Os atrasos diários do Ministério da Saúde na divulgação do número de mortos e de infectados pela covid-19, doença causada pelo novo coronavírus, geraram uma forte reação de entidades de imprensa e especialistas, que temem um “apagão” dos dados.
Na última semana, a atualização tem registrado atrasos que ultrapassam três horas.
Ao mesmo tempo, o país tem registrado recordes de óbitos e adoecimentos.
O Metrópoles apurou com uma fonte da Secretaria- Executiva do Ministério da Saúde que as informações das secretarias estaduais de Saúde são concatenadas até as 19h, quando as planilhas de casos e mortos são finalizadas.
O processo começa por volta das 16h.
A pasta conta ainda com um sistema on-line para a inserção dos casos pelos gestores locais.
Pela regra, a notificação dos casos deve ser inserida no e-SUS Vigilância Epidemiológica (e-SUS VE), a ferramenta de registro de casos suspeitos e confirmados do novo coronavírus.
A principal crítica é que as informações têm sido divulgadas após às 22 horas. Isso impacta na publicidade do panorama.
Neste horário, os principais telejornais já foram exibidos pelas emissoras de TV e o fechamento dos jornais impressos já estão em finalização.
Oficialmente, o Ministério da Saúde não explica a situação.
O único posicionamento é que a pasta tem enfrentado “problemas técnicos”.
Nos bastidores, especula-se que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) — foto em destaque — recomendou a mudança de rumo.
À época da gestão do ex-ministro Luiz Henrique Mandetta, a divulgação ocorria às 17h diariamente com a participação do chefe da pasta.
Depois, sob o comando do oncologista Nelson Teich, a atualização passou a ocorrer às 19h e as entrevistas deixaram de ser diárias.
O atual ministro interino da Saúde, general Eduardo Pazuello, até o momento, ainda não participou de nenhuma entrevista desse tipo.
Críticas
O presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), Paulo Jerônimo, critica a forma como o ministério tem tratado os dados.
“Falta transparência do governo. Isso é extremamente prejudicial e está sendo feito propositalmente. A tentativa de esconder o tamanho da epidemia é um crime contra a população”, criticou.
Paulo cita que a mudança deixa claro o reposicionamento do governo no enfrentamento da pandemia.
“O presidente é contra o isolamento social, única medida que consegue impedir a propagação do vírus, e sempre minimizou a doença. A imprensa, neste momento, é o principal meio para sensibilizar as pessoas”, conclui.
A presidente da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), Maria José Braga, defende a liberdade de informação. Para ela, o governo tem prejudicado o processo informativo.
(*) Com informações do Metrópoles
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