Manaus, 18 de maio de 2024
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Manaus, 18 de maio de 2024

Política

TRE suspende programas eleitorais com intérprete de Libras acusado de inventar sinais

TRE suspende programas eleitorais com intérprete de Libras acusado de inventar sinais

As propagandas eleitorais que foram ao ar na TV com o intérprete de Libras Cássio Veiga, acusado pela Associação de Surdos de Vitória, Espírito Santo, de inventar sinais, foram suspensas pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE), na sexta-feira (7), até que os partidos apresentem novas peças.

A decisão é da juíza auxiliar do TRE-ES Maria do Céu Pitanga de Andrade.

O problema surgiu após reclamações de telespectadores de que a interpretação de Libras de feita por Cássio nas propagandas eleitorais não batia com o que candidatos falavam.

Cássio foi contratado por pelo menos quatro partidos para traduzir o que os candidatos diziam para as pessoas surdas.

Associação dos Surdos

Segundo a associação, ele usou sinais desconexos, sem contexto, desrespeitando a estrutura gramatical da língua de sinais. Alguns sinais são até mesmo desconhecidos pelos surdos.

O secretário da Associação dos Surdos de Vitória e tradutor e intérprete de Libras, Josué Rego, entende que a decisão do TRE é um marco e uma importante vitória para a comunidade surda e para intérpretes de Libras.

“Vimos toda a comunidade sendo desvalorizada e ridicularizada por uma pessoa que não estava fazendo um trabalho adequado. Esse é o reconhecimento do direito à comunicação dos surdos, que tem esse como importante momento para exercer o voto. Para isso, é necessário que eles entendam a proposta dos candidatos”.

A Advogada da Associação, Vanessa Brasil, explica que essa é uma decisão liminar e já foi encaminhada aos partidos. As propagandas devem ser retiradas do ar até sábado (8), às 12 horas.

Partidos

De acordo com o TRE, os partidos notificados foram o Partido dos Trabalhadores (PT), Partido Socialista Brasileiro (PSB) e o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB).

A reportagem tentou contato com os partidos por e-mail e ligação telefônica, mas, até a publicação da matéria, não obtivemos resposta.

‘Problema de sincronia’

No dia da denúncia, Cássio foi ouvido e reconheceu que houve um problema de sincronia, mas atribuiu a um erro de edição. “O meu ritmo de Libras é diferente. Fiz uma opção de fazer uma interpretação mais prática. Às vezes, o surdo não entende uma metáfora (por exemplo) e tento fazer uma linguagem mais didática”, comentou.

Sobre a alegação de erro de edição, o secretário da associação, Josué Rego, reforçou o problema com o intérprete.

“Existe uma edição onde a tradução ocorre de forma mais rápida, mas, em sua maioria, ele faz completamente errado. Faz muitas omissões e adições que não condizem com a fala. Até quem não entende Libras, percebe que ele é muito desconexo”, diz.

A produtora

Na quarta-feira (5), um dos responsáveis pela equipe contratada pelas coligações para fazer a gravação dos programas eleitorais, João Victor Bona, disse que contratou Cássio porque ele apresentou certificados.

“Foi uma indicação, vi alguns outros trabalhos dele, e ele tinha certificação. A gente confiou, ele mostrou certificado. Quando começaram essas reclamações, entrei em contato com outro intérprete, e ele disse que o trabalho estava mal feito, que algumas coisas não batiam”, explicou.

De acordo com João, a primeira atitude da equipe foi demitir Cássio e providenciar a regravação de todas as interpretações feitas por ele.

Libras

A tradução nos programas eleitorais é uma obrigação prevista na lei. A Língua Brasileira de Sinais foi instituída como segundo idioma oficial do Brasil em 2002. Ela garante que instituições públicas e empresas concessionárias de serviços públicos de assistência à saúde atendam e tratem pessoas com surdez.

*Informações retiradas do G1