-secretário e ex-prefeito de Manaus, Serafim Corrêa, afirmou ao Portal AM1 que ainda tem muito a contribuir na Assembleia Legislativa do Amazonas (Aleam). O parlamentar é conhecido por defender pautas relacionadas à economia, como o modelo econômico Zona Franca de Manaus, além da educação e outras bandeiras.

Para ele, sem a ZFM o povo amazonense não é ‘absolutamente nada’ e frisou que não se cria um outro modelo econômico ‘do dia para a noite’.

AM1: O senhor é pré-candidato à reeleição ou algum outro cargo nas eleições deste ano?

Serafim: Eu sou candidato à reeleição. Entendo que a minha contribuição é importante, depois de ter sido vereador por dois mandatos, ter sido prefeito de Manaus, que foi uma grande honra. Sou candidato à reeleição porque entendo que é aqui na Assembleia (Legislativa do Amazonas) que eu posso dar o melhor de mim, a melhor contribuição.

AM1: O deputado é economista e tem defendido diversas pautas desse segmento. Principalmente quando políticas públicas e decisões afetam diretamente a população. Comente:

Serafim: Na economia nós só temos um modelo que deu certo na Amazônia nos últimos sessenta anos, que é a Zona Franca de Manaus. É um modelo exitoso, muitas vezes não compreendido, inclusive, por pessoas de Manaus, que não entendem e não viveram aquela época dos anos de 1960 e as razões pelas quais a Zona Franca foi criada.

Sem a Zona Franca o quê que nós somos? Não somos nada, absolutamente nada. Essa conversa de que vamos criar outro modelo econômico (sic), não se cria um modelo econômico do dia para a noite. A Zona Franca levou cinqüenta anos para ser consolidada e agora, querer dizer que vai para a mineração. A mineração não vai gerar 100 mil empregos diretos; vai para o turismo? A receita do turismo no Brasil é menor que a receita da Zona Franca de Manaus, então não é assim.

Nós precisamos agregar outras atividades econômicas, só que isso precisa de investimento e do Governo Federal. E o único investimento que o Governo Federal fez nesses últimos três anos e meio foi uma ponte de madeira em São Gabriel a Cachoeira, que custou R$ 700 mil e gastaram R$ 2 milhões para inaugurar.

AM1: Serafim Corrêa é considerado um deputado independente? Fale um pouco sobre seu posicionamento hoje na Assembleia:

Serafim: Eu voto a favor de tudo aqui que eu entender que está em favor da população e divirjo daquilo que eu entendo que não vá nessa direção.

No início do Governo ocorreram muitos desencontros, o Governo tinha uma divisão interna, tinha dificuldades de visão do mundo e diria que a partir do final do segundo ano de Governo as coisas começaram a se encaixar, o governador assumiu o protagonismo dele e diria que melhorou muito. E hoje, preponderantemente eu tenho votado nas matérias do Governo que são favoráveis à população. Quando vem uma matéria que eu discordo, eu voto contra, de frente e dizendo o porquê que voto contra.

AM1: Em 2020 o senhor afirmou que a relação da Aleam com o Governo havia sido ruim em 2019 e pediu mais diálogo. Como o senhor vê essa relação hoje?

Serafim: Sim, esse período foi muito ruim. Eu diria que hoje se tem uma boa relação, relação de respeito, cada um respeitando o seu espaço. Naquele período, em 2019, havia muita beligerância (característica do que causa ou está numa guerra), que foi ruim para todo mundo, Assembleia, Governo.

Serafim chama atuação do MP contra David Almeida de ‘virulência’: ‘prisão é o último ato’
Foto: Divulgação

AM1: O senhor fez parte da CPI da Saúde na Aleam. Conte-nos um pouco dessa experiência:

Serafim: Toda CPI tem objetivos muitos claros. Os objetivos da CPI da Saúde eram identificar àqueles problemas, que nós identificamos, relatamos os problemas e eu gostaria imensamente que os órgãos de controle: Ministério Público Estadual, Tribunal de Contas do Estado se manifestassem a respeito dos dois exemplares de relatórios entregues a eles, que passado tanto tempo, eles não tomaram as iniciativas que se esperavam que fossem tomadas.

Que não fossem nem para punir, mas para mudar os hábitos e costumes. Em dez anos foram pagos R$ 5 bilhões de pagamentos indenizatórios, ou seja, R$ 500 milhões por ano e esse hábito não mudou, ele continua sendo feito pela administração pública de modo geral e isso é muito ruim.

AM1: Como o senhor vê o cenário político atual no Amazonas e no Brasil?

Serafim: Falando sobre o Brasil, acho que polarizou. Vejo com bons olhos a entrada na Simone Tebet (pré-candidata à Presidência da República pelo MDB) na disputa, mas não sei se há tempo para ela furar a bolha. As duas bolhas estão polarizadas, não sei se ela terá capacidade de furar uma, a outra ou de furar as duas, vamos aguardar.

O meu partido tem uma posição muito clara. O nosso candidato à presidência da República é o Luiz Inácio Lula da Silva, nós indicamos o vice, que é o ex-governador de São Paulo por quatro vezes, o Geraldo Alckmin.

A nível local, temos três forças se degladiando, mas não estou vendo link, por enquanto, entre a eleição nacional e a eleição estadual, que é a candidatura do governador Wilson Lima (UB), mas que apoia Bolsonaro (Jair), tem a candidatura do Amazonino (Mendes) que na ordem natural das coisas deve apoiar a Simone Tebet e tem a candidatura do Eduardo (Braga), que sendo ele do MDB deverá ficar também com a Simone Tebet.

O quê que se vê? É que não tem candidatura apoiando o ex-presidente Lula, no entendo, ele é maior do que tudo isso. No interior nem os bolsonaristas falam mal do Lula e por quê? Por que é ‘80 a 20′. O que o Lula fez pelo interior do Amazonas, principalmente com o ‘Luz para Todos’, é algo que mudou a vida das pessoas, comunidades que nunca tinham assistido a Copa do Mundo, assistiram. Então são coisas que marcaram a vida do povo do interior.

Manaus estranhamente é uma capital bolsonarista, tem muita gente que apoia o Bolsonaro, apesar dele não ter feito nada por Manaus, pelo Amazonas. Ao contrário do Lula, por exemplo, todas as grandes obras relevantes em Manaus nos últimos cinqüenta anos, têm a marca do governo Lula, o estádio é um exemplo, as pessoas falam mal do estádio, mas no dia que tem jogo nacional ou internacional as pessoas vão ao estádio; a ponte, as pessoas falam mal dela, mas vivem atravessando para Iranduba, Manacapuru, saindo no final de semana; as pessoas não falam mal da água, nem liga para isso, mas o problema da água foi resolvido no governo Lula; o Prosamim foi o governo Lula, Então para onde você olha aqui no estado tem a marca do Lula.

E eu creio que vai ser muito fácil para o Lula virar o jogo em Manaus, porque basta ele chegar aqui e dizer o seguinte: ‘Ponte Rio Negro, teve dinheiro do Governo Federal na minha época e qual é a outra ponte para comparar com essa? A ponte de São Gabriel da Cachoeira de Madeira?’. Não vai dar. Então eu creio que o tempo vai mostrar que ele foi um bom presidente e será um presidente melhor ainda.

Serafim repudia nova ameaça contra indústrias do AM: 'tiro no coração da ZFM'
Foto: Danilo Mello/Aleam

AM1: Sobre o ‘link’ que o senhor falou que falta entre um pré-candidato ao Governo do Amazonas e a pré-candidatura do ex-presidente Lula. O pré-candidato ao Governo do Amazonas, Marcelo Amil afirmou alguns dias atrás, que tem o apoio do Lula à sua campanha no estado. Qual a sua opinião?

Serafim: Não vou fazer críticas e nem elogios a pessoas para não gerar nenhum constrangimento. O PSOL compõe a aliança do Lula, então, eles vão sentar à mesa. A questão dos apoios estaduais será definida na mesa nacional, mas à frente. Eu tenho o maior carinho pelo Marcelo, mas eu peço que ele tenha paciência, tenha calma, isso é uma construção e que será feito não só a nível local, mas a nível nacional.

AM1: Vamos falar agora, um pouco do seu mandato, algumas ações, projetos e defesas importantes:

Serafim: Em primeiro lugar, eu creio que educação é tudo. A defesa do Fundeb (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação), ele é o Fundo mais transparente do Brasil, no entanto, nem os professores sabiam dessa transparência.

A partir de 2017 quando o meu gabinete elaborou uma cartilha, os professores passaram, a saber, e todos os anos têm sobra do Fundeb e há uma cobrança muito grande, não apenas a nível de Governo do Estado, mas a nível de todo o interior e isso me deixa muito alegre

A defesa permanente da Zona Franca, a nova Lei do Gás. Enfim, são bandeiras desse tipo que eu adotei e que mantenho acessa essas chamas para que elas não se apaguem.

E esses são os motivos que e levaram a ser pré-candidato à reeleição, embora tenha havido convites de vários lados para que eu compusesse uma chapa majoritária, mas eu entendo que, respeitando os outros que têm a mesma idade que eu, eu entendo que alguém com 75 anos não deve se arvorar a ser candidato ao Executivo.  É um fardo muito pesado para quem já está nessa faixa etária, respeitando de quem pensa diferente.

AM1: E o senhor pode falar quais foram esses convites, de onde foram esses convites?

Serafim: Não, não. Vieram de várias fontes, de várias direções, no sentido de, por exemplo, que eu fosse o candidato do Lula no Amazonas. Eu ponderei que tenho 75 anos não era mais para eu pegar esse fardo. Interessante foi o contra-arguemento para mim: ‘O Lula tem 76 anos e é candidato a presidente do Brasil’, mas eu disse: ‘O Lula é o Lula, o Serafim é o Serafim’.

Fotos: Marcelo Araújo e arquivo AM1